História De Israel – Teologia 31.73
CAPÍTULO 14
DAVI DERROTA OS FILISTEUS. SUA FAMA AUMENTA A INVEJA DE
SAUL. ESTE ATIRA-LHE UM DARDO PARA MATÁ-LO. MICAL, MULHER DE DAVI, AJUDA-O A
ESCAPAR. DAVI VAI TER COM SAMUEL. SAUL PERSEGUE DAVI PARA MATÁ-LO E PERDE
INTEIRAMENTE O JUÍZO DURANTE VINTE E QUATRO HORAS. JÔNATAS CONTRAI MAIS
ESTREITA AMIZADE COM DAVI E FALA EM SEU FAVOR A SAUL, QUE TENTA MATAR O FILHO.
ELE AVISA DAVI, QUE FOGE PARA GATE, CIDADE DOS FILISTEUS, E RECEBE DE PASSAGEM
AUXÍLIO DE ABIMELEQUE, SUMO SACERDOTE.
RECONHECIDO EM GATE, DAVI FINGE-SE DE LOUCO E RETIRA-SE PARA
A TRIBO DE JUDÁ, ONDE REÚNE QUATROCENTOS HOMENS. VAI TER COM O REI DOS MOABITAS
E VOLTA DEPOIS ÀQUELA TRIBO. SAUL MANDA MATAR ABIMELEQUE E TODA A SUA
DESCENDÊNCIA SACERDOTAL, DA QUAL SOMENTE ABIATAR SE SALVA. SAUL TENTA DIVERSAS
VEZES E INUTILMENTE APANHAR E MATAR DAVI, O QUAL TEM OPORTUNIDADE DE MATAR SAUL
NUMA CAVERNA E DEPOIS NO PRÓPRIO ACAMPAMENTO, MAS SE CONTENTA EM LHE DAR PROVAS
DE QUE PODERIA TÊ-LO FEITO. MORTE DE SAMUEL. RAZÃO POR QUE DAVI SE CASA
COMABIGAIL, VIÚVA DE NABAL. DAVI SE ESTABELECE JUNTO DEAQUIS, REI DE
GATE,FILISTEU QUE O INDUZ A SERVIR NA GUERRA CONTRA OS ISRAELITAS.
241. Nesse mesmo tempo, os filisteus recomeçaram a guerra, e
Davi foi mandado com o exército contra eles. Venceu-os, fez grande mortandade
entre eles e voltou vitorioso a Saul. Mas não foi recebido como esperava nem
como merecia o seu grande feito, porque a sua reputação era suspeita ao rei, e
este, em vez de se alegrar com a vitória, enxergava apenas perigos e o tolerava
com tristeza. Um dia, quando aqueles acessos com que o demônio o atormentava se
mostravam mais violentos, ele ordenou a Davi que entoasse um cântico e tocasse
harpa. Ele obedeceu, mas Saul, que tinha nas mãos um dardo, atirou-o contra ele
com toda a força, e tê-lo-ia matado se ele não se desviasse do golpe. Fugiu
então Davi para a sua casa e de lá não saiu mais o resto do dia.
Chegando a noite, Saul enviou guardas para cercar a casa, a
fim de que ele não pudesse escapar, porque desejava julgar Davi e condená-lo à
morte. Mical, mulher de Davi, soube de tudo, e, como o seu amor por um marido
de tal mérito tê-la-ia feito preferir a morte à dor de perdê-lo, correu logo a
avisá-lo: "Se o sol ao despertar vos encontrar ainda aqui, não mais vos
tornarei a ver com vida. Fugi, enquanto a noite vo-lo permite. Rogo a Deus de
todo o meu coração que a faça ainda mais longa que de ordinário, para que vos
seja mais favorável, pois o rei resolveu mandar matar-vos e a não diferir mais
esse cruel intento".
Depois de assim falar, ela amarrou uma corda à janela e o
desceu para fora. Arrumou então o seu leito como para um enfermo e pôs deitada
debaixo das cobertas uma estátua. Colocou-lhe na cabeça um tecido de pêlos de
cabra e o cobriu com um manto. Ao despontar do dia, Saul mandou os homens
prenderem Davi. Mical disse-lhe que ele estivera doente durante toda a noite.
Assim, eles não duvidaram de que Davi estivesse enfermo naquele leito. Foram
dizê-lo ao rei, e este ordenou-lhes que o trouxessem de qualquer modo, para o
matar. Voltaram imediatamente, levantaram as cobertas e viram que a princesa os
havia enganado. Saul fez graves censuras à filha por ter salvo um inimigo. Ela
desculpou-se, dizendo que ele ameaçara matá-la se deixasse de ajudá-lo em tal
contingência, e assim fora obrigada a fazê-lo. Não duvidava, porém, de que,
tendo a honra de ser sua filha, o amor de seu pai por ela não era mais forte
que o seu ódio por Davi. Saul, tocado por essas palavras, perdoou-a.
242. Davi, tendo conseguido salvar-se, foi procurar o
profeta Samuel em Rama. Contou-lhe como Saul tentava sempre tirar-lhe a vida e
que por bem pouco quase o matara atirando-lhe um dardo. Disse-lhe que, embora
nunca tivesse feito algo que desagradasse a Saul, mas, ao contrário, com o
auxílio contínuo de Deus, sempre o servira com muito proveito em todas as suas
guerras, o bastante para conquistar-lhe a estima, conseguira apenas
granjear-lhe o ódio e a inveja. Samuel, aborrecido pela injustiças de Saul,
saiu de Rama e levou Davi a Gibeá, onde ele ficou algum tempo em sua companhia.
Logo que Saul o soube, enviou soldados para trazê-lo
prisioneiro. Encontraram Samuel no meio de um grupo de profetas e, cheios do
mesmo espírito, começaram a profetizar com eles. Saul mandou ainda outros com a
mesma ordem, e aconteceu-lhes a mesma coisa. Mandou ainda outros, e eles também
profetizaram. Isso o deixou tão encolerizado que resolveu buscá-lo em pessoa,
mas ainda não se achava próximo de Samuel o suficiente para ser percebido
quando o profeta fez com que ele também profetizasse. E, estando já perto de
Samuel, perdeu completamente o juízo, despiu-se diante dele e de Davi e passou
assim o resto do dia e toda a noite.
243. 1 Samuel 20. Davi foi em seguida procurar Jônatas para
queixar-se de que, apesar de nunca ter dado ao rei motivo para insatisfação,
este continuava a tentar por todos os meios tirar-lhe a vida. Jônatas rogou-lhe
que tirasse aquela idéia da cabeça e não prestasse fé aos que faziam
semelhantes declarações, mas confiasse em sua palavra: o rei, seu pai, não
tinha aquela intenção. Se a tivesse, tê-la-ia comunicado a ele, Jônatas, pois
nada fazia sem falar com ele e assim não deixaria de avisá-lo.
Davi, no entanto, afirmou com juramento que aquilo que se
dizia era verdade. Rogou-lhe que o não pusesse em dúvida e pensasse antes em
salvar-lhe a vida, acreditando no que ele lhe dizia em vez de esperar que a sua
morte lhe causasse tristeza e remorso por não ter nele acreditado. Acrescentou
que ele se devia admirar de que o rei, seu pai, conhecedor da estreita amizade
entre ambos, nada lhe houvesse dito de suas intenções. Essas palavras
persuadiram Jônatas e, muito triste, pediu a Davi que lhe dissesse em que
poderia ajudá-lo.
Respondeu-lhe Davi: "Na certeza de que nada há que eu
não possa esperar de vossa amizade, eis o que me vem à mente. Como amanhã é a
primeira lua e o rei oferece nesse dia um grande banquete, ao qual eu costumava
estar presente, es-perar-vos-ei fora da cidade, se vos aprouver, sem que
ninguém o saiba. Quando o rei perguntar onde eu estou, far-me-eis o favor de
responder-lhe que fui a Belém assistir à festa de minha tribo, depois de vos
ter pedido licença. Se o rei disser, como costumam fazer as boas pessoas:
'Desejo-lhe boa viagem', será sinal de que não nutre má vontade contra mim. Mas
se ele responder de outro modo, será prova do contrário, e far-me-eis o favor
de me avisar. Esse favor, na infelicidade em que me encontro, será digno de
vossa generosidade e da amizade que tão solenemente me prometestes. Se achardes
que não a mereço e julgais que ofendi o rei, não espereis que ele me faça
morrer: antecipai-vos, tirando-me a vida".
Essas últimas palavras partiram o coração de Jônatas. Ele
prometeu a Davi fazer o possível para penetrar os sentimentos do rei, seu pai,
e relatar-lhe fielmente tudo o que pudesse averiguar. Fez ainda mais. Para
dar-lhe maior garantia, levou-o para fora, elevou os olhos para o céu e
confirmou a sua promessa com juramento, proferindo estas palavras: "Tomo
como testemunha da aliança que faço convosco o Deus eterno, que tudo vê, que
está presente em toda parte e que conhece os meus pensamentos antes mesmo que a
minha língua os possa exprimir, de que não deixarei de sondar o espírito do rei
até saber o que ele tem na alma a vosso respeito e vos direi imediatamente tudo
o que souber, de bem ou de mal. Deus sabe com quanta afeição lhe rogo que
continue a vos ajudar, como fez até agora, e com que confiança acredito que Ele
jamais vos abandonará, ainda que meu pai e eu nos tornássemos vossos inimigos.
Lembrai-vos, de vossa parte, deste protesto que vos faço e, se me
sobreviverdes, mostrai o vosso reconhecimento, pelo cuidado que tereis de meus
filhos".
Depois desse juramento, Jônatas disse a Davi que o esperasse
no campo destinado aos exercícios e que não deixaria de ir lá, acompanhado
somente por um pajem logo que tivesse conhecido os sentimentos do rei, seu pai.
Lá chegando, atiraria três flechas contra um alvo. Se os sentimentos do rei lhe
fossem favoráveis, diria ao pajem que fosse buscar as flechas, mas se lhe
fossem contrários não daria essa ordem. De qualquer modo, não importando como
fossem as coisas, faria o possível para impedir que algum mal lhe acontecesse.
Rogava-lhe apenas que se lembrasse, em sua boa sorte, da amizade que ele,
Jônatas, lhe demonstrava e que tivesse afeto pelos seus filhos.
Como Davi não podia duvidar das promessas de Jônatas,
compareceu ao lugar indicado. No dia seguinte, que era lua nova, o rei, depois
de se purificar, segundo o costume, pôs-se à mesa para cear. Jônatas sentou-se
à sua direita, e Abner, general do exército, à esquerda. Saul, percebendo vazio
o lugar de Davi, julgou que ele não se havia purificado e nada disse. No dia
seguinte, porém, não o vendo outra vez, perguntou a Jônatas porque ele não
estivera presente a um banquete tão solene naqueles dois dias. Jônatas
respondeu-lhe que ele fora a Belém assistir à festa de sua tribo, depois de lhe
ter pedido licença, e que ainda o convidara a ir. E acrescentou: "Se vos
aprouver, irei também, pois bem sabeis o quanto o estimo".
Jônatas então percebeu até que ponto chegava o ódio do pai
contra Davi. Pois Saul, não podendo mais dissimulá-lo, ergueu-se em cólera
contra ele, acusando-o de se ter tornado seu inimigo para ser amigo de Davi e
perguntando-lhe se não tinha vergonha de abandonar assim o próprio pai para
conspirar com o homem que lhe devia ser o mais odioso ou de não compreender que
enquanto Davi estivesse vivo ninguém poderia reinar em segurança. Depois de
assim falar, ordenou a Jônatas que o buscasse a fim de que sofresse o castigo
que merecia. Perguntando então o generoso príncipe qual crime cometera Davi,
para merecer a morte, o furor de Saul não se conteve mais nos limites das
simples recriminações: passou às injúrias e das injúrias às ações. Tomou um
dardo para matar o filho, e teria cometido tão horrível crime se os que estavam
presentes não o houvessem impedido.
Assim, Jônatas não teve mais dúvida acerca do que Davi lhe
dissera sobre o ódio mortal de Saul, principalmente depois que a amizade deles
também quase lhe custara a vida. Saiu do banquete sem comer, passou toda a
noite em grande sofrimento e ansiedade por ter sabido daquele modo, correndo
risco de vida, em quão grave perigo vivia o seu amigo. Logo ao alvorecer, sob o
pretexto de dar-se aos exercícios, dirigiu-se ao lugar onde Davi o esperava.
Atirou três flechas e enviou o pajem sem lhe ordenar que as recolhesse, a fim
de poder falar com Davi a sós. Davi lançou-se-lhe aos pés e confessou-se
devedor da própria vida. Jônatas ergueu-o e o beijou. Ficaram depois abraçados
por muito tempo, deplorando a infelicidade daquela separação, que lhes seria
mais dolorosa que a própria morte, e não se podiam afastar um do outro. Por
fim, separaram-se, embora com enorme desgosto e tristeza, não porém sem renovar
ainda uma vez, com juramento, os protestos de sua inviolável amizade.
244. 1 Samuel 21. Davi, para evitar a perseguição de Saul,
foi a Nobe falar com o sumo sacerdote Aimeleque. Este, admirando-se de o ver
sozinho, perguntou-lhe o motivo. Davi respondeu-lhe que iria executar uma ordem
do rei para a qual não precisava de ninguém e que ordenara aos seus homens que
viessem encontrá-lo num lugar determinado. Assim, pediu a Aimeleque tudo o que
necessitava para aquela pequena viagem e algumas armas. Aimeleque satisfez a
sua vontade. Quanto às armas, disse-lhe que não as tinha, exceto a espada de
Golias, que o próprio Davi consagrara a Deus. Ele a ofereceu, e Davi aceitou-a.
Um certo Doegue, porém, sírio de nascimento que cuidava das
mulas de Saul, estava por acaso presente. Dali Davi foi a Gate, uma cidade dos
filisteus, onde o rei Aquis tinha a sua corte. Mas foi reconhecido, e
comunicaram imediatamente ao soberano que aquele hebreu, de nome Davi, que
havia matado tantos filisteus, estava na cidade. Davi veio a sabê-lo e, vendo-se
em tão grave perigo, pensou em fingir-se de louco para escapar. Ele fingiu tão
bem que Aquis se encolerizou com os que o levaram, ordenando que lhe dessem a
liberdade.
245. 1 Samuel 22. Depois de conseguir escapar usando desse
expediente, Davi foi para a tribo de Judá, onde se escondeu numa caverna perto
da cidade de Adulão, avisando disso os seus irmãos. Eles vieram vê-lo com todos
os parentes, e vários outros reuniram-se também a ele, ou por causa do mau
estado de seus negócios ou pelo medo que tinham de Saul. Elevou-se então o seu
número a quatrocentos, e Davi desde então nada mais temeu. Foi ter com o rei
dos moabitas e rogou-lhe que consentisse que ele e todos os que o acompanhavam
ficassem em seu país até que a má sorte passasse. O soberano consentiu-o e
tratou-o muito bem, assim como a todos os seus soldados, durante o tempo em que
ele permaneceu naquelas terras.
Ele só saiu de lá por ordem do profeta Samuel, que lhe
ordenou deixar o deserto para voltar à sua tribo. Davi então ficou na cidade de
Sarim. Saul veio a sabê-lo e também que ele tinha consigo um grande número de
homens armados. Ficou por isso muito perturbado, pois sabia que o valor e o
proceder de Davi tornavam este capaz de tudo. Com tal apreensão, reuniu no
palácio da cidade de Gibeá, que está situada sobre uma colina de nome Arnom,
todos os seus amigos e toda a sua tribo e do trono, acompanhado dos guardas e
oficiais de sua casa, falou-lhes: "Não podendo crer que esquecêsseis os
benefícios com que aumentei a felicidade a que eu mesmo vos elevei, quisera
saber se esperais recebê-los maiores da parte de Davi, pois bem conheço o afeto
que lhe dedicais, o qual o meu próprio filho vos inspirou. Sei que Jônatas e
ele se uniram, sem o meu consentimento, por uma estreita aliança, que
confirmaram com juramento, e que Jônatas auxilia Davi contra mim com todas as
suas posses. Vós ainda não vos deixastes influenciar por isso, mas esperais
tranqüilamente pelo resultado".
Depois das palavras do rei, todos ficaram em silêncio.
Doegue então quebrou-o, dizendo: "Majestade, eu presenciei Davi procurar o
sumo sacerdote Aimeleque em Nobe, que lhe predisse o que devia acontecer,
deu-lhe a espada de Golias e ajudou-o em tudo o que ele necessitava para
continuar a viagem". Saul mandou chamar imediatamente Aimeleque e todos os
seus parentes e disse-lhe: "Que motivos de queixa tendes contra mim, para
receberdes tão bem a Davi, embora ele seja meu inimigo e conspire contra o meu
governo, a ponto de lhe fornecerdes armas e predizerdes o que lhe deverá
acontecer? Acaso ignorais que ele está fugitivo por causa do ódio que me tem e
à casa real?"
Aimeleque não negou ter prestado a Davi o auxílio de que o
acusavam. Mas, para mostrar que não fora tanto em consideração a ele quanto ao
rei, respondeu: "Eu o recebi, majestade, não como vosso inimigo, mas como
um de vossos fiéis servidores, como um dos principais oficiais do vosso
exército e como tendo a honra de ser vosso genro. Poderia eu imaginar que um
homem que vos é devedor de tantos favores pudesse ser vosso inimigo em vez de
alguém dedicado ao vosso serviço? Quanto ao que ele me consultou sobre a
vontade de Deus e ao que lhe respondi, procedi também do mesmo modo. Sobre o
que lhe dei para continuar a viagem, ele me disse que vossa majestade o enviava
em missão muito importante. Assim, julguei que, recusando-o, ofenderia vossa
majestade. Enfim, por pior que pudesse ser o desígnio de Davi, vossa majestade
não se deve persuadir de que eu tenha querido ajudá-lo em prejuízo vosso".
Saul, julgando que Aimeleque falava daquele modo apenas por
medo, não prestou fé alguma às suas justificativas e ordenou que os guardas o
matassem, bem como a todos os seus parentes. Como eles recusassem cometer tal
sacrilégio, porque a lei de Deus não permitia tal obediência, o rei deu esse
encargo àquele miserável Doegue. Este, juntamente com alguns celerados
semelhantes a ele, massacrou Aimeleque e todos os de sua família, e o número
total foi de trezentas e oitenta e cinco pessoas. Porque o horrível furor de
Saul ainda não estava satisfeito. E enviou esses mesmos ímpios a Nobe, que era
a moradia dos sumos sacerdotes e dos outros ministros da lei de Deus, onde
mataram todos os que encontraram, sem poupar nem mesmo as mulheres e as
crianças, e puseram fogo à cidade. Abiatar, um dos filhos de Aimeleque, foi o
único a escapar de tão terrível crueldade. Essa infame matança realizou o que
Deus revelara ao sumo sacerdote Eli, isto é, que a sua posteridade seria
destruída por causa de seus dois filhos.
Essa detestável ação de Saul, que pela mais horrível das impiedades
não receou derramar o sangue de toda a casta sacerdotal, sem mesmo poupar os
velhos e as crianças, nem temeu reduzir a cinzas uma cidade que o próprio Deus
escolhera para ser a moradia de seus sacerdotes e profetas, demonstra até onde
pode chegar a corrupção do espírito humano. Enquanto a mediocridade de sua
condição os impede de fazer o mal a que a sua inclinação os leva, parecem
mansos e moderados, mostram amor pela justiça e pela piedade e estão
conven-cidos de que Deus, que está presente em toda parte, vê todas as suas
ações e penetra todos os seus pensamentos. Mas quando se vêem elevados pela
autoridade e poder, mostram que não tinham no coração aqueles sentimentos e,
tal como os atores, que depois de trocar as vestes apresentam-se no palco para
representar um papel qualquer ou outro personagem, eles aparecem em seu
natural. Tornam-se audaciosos e insolentes, desprezando a Deus e fazendo pouco
caso dos homens.
Dessa forma, embora a grandeza de sua posição, que expõe até
as menores de suas ações à vista de todos, os devesse fazer agir de maneira
irrepreensível, eles julgam que o próprio Deus mantém os olhos fechados ou os
teme, e passam a desejar que Ele aprove e que os homens achem justo tudo que o
seu temor, o seu ódio e a sua imprudência lhes inspiram, sem preocupação com as
conseqüências. De modo que, depois recompensar com muitas honras os grandes
serviços, não se contentam em privar delas, por meio de falsas denúncias e
calúnias, aqueles que os prestaram e que as tinham tão justamente merecido.
Tiram-lhes até mesmo a vida. E agem assim não no uso legítimo de seu poder,
como na punição dos culpados, mas com ações de injustiça e de crueldade,
oprimindo inocentes, os quais, sendo-lhes inferiores, não se podem livrar de
suas violências.
Saul, como acabamos de ver, é disso um nítido exemplo. Pois,
pode haver algo mais estranho que, após o governo aristocrático e o dos juizes,
ele, o primeiro a ser feito rei sobre todo o povo de Deus, tenha, por uma
simples suspeita, matado Aimeleque e mais de trezentos sacerdotes e profetas,
queimado a cidade deles e os sepultado nas ruínas, sem se incomodar que, não
restando mais nenhum ministro da vontade de Deus, o Templo ficasse inteiramente
abandonado? Ou que o seu furor o tenha levado não somente a exterminar essas
pessoas constituídas para prestar a Deus o culto supremo que lhe é devido, mas
também a destruir até os alicerces o lugar que Ele lhes dera como moradia?
Abiatar, o único sobrevivente da mortandade, foi procurar
Davi e contou-lhe como as coisas se haviam passado. Este não ficou admirado,
pois quando foi falar com Aimeleque percebeu que Doegue estava presente e bem
imaginou que ele não perderia ocasião para caluniar o sumo sacerdote. Ficou
sensivelmente comovido por ter dado motivo a isso e rogou a Abiatar que ficasse
com ele, pois em outro lugar não estaria em segurança.
246. 1 Samuel 23. Soube Davi, ao mesmo tempo, que os
filisteus haviam entrado no território de Queila e feito grande destruição.
Resolveu atacá-los, mas antes consultou Samuel para saber se era do agrado de
Deus. O profeta garantiu que Ele daria a vitória a Davi, que os atacou
imediatamente. Ele fez uma grande matança, apoderou-se de ricos despojos e
entrou em Queila para proteger os habitantes até que trouxessem o trigo para a
cidade. Como tão grande feito não podia permanecer oculto e a notícia se
espalhasse por toda parte, ela chegou até Saul. Ele sentiu grande alegria por
saber onde Davi se havia estabelecido, julgando ser aquilo um sinal de que Deus
queria entregá-lo em suas mãos. Ordenou então que alguns soldados fossem
cercá-lo, com ordem de não se levantar o cerco antes de se apoderarem dele e
matá-lo.
Deus, no entanto, revelou a Davi que ele estaria perdido se
não se retirasse imediatamente, porque os habitantes de Queila o entregariam
nas mãos do rei, a fim de terem paz com ele. Assim, partiu com os seus
seiscentos homens para o deserto, até uma colina de nome Haquila, e Saul viu
frustradas as suas esperanças. Do deserto, Davi passou ao território de Zife, a
um lugar de nome Horesa. jônatas foi até lá encontrar-se com ele, para
abraçá-lo e para conversarem. Exortou-o a esperar para o futuro, não obstante a
infelicidade presente. Assegurou que Davi ainda reinaria sobre todo o povo e
que não era de admirar que para chegar a tão alta posição fosse mister suportar
tão duros sofrimentos. Renovaram depois, com juramento, os protestos de amizade
e tomaram a Deus como testemunha. Fizeram imprecações contra aquele que a eles
faltasse, e Jônatas regressou, depois de ter dado a Davi essa consolação
naquele momento de infelicidade.
Os habitantes de Zife, para agradar a Saul, avisaram-no de
que Davi estava perto da cidade e asseguraram que fariam o possível para
entregá-lo em suas mãos, o que lhes seria muito fácil de conseguir se o rei
mandasse fechar algumas passagens por onde ele poderia escapar e avançasse com
as suas tropas. Saul louvou-lhes a fidelidade, manifestando o seu agradecimento
por aquele serviço e prometendo retribuí-lo. Mandou-lhes em seguida muitos
soldados para procurar Davi nos lugares mais ocultos do deserto, com a garantia
de que ele mesmo, o rei, os seguiria bem depressa. Os zifenianos serviram de
guia a essas tropas e tudo fizeram, no que dependia deles, para agradar a Saul.
Assim, esses homens maléficos, que deveriam se conservar em
silêncio, para salvar um homem que era não apenas inocente, mas muito virtuoso,
fizeram por interesse e por bajulação tudo o que puderam para entregá-lo ao
inimigo e à morte. Mas Deus não permitiu um êxito correspondente a essa má
vontade. Davi, alertado dê que o rei se aproximava, abandonou os lugares para
os quais se havia retirado e instalou-se num grande rochedo que está no deserto
de Jesimom. Saul perseguiu-o, chegou ao outro lado da rocha, cercou-o por todos
os lados e tê-lo-ia apanhado, não fora o aviso de que os filisteus haviam
entrado no país. Ele julgou mais conveniente repelir os inimigos públicos, tão
temíveis, a deixar-lhes o reino como presa por causa da obstinação em perseguir
um inimigo particular. Davi salvou-se dessa maneira de um perigo que parecia
inevitável e refugiou-se no estreito de En-Gedi.
247. 1 Samuel 24. Saul soube disso e, mal repeliu os
filisteus, tomou três mil homens escolhidos de todas as suas tropas e marchou
para esse lugar. Impelido por uma necessidade, o rei entrou sozinho numa
caverna muito espaçosa e profunda, onde Davi se havia escondido com todos os
seus homens. Um deles reconheceu o rei e foi logo dizer a Davi que Deus lhe
oferecia ocasião a mais favorável para vingar-se do inimigo: fazendo-o perder a
vida, livrar-se-ia para sempre daquela injusta perseguição. Davi, em vez de
seguir tal conselho, julgou por um sentimento de piedade que não podia, sem
ofender a Deus, dar a morte àquele que Ele fizera rei e que como tal era seu
amo e senhor. Porque, por piores que sejam os nossos inimigos e por mais que
façam para nos eliminar, jamais lhes devemos pagar o mal com o mal. Assim,
contentou-se em cortar um pedaço do manto de Saul. E, quando ele saiu da
caver-na, seguiu-o e gritou para ele. Saul reconheceu-o e voltou-se.
Então Davi prostrou-se diante dele, como de costume, e
disse: "Será justo que vossa majestade preste fé aos caluniadores, que vos
enganam, e desconfie daqueles que vos têm mais afeto e vos são mais fiéis,
quando deveríeis julgar uns e outros por suas ações? As palavras podem enganar,
mas as ações mostram o que eles têm no fundo da alma. Vossa majestade acaba de
conhecer, pelos efeitos, a malícia daqueles que me acusam sem cessar de más
intenções, em que jamais pensei e que não poderia executar mesmo que as
tivesse. No entanto, eles levaram vossa majestade a empregar toda espécie de
meios para me matar. Mas, como vossa majestade pode ver, a afirmativa de que
atentei contra a vossa pessoa é falsa. Ter-me-ia sido tão fácil matá-lo como
cortar este pedaço do vosso manto que tenho em minha mão. No entanto, por mais
justo que seja o meu ressentimento, eu o contive, ao passo que vossa majestade
se deixa levar pela ira, por mais injusta que seja. Deus nos julgará, senhor, e
condenará aquele que de nós dois for culpado".
Saul, espantado pelo perigo que havia corrido e sem poder
deixar de admirar a virtude e a generosidade de Davi, soltou um profundo
suspiro, que arrancou làgrimas a Davi. Tocado por tão extrema bondade,
disse-lhe o rei: "Eu é que deveria chorar, e não vós, porque depois de
receber tantos serviços de vós tenho-vos perseguido com muita crueldade. Hoje
mostrastes que sois um digno sucessor dos mais virtuosos de nossos
antepassados, que, em vez de tirar a vida aos seus inimigos quando estes se
encontram em posição desfavorável, gloriam-se de perdoar-lhes. Assim, não
duvido de que Deus deseje pôr a coroa em vossa cabeça para fazer-vos reinar
sobre todo o povo de Israel. E peço-vos que me prometais com juramento que, em
vez de destruir a minha família, tomareis cuidado de conservá-la, sem vos
lembrardes dos males que vos causei". Davi prometeu-o e jurou-lhe, e
depois se separaram: Saul voltou ao seu reino, e Davi foi para o estreito dos
masticianos.
248. 1 Samuel 25. A
morte do profeta Samuel deu-se nesse mesmo tempo. E, como todo o povo o havia
honrado extremamente pela sua eminente virtude, nada se pode acrescentar às
demonstrações de afeto que prestou à sua memória. Depois de o enterrarem com
grande magnificência em Rama, lugar de seu nascimento, eles o choraram por
muito tempo. Não foi somente luto público, mas todos o lamentavam em
particular, como se fosse um parente. Isso porque, além de seu amor pela
justiça, a sua bondade era tão extraordinária que o tornou muito querido por
Deus. Depois da morte de Eli, sumo sacerdote, ele governou sozinho todo o povo
durante doze anos e viveu dezoito anos durante o reinado de Saul.
249. Um homem chamado Nabal, do país dos zifenianos, morava
nesse tempo na cidade de Maom e era rico, principalmente em rebanhos: tinha
três mil carneiros e mil cabras. Davi proibiu terminantemente aos seus soldados
tocar em qualquer coisa que pertencesse a esse homem, por maiores que fossem as
necessidades ou sob qualquer pretexto, porque ele sabia que não se pode tomar
os bens alheios sem faltar aos mandamentos de Deus e, assim fazendo, julgava
que agradaria a um homem de bem, que merecia as suas homenagens. Mas Nabal era
um bruto, de mau caráter e muito cruel. Sua mulher, ao contrário, de nome
Abigail, era gentil, prestimosa, virtuosa e além disso extremamente bela.
Quando Nabal foi tosquiar as ovelhas, Davi enviou dez dos
seus para saudá-lo, desejar-lhe toda sorte de prosperidade por muitos anos e
rogar-lhe que o ajudasse com alguma coisa para a subsistência de seus homens,
pois podia informar-se com os guardas do rebanho que desde que estava no
deserto, e isso havia muito tempo, nem ele nem os seus homens lhe haviam
causado o menor prejuízo. Poderiam até dizer o contrário, isto é, que ele os
havia conservado. E Nabal agora, obsequi-ando-o, faria bem a um homem muito
grato. Esse homem, porém, em vez de dar uma resposta, perguntou-lhes quem era
Davi. Eles disseram-lhe que era um dos filhos de Jessé. Nabal exclamou:
"Ah! Um fugitivo, que se esconde com medo de cair nas mãos de seu senhor,
agora quer passar por ousado e corajoso".
Essas palavras, tão ofensivas, foram referidas a Davi e o
deixaram tão encole-rizado que ele jurou que antes de a noite acabar
exterminaria Nabal e toda a sua família e destruiria a sua casa e todos os seus
bens, pois, não satisfeito em demonstrar tanta ingratidão pelos favores
recebidos, tivera ainda a insolência de ultrajá-lo daquele modo. Deixou para a
guarda de sua bagagem duzentos dos seiscentos homens que então contava e partiu
para executar a sua resolução. No entanto, um dos pastores de Nabal, que ouvira
as palavras proferidas por seu senhor, avisou a mulher deste, alertando-a das
perigosas conseqüências e afir-mando que nem Davi nem os seus jamais haviam
feito mal algum aos rebanhos. Abigail mandou imediatamente carregar alguns
asnos com uma grande quantidade de provisões e, sem nada dizer ao marido, que
só tratava bem os de caráter semelhante ao dele, foi ter com Davi.
Encontrou-o num vale, desceu em terra logo que o viu e,
prostrando-se diante dele, pediu-lhe que não levasse em conta o que dissera o
marido, pois o próprio nome Nabal, que em hebreu significa
"insensato", era-lhe muito conveniente. Ela declarou ainda que não
estava presente quando os homens foram procurá-lo e continuou a falar, nestes
termos: "Rogo-vos que nos perdoeis a ambos e considereis o motivo que
tendes de dar graças a Deus, por não ter permitido que mergulhásseis as vossas
mãos em sangue. Porque, conservando-as puras, vós o obrigareis a vingar os
vossos inimigos e a fazer cair sobre as suas cabeças a infe-licidade que estava
prestes a cair sobre a de Nabal. Confesso que a vossa cólera contra ele é
justa, mas moderai-a, por amor de mim, que não tenho parte na culpa, pois a
bondade e a clemência são virtudes dignas de um homem que Deus destinou para
reinar um dia. Tende a bondade de aceitar estes pequenos presentes que vos
ofereço".
Davi recebeu-os e respondeu-lhe: "Foi Deus quem vos
trouxe aqui, do contrário, não teríeis visto o dia de amanhã, porque eu havia
jurado exterminar esta noite Nabal e toda a sua família, para castigá-lo pela
ingratidão e pelo ultraje que me fez. Devo, porém, perdoar-lhe, em consideração
a vós, pois Deus vos inspirou a que vos opusésseis à minha cólera por meio de
vossos rogos. Ele, porém, não evitará o castigo que merece e morrerá de
qualquer modo". Abigail voltou muito consolada por resposta tão favorável
e encontrou o marido tão embriagado que nada lhe pôde dizer. No dia seguinte,
porém, contou-lhe tudo o que se havia passado. O grave perigo que correra
assustou-o e perturbou-o de tal modo que ele ficou paralítico de todo o corpo e
morreu dez dias depois.
Davi, quando o soube, disse que Nabal recebera a recompensa
merecida. Louvou a Deus por não ter permitido que manchasse as suas mãos no
sangue dele e aprendeu por aquele exemplo que, tendo os olhos voltados para
todas as nações dos homens, Ele castiga os maus e recompensa os bons. A virtude
e a sabedoria de Abigail, unidas à sua grande beleza, haviam causado a Davi
tanta estima e afeto por ela que, vendo-a viúva, mandou perguntar-lhe se o
queria desposar. Ela respondeu que não era digna nem mesmo de beijar-lhe os
pés. Depois veio encontrar-se com ele, trazendo boa equipagem, e o des-posou.
Ele já tinha outra esposa, de nome Ainoã, que era da cidade de Jezreel. Quanto
a Mical, Saul a dera em matrimônio a Palti, filho de Laís, que era da cidade de
Galim.
250. 1 Samuel 26. Pouco tempo depois, alguns zifenianos
avisaram Saul de que Davi regressara àquele país, e, se quisesse ajudá-los,
eles poderiam apanhá-lo. O rei se pôs imediatamente em campo com três mil
soldados e acampou naquele mesmo dia em Haquila. Davi, alertado de sua marcha,
mandou espiões para fazer um reconhecimento, e estes confirmaram o aviso. Ele
partiu de noite, acompanhado somente por Abisai, e entrou no acampamento de
Saul. Encontrou todos os soldados adormecidos, bem como o general Abner. Passou
pela tenda do rei, que também dormia, e da cabeceira de sua cama apanhou-lhe o
dardo. Abisai quis matá-lo, mas Davi lhe reteve o braço e o impediu, dizendo que,
por pior que fosse Saul, não se poderia sem crime atentar contra a vida de um
rei constituído por Deus e que tocava ao próprio Deus castigá-lo, quando
julgasse que era tempo de o fazer.
Assim, Davi contentou-se em levar o dardo e um vaso que
estava próximo do rei, de modo que não se pudesse duvidar de que poderia tê-lo
matado, se o desejasse. Confiando na escuridão da noite e em sua coragem, saiu
do acampamento do modo como havia entrado, sem que ninguém o percebesse. Depois
de atravessar a torrente, subiu à montanha, de onde todo o acampamento de Saul
poderia ouvi-lo, e gritou bem alto, chamando por Abner, que acordou com o
barulho, bem como todos os soldados. Abner perguntou quem o chamava.
Ele respondeu: "Sou eu, Davi, filho de Jessé, que vós
expulsastes. Como vós, que tão valente sois e gozais de tanta honra perante o
rei, mais que qualquer outro, tendes tão pouco cuidado em defendê-lo e dormis
em vez de zelar pela garantia de sua pessoa? Podeis negar que não sois culpado
de um crime capital, tendo sido tão negligente a ponto de perceberdes que
alguns dos meus homens entraram no vosso acampamento e até mesmo na tenda real?
Vede onde estão o dardo do rei e o seu vaso e julgai agora se montastes boa
guarda".
Saul reconheceu a voz de Davi e, diante das provas que
apresentava, percebeu que, graças à negligência dos seus, ter-lhe-ia sido fácil
matá-lo sem que nenhum estranho fosse encontrado. Confessou então ser-lhe
devedor da vida e declarou que lhe permitia voltar para casa com toda a
segurança, porque não podia mais duvidar de seu afeto e de sua fidelidade,
depois de lhe poupar a vida diversas vezes, e porque ele, em vez de reconhecer
os bons serviços que Davi lhe prestara, o havia exilado, privado da consolação
de viver com os parentes e perseguido impiedosamente. Davi mandou em seguida
que viessem buscar o dardo e o vaso do rei e protestou que Deus, que sabia que
ele teria podido matar Saul, seria o juiz de suas ações.
251. 1 Samuel 27. Eis como Davi uma segunda vez poupou a
vida a Saul. E, não querendo mais ficar naquele país, receando vir a cair nas
mãos do rei, decidiu, com o consentimento de todos os que estavam com ele,
passar às terras dos filisteus. Aquis, rei de Gate, uma das cinco cidades dessa
nação, recebeu-o favoravelmente, e Saul, vendo como fora malsucedido e
lembrando os graves riscos que correra, não pensou mais em persegui-lo. Davi
não quis estabelecer-se na cidade, para não ser pesado aos seus habitantes, e
rogou ao rei Aquis que lhe desse um lugar no campo. Ele deu-lhe a aldeia de
Ziclague, pela qual Davi tomou tanto afeto que, depois de se tornar rei, veio a
comprá-la, para tê-la como propriedade particular.
Lá ficou um ano e quatro meses, e durante esse tempo fazia
secretamente incursões sobre as terras dos gerusianos, dos gersianos e dos
amalequitas, que eram povos vizinhos dos filisteus, trazendo grande quantidade
de cavalos, camelos e gado. Contudo não fazia prisioneiros, temendo que o rei
descobrisse de quem ele trazia tais presas, das quais enviava-lhe uma parte.
Quando o rei lhe perguntava onde as ia buscar, Davi respondia que era nas
planícies da Judéia, do lado sul, no que o príncipe acreditava com tanta
felicidade quanto desejava que fosse verdade. Porque Davi se poria em condição
de jamais poder regressar àquele país caso tratasse como inimigos os seus
súditos. Não sendo assim, porém, podia mantê-lo junto de si e servir-se dele
vantajosamente.
252. 1 Samuel 28.
Nesse mesmo tempo, os filisteus resolveram fazer guerra aos israelitas. O rei
Aquis ordenou a reunião de todas as suas tropas na cidade de Suném e por isso
mandou dizer a Davi que lá se encontrasse também, com os seus seiscentos
homens. Ele respondeu que obedeceria com prazer, para testemunhar-lhe a sua
gratidão pelos favores de que lhe era devedor. O rei, por sua vez, prometeu-lhe
que se fosse vitorioso recompensaria os seus serviços com grandes honras e o
faria comandante de sua guarda.
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