Ética Pastoral - Teologia 21.01
Matéria: ÉTICA PASTORAL
A
ÉTICA NA FORMAÇÃO PASTORAL
A
batalha pelo ser humano, nesta era pós cristã, dar-se-á no campo da ética. Não
só porque o que está em pauta é a questão das finalidades, mas, também, porque
é único campo onde as forças pró ser humano podem travá-la. A globalização já
decidiu o rumo da vida humana nos campos econômicos e sociais, a sociedade já
está estruturada de modo irreversível, independente das forças que assumam o
poder nas nações, pois, o que está em curso é supra-nacional. Resta, portanto,
o campo da ética.
Julio Santa Ana, in Tempo e Presença, n# 295 em seu artigo "Ética, cinco
anos depois...",nos dá um quadro sobre a questão ética nos relacionamentos
internacionais: 1- o crescimento da economia mundial e o desenvolvimento
tecnológico já permitiria a diminuição da carga horária para os trabalhadores,
permitindo mehor desfrute do progresso, os empresários, entretanto, optaram
pela despensa de funcionários e, mais que isso, pela exclusão do mercado de
toda uma massa de trabalhadores ; 2- no plano geopolítico, os Estados Unidos da
América, dada sua inquestionável superioridade bélica, tornaram-se o xerife do mundo:
estão em condições de intervir em qualquer conflito mundial, garantindo, assim,
um clima de paz, porém, só o fazem de acordo com os seus interesses
particulares; 3- a cultura que está sendo disseminada é a mass media, a cultura
da classe dominante mundial - sobreviverá o movimento cultural que se adaptar,
que se inserir.
Regis de Morais, in Tempo e Presença, n# 295 no escrito "Retomar a ética à
luz de nosso tempo", reitera que a batalha a ser travada é ética: "a
proscrita de grande parte do século XX - a ética - voltou agindo discretamente.
Discreta, mas eficientemente." diz ele. Insiste que esse é o caminho da
esperança: "Nenhuma hora é hora de desistir. Sempre repito que nós podemos
ter tentado muitas alternativas, mas, com certeza não tentamos todas."
Descreve, em relação ao Brasil, um quadro positivo, que passa pela deposição de
um presidente da república, pelo fortalecimento sindical, pela indignação
frente ao desmando político, pela reação frente a absurdos como as chacinas e
atos estúpidos como o assassinato de Galdino: o índio patachó. Declara que essa
batalha tem uma nova e decisiva frente: a questão das drogas. Por quê declara
que tudo isso é questão ética? Porque ética - ethos, em grego - designa a
morada do homem, não é algo pronto, porém, é a busca de construir um abrigo
permanente onde o homem se realize plenamente - ambiente que faça jus ao termo
humano. Esta batalha encerra a busca de soluções estruturais e de conversões
pessoais.
Luiz Alberto Gómez de Souza, in Tempo e Presença, n# 295 em "O legado de
Betinho: a ética na política" chama-nos a atenção para o grande soldado
pela ética surgido em solo pátrio, Betinho, mostrando como a opção deste pela
sociedade, num projeto suprapartidário despertou a nação para a consciência da
possibilidade de construir uma sociedade iqualitária, participativa, livre,
diversa e solidária a partir da adoção de uma ética que estabelece o sentido do
público como a busca do bem de todos e subordina o direito de alguns aos
direitos da maioria. Deixou claro que esse é um caminho longo, que tem de ser
percorrido com liberdade, principalmente, em relação às amarras que impõe
formas restritas de encaminhamento da coisa pública, como os partidos
políticos, numa consciência de que política é um exercício de vida que se
baseia na crença de que a sociedade não está presa às garras de nenhum tipo de
fatalismo, o que torna possível sonhar com transformações sociais profundas.
Manfredo Araújo de Oliveira, in Tempo e Presença n# 295 no texto "Os
dilemas éticos de uma economia de mercado" - afirma que "desemprego
estrutural, crise ecológica e nova problemática da relação norte-sul são
problemas extremamente sérios que revelam com toda a clareza, a dramaticidade
dos dilemas éticos de uma economia de mercado capitalista. Se não formos
capazes de entrentar esses dilemas, talvez a sobrevivência do ser humano em
nosso planeta se torne impossível." Isto porque desde Hobbes, a economia
de mercado passou a ser considerada um sistema neutro de produção de riqueza
onde a justa distribuição desta não está em pauta. Essa lógica
cruel gerou um nível de desigualdade social insuportável, fragilizou as
economias emergentes, como, estarrecidos, estamos assistindo, comprometeu o
ecosistema. Estamos frente a um dilema básico: "a relação entre eficiência
e justiça: uma batalha ética.
Todas essas contribuições nos remetem para a necessidade da ética na formação
pastoral, pois, como agente propagador e construtor do Reino de Deus, o pastor
é, eminentemente, um propalador da ética, ou, talvez, devessemos dizer de
éticas. O Reino de Deus se propõe a ser a casa do homem onde o humano se
concretiza. José Adriano Filho, em seu texto: "Denúncia dos causadores da
ruína do povo" (Tempo e Presença n# 295) chama atenção para o fato de que
o movimento profético dos séculos VIII e VII A.C. caracterizou-se,
marcadamente, por essa pregação ética levada a efeito por meio da denúncia que,
evocando o pacto, fazia lembrar a nação que o Deus da Bíblia é o Deus dos e pró
pequeninos. Além da denúncia, o pastor deve compreender que o pastorado, mais
do que o cuidado pastoral da ovelha, enquanto indivíduo, tem de se caracterizar
pela construção de modelos comunitários que exemplifiquem o que deve ser a casa
do homem, isto é, que sejam paradigmas éticos. "Não se pode esconder uma
cidade edificada sobre o monte" (mt 5.14), disse Jesus. O mesmo que,
reiteradas vezes, pronunciou: "eu, porém, vos digo" numa campanha
pela compreensão da ética proposta por Deus.
O pastor precisa aprender que atuação da igreja passa pela proposição de
caminho que oriente o ser humano em seu devir pessoal e social. Que soberania
divina, eleição, predestinação não têm nada a ver com fatalismo ou
determinismo. O ser humano é co-agente da história, por isso será julgado. O
homem é responsável. É preciso compreender o papel da graça comum, que torna a
vida e o progresso possíveis enquanto se desenrola a história da salvação.
Ainda que a perfeição não seja passível de ser alcançada, a melhoria, o
aprimoramento social o é. A salvação tem de ser apreendida em seu papel social,
pois salvação é sempre para e não apenas por.
A ética tem de ocupar papel preponderante na formação pastoral, além do exposto, por ser categoria teleológica, ou seja, por fazer parte do capítulo que trata das finalidades. Por quê e para o que somos. E esta é a matéria prima da teologia, esta só existe na forma que a conhecemos porque o ser humano perdeu a capacidade de responder essa questão. É claro, portanto, que o ministério pastoral é pró-ética, uma vez que não faria sentido falar de conversão se não houvesse para onde ir, ou melhor para onde voltar. É claro, também, que isso afeta o todo humano: o indivíduo, a sociedade, a política, a economia, a cidade, o campo - todos os componentes do ethos, da casa humana.
Que o Santo Espirito do Senhor, ilumine o nosso entendimento
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