E
cuidado com o bilingüismo. Muitos missionários se contentam em ministrar
através duma língua franca ou nacional, mesmo quando lidando com pessoas que
têm outra língua materna. Creio que
raramente se conseguirá fazer discípulo através de uma segunda língua (quer
dizer, não a língua materna), por mais bilíngüe que o evangelizando pareça ser
(para comprar e vender ou tratar de assuntos corriqueiros ele pode até ser
fluente na língua franca), pois quase sempre a vida espiritual de uma pessoa se
processa na língua materna. Aqui eu poderia relatar vários exemplos dentro da
minha própria experiência e do próprio conhecimento. Quando alguém é tão
bilíngüe que tem praticamente duas línguas maternas (por assim dizer), ou se
chegou até o nível superior (universidade)
numa segunda língua, então essa língua poderá servir--é que aí ele já
conseguiu o domínio de idéias abstratas e filosóficas nessa língua. Mas tais
casos são muito poucos diante dos 350 milhões de pessoas que compõem as 4.000
etnias sem um versículo da Palavra de Deus.
É claro que devemos traçar os planos e as táticas a fim de enfrentar e
resolver o grosso, não as exceções. Cuidado com o bilingüismo!
Conclusão:
Quem for fazer trabalho transcultural deve se esforçar para dominar a língua e
a cultura do povo para o qual for enviado. Se não existe Escritura na língua
ainda, deve fazer por onde providenciá-la. Onde já tem a Bíblia devemos
incentivar o seu uso, por todos os meios. Enfim, devemos ensinar a obedecer
todas as coisas que Jesus ordenou. E nós temos que dar o exemplo, pois para
fazer discípulo é preciso ser discípulo. Vários ministérios e missões têm
preparado material que fornece instruções detalhadas acerca do discipulado.
Qualquer livraria evangélica terá livros sobre o assunto, à disposição do
interessado.
Implicações
Encerrando
este capítulo gostaria de tecer umas rápidas observações sobre algumas
implicações de tudo isso. Primeiro, sua compreensão da ordem e estratégia de
Cristo vai determinar seu procedimento, sua maneira de trabalhar, fatalmente.
Se alguém quer fazer uma barraca de palha, vai seguir um procedimento e
utilizar material apropriado para tal. Se outrem quer edificar um prédio de
vinte andares, aí o procedimento e o material vão ser bem diferentes. É
evidente que nem todo mundo tem condições de construir um prédio de vinte
andares--requer preparo adequado. Similarmente, nem todo obreiro tem condições
de alimentar as ovelhas. Muitos não sabem estudar, não sabem como analisar e
interpretar o Texto Sagrado. Não sabem preparar comida para ovelha--falta
preparo. (Comida para bode qualquer um faz; bode come quase tudo.) Quando um
pastor trabalha oito horas por dia numa atividade secular, será que vai ter tempo
e energia para preparar refeições boas? Parece-me ser uma questão que merece
ser estudada. Se vamos levar a sério a estratégia de fazer discípulos poderemos
enfrentar a necessidade de fazer algumas modificações nas nossas vidas. Fazer
discípulo é uma coisa; meramente ganhar alma é outra.
Por
favor, não me entendam mal! Não estou combatendo o ganhar almas; não sou contra
o evangelismo. É claro que temos de ganhar as almas—ninguém pode crescer sem
nascer! Os problemas aparecem quando ficamos só nisso, quando não criamos
nossos filhos. Também não estou propondo desprezo para com o dom de
evangelista. Se você tem esse dom, graças a Deus! Só gostaria de sugerir que ao
exercitar o dom tenha o cuidado de não deixar um rasto de menor abandonado.
Deve se associar a quem tenha o dom de ensino para que juntos possam fazer um
serviço melhor.
Quando
enfatizamos as 2.000 etnias sem porta-voz de Cristo, ou as 4.000 línguas sem
versículo da Bíblia, não é para sugerir que todos devam ir a outro povo,
absolutamente. Imagino que se todo crente estivesse igualmente disponível na
mão de Deus Ele não mandaria mais do que 10% para outros povos. Primeiro, trabalho transcultural é muito
difícil e nem todos têm capacidade para tanto. Segundo, é preciso que alguém
fique discipulando por aqui. Terceiro,
trabalho transcultural pioneiro exige tempo integral e portanto os obreiros que
enfrentarem esse serviço precisarão de sustento integral--alguém tem que
trabalhar para produzir esse sustento. Nem todos devem ir, mas todos têm obrigação
perante a Grande Comissão de Cristo.
Todos devemos interceder, contribuir, divulgar e incentivar. Tudo que
fazemos deve ser em prol do reino de Cristo aqui na terra.
Já
disse, nem todo mundo deve ser obreiro transcultural, mas todos devem ser discípulos
e fazer discípulos, cada um no lugar e na função que Deus determinar. Entendo
que Jesus quer seus discípulos atuando em todas as áreas e profissões honestas
da nossa sociedade--sendo discípulo e fazendo discípulo. Qualquer um pode
vestir a fachada de "santinho" aos domingos, na igreja, mas refletir
adequadamente o caráter de Deus no "batente" durante os dias úteis,
aí a coisa muda de aspecto. A dona de casa faz discípulos dos próprios filhos,
das vizinhas e das crianças delas. Professor e aluno fazem discípulos na
escola. Carpinteiro, motorista, advogado, bancário, comerciante, político,
etc., etc., cada um sendo discípulo e fazendo discípulos no seu ambiente. Penso
que é assim que devemos fazer nosso evangelismo. Em vez de levar bode à igreja
para ser evangelizado, devemos ganhá-lo primeiro e então levar o novel cordeiro
à igreja para ser alimentado e discipulado. Penso que o ministério da Palavra
em nossas igrejas deve girar em torno das ovelhas, não dos bodes.
Resumindo,
a ordem (e estratégia) de Cristo é fazer discípulos, não meramente ganhar
almas. Criança não trabalha; dá trabalho. Aqui termina a exposição do primeiro
quesito colocado no final do capítulo anterior. Por tudo que acabamos de ver,
torno a afirmar que é imprescindível que candidato a missionário seja um
discípulo genuíno de Jesus Cristo. Caso contrário há de fracassar. Mas ainda
mais importante, se possível, é o segundo quesito: tem de saber como conduzir a
guerra espiritual. Senão, vejamos.
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Que o Santo Espirito do Senhor, ilumine o nosso entendimento
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