História De Israel – Teologia 31.56
CAPÍTULO 9
CRUELDADE E MORTE DE ABIMELEQUE, BASTARDO DE GIDEÃO.
OS AMONITAS E OSFILISTEUS SUBJUGAM OS ISRAELITAS. JEJTÉ
LIBERTA-OS E
CASTIGA A TRIBO DE EFRAIM. IBSÃ, ELOM EABDOM GOVERNAM
SUCESSIVAMENTE O POVO DE ISRAEL DEPOIS DA MORTE DE JEFTÉ.
205. juizes 9. Gideão teve de diversas mulheres setenta
filhos legítimos, e de Druma, um bastardo chamado Abimeleque. Este, depois da
morte do pai, foi para Siquém, de onde era a sua mãe. Os parentes deram-lhe
dinheiro, e ele o empregou para reunir os piores homens que pôde encontrar.
Depois voltou com essa tropa à casa de seu pai, matou todos os irmãos, exceto
Jotão, que escapou, e usurpou o poder. Calcando aos pés todas as leis, governou
com tal tirania que se tornou odioso e insuportável aos homens de bem. Um dia,
quando se celebrava em Siquém uma festa solene, onde estava reunida uma grande
multidão, Jotão falou tão alto, do monte Cerizim, o qual está perto da cidade,
que todo o povo o ouviu e calou-se para escutá-lo.
Ele pediu-lhes que prestassem atenção e falou: "Um dia
reuniram-se as árvores e, falando como os homens, pediram à figueira que fosse
o seu rei, mas esta recusou-se, dizendo que se contentava com a honra que lhe
faziam em consideração à bondade de seus frutos e nada mais desejava. Fizeram a
mesma proposta à vinha: ela também se recusou. Então fizeram a oferta à
oliveira, que não manifestou menos modéstia que as outras. Por fim, falaram com
a sarça, cuja madeira é boa somente para se queimar, e ela respondeu: 'Se é
para vosso bem que me quereis para vosso rei, descansai sobre os meus ombros.
Mas se é por zombaria e para me enganar, que fogo saia de mim e vos destrua a
todas'. Não vos narro isto como uma história, para vos divertir, e sim porque,
sendo devedores de tantos benefícios a Gideão, tolerais que Abimeleque, cujo
caráter é semelhante ao fogo, se tenha tornado vosso tirano depois de ter
assassinado cruelmente os próprios irmãos".
Dizendo isso, partiu e ficou escondido durante três anos nos
montes, para evitar o furor de Abimeleque. Algum tempo depois, os habitantes de
Siquém se arrependeram de permitir que se derramasse o sangue dos filhos de
Gideão e expulsaram Abimeleque de sua cidade e da própria tribo. Chegando,
porém, o tempo da vindima, o medo do ressentimento e da vingança de Abimeleque
fazia com que não ousassem sair da cidade. Por essa época, um homem distinto,
chamado Gaal, chegou acompanhado de um grande número de soldados e de seus
parentes, e rogaram-lhe que lhes desse uma escolta para poderem recolher os
frutos. Tendo ele concedido o que pediam, os israelitas, nada mais temendo,
falavam em voz alta e publicamente contra Abimeleque e matavam todos os de seu
partido que lhes caíam nas mãos.
Zebul, que era um dos maiorais da cidade e fora hóspede de
Abimeleque, foi dizer-lhe que Gaal incitava o povo contra ele, Abimeleque.
Aconselhou-o a armar-lhe uma emboscada perto da cidade, aonde prometia levar
Gaal para assim ele poder vingar-se de seu inimigo. Depois ele o faria ficar
novamente de bem com o povo. Abimeleque não deixou de seguir o conselho e nem
Zebul de executar o que lhe havia prometido. Assim, Zebul e Gaal dirigiram-se
para fora da cidade.
Gaal, que de nada desconfiava, ficou muito admirado ao ver
soldados armados encaminhando-se para ele e disse a Zebul: "Eis ali os
inimigos, que marcham contra nós!" "São sombras dos rochedos",
disse Zebul. "De modo nenhum!" replicou Gaal, que os via agora mais
de perto. "São certamente soldados armados". Disse Zebul: "Vós,
que censuráveis Abimeleque por sua covardia, o que vos impede agora de mostrar
a vossa coragem e combater contra ele?" Gaal, muito perturbado, sustentou
o primeiro ataque e, depois de perder alguns dos seus, retirou-se com o resto
para a cidade.
Zebul então acusou-o de demonstrar pouca coragem naquele
encontro, e por esse motivo o despediram. Os habitantes, porém, continuaram a
sair para terminar a vindima. Abimeleque armou uma cilada perto da cidade, com
a terça parte de seus homens, ordenando que se apoderassem das portas para
impedir que eles pudessem regressar. Então ele, com o resto de seus soldados,
atacou os que se achavam esparsos pelos campos e tornou-se senhor da cidade.
Arrasou-a em seguida até os alicerces e nela semeou sal.
Os que se salvaram reuniram-se e ocuparam uma rocha, cuja
posição a tornava muito forte, e preparavam-se para rodeá-la de muralhas. Mas
Abimeleque não lhes deu oportunidade e foi contra eles com todos os seus
soldados. Apanhando feixes secos, ordenou a todos os seus homens que fizessem o
mesmo. Depois de ter num instante amontoado em torno da rocha uma grande pilha
de lenha, lançou por cima desta ainda outras matérias inflamáveis e ateou-lhe
fogo, de sorte que nenhum dos que lá se refugiavam conseguiu escapar: mil e
quinhentos homens morreram queimados com as suas mulheres e filhos. Eis como
Siquém foi destruída. Os seus habitantes até seriam dignos de compaixão, mas
mereceram tal castigo pela ingratidão demonstrada para com o homem de quem
haviam recebido tantos benefícios.
O tratamento dispensado a essa desafortunada cidade lançou
grande temor no espírito dos israelitas. Eles estavam certos de que Abimeleque
levaria adiante a sua boa sorte e diziam que a sua ambição não ficaria
satisfeita enquanto não os dominasse a todos. Ele marchou sem perder tempo para
a cidade de Tebas, tomou-a de assalto e cercou uma grande torre na qual o povo
se recolhera. Mas quando avançava para a porta, uma mulher atirou um pedaço de
mó de moinho, que o atingiu na cabeça e o fez cair. Ele percebeu que estava
ferido de morte e ordenou ao seu escudeiro que o matasse, para não ter a
vergonha de morrer pelas mãos de uma mulher. Foi obedecido, e assim, segundo o
vaticínio de Jotão, ele recebeu o castigo pela sua impiedade para com os irmãos
e pela crueldade para com os habitantes de Siquém. O seu exército dissolveu-se
depois de sua morte.
206. Juizes 10. Jair, gileadita da tribo de Manasses,
governou em seguida todo o povo de Israel. Era feliz em tudo, particularmente
quanto aos filhos: teve trinta, todos corajosos e homens de bem que ocupavam as
primeiras colocações na província de Gileade. Depois de ficar vinte e dois anos
nesse importante cargo, morreu e foi sepultado com muita honra em Camom, uma
das cidades desse país.
207. O desprezo então
demonstrado pelos israelitas para com a lei de Deus lançou-os num estado ainda
mais infeliz que o de onde haviam saído. Os amonitas e os filisteus entraram em
seu país com um poderoso exército, devastaram-no completamente e tornaram-se
senhores dos países situados para lá do Jordão. Depois intentaram passar o rio
e conquistar também todos os outros. Os israelitas, mais prudentes pelo castigo
recebido, recorreram a Deus e imploraram o seu auxílio. Ofereceram-lhe
sacrifícios e rogaram que, se Ele não queria acalmar to-talmente a sua cólera,
pelo menos a diminuísse. Deus deixou-se comover pelas orações e prometeu-lhes
auxílio.
Assim, marcharam contra os amonitas, que haviam entrado na
província de Gileade. E, como lhes faltava um chefe e Jefté gozava de grande
fama, tanto por causa do valor de seu pai quanto por manter ele mesmo um
importante corpo de soldados, mandaram pedir-lhe que os comandasse, prometendo-lhe
não ter jamais outro general senão ele, enquanto vivesse. Em princípio, ele
recusou o oferecimento, porque não o haviam ajudado contra os seus irmãos,
quando estes o trataram indignamente, expulsando-o de casa depois da morte do
pai, com o pretexto de que a mãe dele era estrangeira, e ele a desposara por
amor. Foi para se vingar dessa injúria que depois de se retirar para Gileade
ele tinha por sua conta os soldados que queriam servi-lo. Porém, não podendo
resistir às insistentes petições dos israelitas, reuniu os seus homens aos
deles, e fizeram juramento de obedecer-lhe como seu general.
Depois de calcular com muita prudência tudo o que era
necessário e após levar o seu exército para a cidade de Mispa, mandou
embaixadores ao rei dos amonitas para queixar-se de que ele havia entrado em um
país que não lhe pertencia. O soberano respondeu, por meio de outros
embaixadores, que era ele quem tinha motivo para se queixar dos israelitas,
porque depois de terem saído do Egito eles haviam usurpado o país de seus
antepassados, legítimos senhores daquela terra. Jefté respondeu-lhes que o
senhor deles não podia achar estranho nem que os israelitas possuíssem as
terras dos amorreus; que, ao contrário, devia agradecer por elas lhe terem sido
deixadas, estando em poder de Moisés conquistá-las; que não estavam dispostos a
lhe deixar um país que haviam ocupado depois de uma ordem recebida de Deus e
que possuíam há trezentos anos; e que assim só lhes restava resolver o litígio
pelas armas.
Jefté, após despedir os embaixadores dessa maneira, fez voto
a Deus: se Ele lhe desse a vitória, sacrificar-lhe-ia a primeira criatura viva
que encontrasse no seu regresso. Travou-se a luta, e ele venceu os inimigos,
perseguindo-os até a cidade de Maniate. Entrou no paí$ dos amonitas, tomou e
arrasou várias cidades, cujos despojos distribuiu aos soldados, e assim
gloriosamente libertou a sua nação da servidão a que estivera sujeita durante
dezoito anos.
Porém, tanto quanto fora feliz nessa guerra e merecera as
honras que recebeu da gratidão pública, foi ele infeliz em sua vida particular.
Pois a primeira pessoa que encontrou ao voltar para casa foi a sua única filha,
ainda virgem, que vinha ao seu encontro. Ele sentiu o coração partir-se de dor.
Soltou um profundo suspiro, lastimou a tão funesta prova de afeto que ela lhe
dava e disse-lhe que, por que infeliz coincidência, ela seria a vítima que ele
se obrigara a oferecer a Deus.
Aquela generosa moça, em vez de se espantar com essas
palavras, respondeu-lhe com maravilhosa firmeza que uma morte que tinha por
motivo a vitória de seu pai e a liberdade de seu país só lhe poderia ser muito
agradável e que a única graça que pedia era o tempo de dois meses, para se
lamentar com as suas companheiras por ter de se separar delas ainda muito jovem.
O infeliz pai não teve dificuldade em lhe conceder esse pequeno favor e, depois
desse tempo, sacrificou a vítima inocente, que Deus não desejava dele e que
nenhuma lei obrigava a oferecer-lhe. Mas ele quis cumprir o seu voto, sem
considerar o juízo que os homens poderiam fazer de sua ação.
208. juizes 12. A
tribo de Efraim declarou-lhe guerra pouco depois, sob o pretexto de que, para
obter sozinho a glória de ter derrotado e se aproveitado dos desejos dos
inimigos, ele empreendera a peleja sem eles. Primeiro ele lhes respondeu, com
muita doçura, que era ele quem se devia queixar, pois eles, tendo visto os
compatriotas empenhados em tão grande guerra, lhes recusaram o auxílio que
tinham por obrigação oferecer. Censurou-os em seguida porque, não tendo se atrevido
a lutar contra um inimigo comum, agora achavam de se apresentar corajosos
contra os próprios irmãos. Por fim, ameaçou castigá-los, com o auxílio de Deus,
se persistissem naquela loucura.
Quando ele viu que não se acalmavam com essas razões, mas
avançavam com um grande exército que haviam recrutado de Gileade, marchou
contra eles, atacou-os e os venceu. Colocou-os em fuga, mandou tropas para
controlar as passagens do Jordão, pelas quais eles poderiam escapar, e matou
uns quarenta e dois mil deles. Esse generoso chefe dos israelitas morreu depois
de desempenhar por seis anos tão elevado cargo. Foi enterrado na cidade de
Sebei, na província de Gileade, onde ele nascera.
209. Ibsã, da cidade de Belém, na tribo de judá, sucedeu
Jefté no governo supremo e desempenhou durante sete anos esse cargo, sem nada
ter feito de memorável.
210. Elom, da tribo
de Zebulom, sucedeu-o e, no que é digno de memória, durante os seis anos em que
esteve no governo não fez mais que Ibsã.
211. Abdom, filho de
Hilel, da tribo de Efraim, sucedeu Elom, e os israelitas desfrutaram durante o
seu governo de tão profunda paz que ele não teve oportunidade para fazer algo
memorável. Assim, a única coisa extraordinária que se pode notar em sua vida é
que, ao morrer, ele deixou quarenta filhos e trinta filhos de seus filhos,
todos vivos, perfeitos e habilmente capazes. Morreu muito velho e foi enterrado
com grande magnificência no lugar onde havia nascido.
Que o Santo Espirito do Senhor, ilumine
o nosso entendimento
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