História De Israel – Teologia 31.74
CAPÍTULO 15
SAUL, VENDO-SE ABANDONADO POR DEUS NA GUERRA CONTRA OS
FILISTEUS, CONSULTA POR MEIO DE UMA MÉDIUM A SOMBRA DE
SAMUEL, QUE LHE PREDIZ DERROTA NA BATALHA E A MORTE DELE E
DE
SEUS FILHOS. AQUIS, UM DOS REIS DOS FILISTEUS, LEVA COM ELE
DAVI
PARA O COMBATE, MAS OS OUTROS PRÍNCIPES O OBRIGAM A
REENVIÁ-LO
A ZICLAGUE. DAVI DESCOBRE QUE OS AMALEQUITAS SAQUEARAM E
INCENDIARAM ZICLAGUE, PERSEGUE-OS E OS DIZIMA. SAUL PERDE A
BATALHA. JÔNATAS E DOIS OUTROS DE SEUS FILHOS SÃO MORTOS, E
ELE
FICA MUITO FERIDO. OBRIGA UM ESCUDEIRO A MATÁ-LO. BELA AÇÃO
DOS
HABITANTES DEJABES DE GILEADE PARA COM
OS CORPOS DESSES PRÍNCIPES.
253. Saul, informado
de que os filisteus tinham avançado até Suném, marchou contra eles e acampou em
frente ao exército inimigo, próximo do monte de Gilboa. Percebendo, porém, que
eles eram incomparavelmente mais fortes, sentiu a coragem diminuir e rogou aos
profetas que consultassem a Deus para saber qual seria o resultado daquela
guerra. Deus não lhe respondeu, e esse silêncio duplicou-lhe o temor, pois se
julgou abandonado por Ele. O seu ânimo abateu-se e ele resolveu, nessa
dificuldade, recorrer à magia. No entanto Saul havia expulsado do país todos os
magos e adivinhos e toda espécie de gente que costuma predizer o futuro, e
assim, não sabendo onde buscá-los, mandou indagar de onde se poderia encontrar
alguém dentre os que fazem voltar as almas dos mortos, para interrogá-las e
saber coisas futuras.
Um dos seus disse-lhe que uma mulher na cidade de En-Dor
poderia satisfazer esses desejos. Imediatamente e sem falar com quem quer que
fosse, disfarçado e acompanhado por duas pessoas somente, foi procurar a
mulher, rogando-lhe que predissesse o que estava para lhe acontecer e que para
esse fim fizesse voltar a alma de um morto que ele ia nomear. Ela respondeu que
não podia fazê-lo porque o rei proibira, por um edito, que se fizesse essa
espécie de predição e rogou que, jamais tendo ela lhe feito mal, não lhe
armasse cilada para fazê-la cair numa falta que custaria a ela a própria vida.
Saul jurou-lhe que, acontecesse o que acontecesse, ele não o faria e que ela
não corria risco algum. Esse juramento tranqüilizou-a, e ele pediu que fizesse
vir a alma de Samuel.
Como ela não sabia quem era Samuel, obedeceu sem
dificuldade. Quando, porém, a sua presença se fez notar, algo de divino que ela
percebeu surpreendeu-a e a perturbou. Voltou-se então para Saul e disse-lhe:
"Não sois vós o rei Saul?" (Ela o soubera pela visão.) Ele respondeu-lhe
que sim, e ordenou-lhe que revelasse a causa da grande perturbação que notava
nela. Ela respondeu que via aproximar-se um homem que parecia todo divino. Saul
perguntou: "Que idade tem ele e como está vestido?" Ela respondeu:
"Ele parece um velho muito venerável e está revestido de uma veste
sacerdotal". Então Saul não duvidou de que era mesmo Samuel* e prostrou-se
diante dele até o chão.
A sombra perguntou-lhe por que o havia obrigado a voltar do
outro mundo. Respondeu Saul: "A necessidade me obrigou a isso, porque,
tendo sido atacado por um exército muito poderoso, me encontro abandonado, sem
o auxílio de Deus, que nem pelos seus profetas nem por outro modo me informa
sobre o que está para acontecer. Assim, só me resta recorrer a vós, que sempre
me testemunhastes tanto afeto". Samuel, sabedor de que o tempo da morte de
Saul havia chegado, disse-lhe: "Sei que de fato Deus vos abandonou e em
vão desejais que Ele diga o que vos deve suceder. Mas, visto que o quereis,
sabei que Davi reinará e terminará venturosamen-te esta guerra e que, pelo
castigo de não terdes executado as ordens que vos dei da parte de Deus, depois
de terdes vencido os amalequitas, o vosso exército amanhã será desbaratado e
perdereis a coroa, a vida e os vossos filhos nessa batalha".
Essas palavras gelaram o coração de Saul, e ele desmaiou,
tanto pela dor excessiva quanto porque havia dois dias não se alimentava. A
mulher rogou-lhe que tomasse algum alimento, para restaurar as forças e poder
voltar ao exército. Ele recusou-o, mas ela insistiu, dizendo que não Ihç pedia
outra recompensa por ter arriscado a vida para fazer o que ele desejava. Por
fim, não podendo mais resistir àquelas súplicas insistentes, Saul disse-lhe que
comeria alguma coisa. Logo ela matou um vitelo, que era tudo o que possuía,
preparou-o e o serviu a ele e aos seus. Saul voltou naquela mesma noite para o
seu exército.
Eu não poderia deixar de admirar a bondade dessa mulher,
que, jamais tendo visto o rei, em vez de se ressentir por ele a ter reduzido a
tão grande pobreza, proibindo-a de exercer a arte que era o seu meio de vida,
teve tanta compaixão de sua infelicidade que não se contentou em consolá-lo.
Sabendo que ele morreria no dia seguinte, deu-lhe tudo o que possuía, sem
pretender recompensa alguma e sem dele nada esperar. Nisso ela é tanto mais
louvável quanto os homens são naturalmente levados a fazer o bem somente
àqueles dos quais podem também recebê-lo. E assim, ela nos dá um belo exemplo
de como ajudar sem interesse os que têm necessidade de nosso auxílio, pois é
uma generosidade tão agradável a Deus que nada pode levá-lo a nos tratar mais
favoravelmente.
Julgo oportuno acrescentar outra reflexão, que poderá ser
útil a todos, particularmente aos reis, aos príncipes, aos grandes, aos
magistrados, às outras pessoas constituídas em dignidade e a todos os que, sob
qualquer condição, têm a alma grande e nobre, a fim de inflamá-los de tal modo
à virtude que não haja penas nem tributações que não aceitem ou perigos que não
desprezem, até mesmo a morte, para conquistar uma reputação imortal, chegando a
dar a própria vida pelo bem da pátria. Vimos o que fez Saul, pois, ainda que
Samuel o tivesse avisado de que seria morto com os filhos na batalha, preferiu
perder a vida a praticar um ato indigno de um rei, como, para conservá-la,
abandonar o exército, o que seria o mesmo que entregá-lo nas mãos dos inimigos.
Assim, Saul não hesitou em expor-se com os filhos a uma
morte certa, julgando que seria melhor e muito mais satisfatório terminar com
estes gloriosamente os seus dias, em pleno combate pela salvação da pátria, e
merecendo assim viver perenemente na memória da posteridade do que sobreviver à
própria infelicidade e, além de não ter mais uma posição, ser pouco considerado
pela opinião pública. Não poderia, pois, deixar de considerar esse soberano,
nesse ponto, como muito justo, sensato e generoso. E, se algum outro fez ou
fizer a mesma coisa, não haverá elogios de que não seja digno. Pois, ainda que
quem faça guerra na esperança de obter a vitória mereça que os historiadores
elogiem os seus feitos grandiosos, parece-me que somente devem ser considerados
provectos na coragem os que, a exemplo de Saul, preferem a honra à própria
vida, desprezando perigos certos e inevitáveis.
Nada é mais comum que empreender aquilo cujo desfecho é
duvidoso e disso auferir grandes vantagens, se houver sorte favorável. Mas nada
poder prometer senão coisas funestas, estar certo de que perderá a vida no
combate e afrontar intrepidamente a morte é o que se pode chamar o cúmulo da
generosidade e da coragem. Foi isso o que admiravelmente fez Saul. Ele deu
exemplo a todos os que desejam eternizar a memória pela glória das ações, mas
principalmente aos reis, aos quais a nobreza dessa condição não somente proíbe
abandonar o cuidado dos súditos como os torna dignos de censura se nutrirem por
eles apenas uma medíocre afeição. Poderia eu falar ainda muito mais em louvor
de Saul, mas, para não ser demasiado longo, necessito retomar o fio de meu
discurso.
__________________
* "Então Saul não duvidou de que era mesmo
Samuel". E possível que Flávio Josefo, para fazer tal asserção, se tenha
baseado em targuns (paráfrases do Antigo Testamento usadas pelos rabinos). No
entanto esse entendimento não pode ser aceito porque contraria o ensino da
Bíblia a respeito do assunto. (N do E)
254. 1 Samuel 29. Os reis e os príncipes dos filisteus, como
vimos, reuniram todas as suas forças. Aquis, rei de Gate, chegou por último com
os seus, acompanhado por Davi e os seiscentos homens de sua nação. Os outros
príncipes perguntaram a Aquis quem havia trazido aqueles israelitas. Ele
respondeu que fora Davi, o qual, para evitar a cólera de Saul, estabelecera-se
em suas terras e, como testemunho de sua gratidão por ser recebido em seu
território e ao mesmo tempo para vingar-se de Saul, oferecera-se para servi-lo
naquela guerra. Os príncipes não con-cordaram que ele confiasse num homem cuja
fidelidade era suspeita e que, para se reconciliar com Saul, poderia naquela
ocasião voltar as armas contra eles e fazer-Ihes ainda mais mal do que já
fizera no passado, pois era o mesmo Davi de quem as filhas dos hebreus cantavam
nas suas canções que havia matado um grande número de filisteus. E assim,
aconselharam-no a mandá-lo de volta.
Aquis consentiu e aceitou as razões deles. Mandou chamar Davi
e disse-lhe: "O conhecimento que tenho do vosso valor e de vossa
fidelidade tinha-me feito desejar empregar-vos nesta guerra. Mas os outros
príncipes e comandantes do exército não o aprovam. Embora eu não desconfie de
vós è vos tenha sempre a mesma afeição, desejo que volteis para o lugar que vos
concedi, a fim de vos opordes às incursões que os inimigos possam fazer por
aquele lado. E nisso me prestareis não menor serviço do que se combatêsseis
aqui conosco".
1 Samuel 30. Davi obedeceu e constatou, na sua volta, que os
amalequitas, aproveitando-se da ausência do rei Aquis e de todas as suas
forças, haviam tomado Ziclague e a incendiado, além de levar todas as mulheres
e crianças com os despojos e de fazer o mesmo aos países dos arredores. Essa
grande desgraça, tão inesperada, feriu tão vivamente Davi que ele rasgou as
próprias vestes e entregou-se ao desespero e à dor. Os soldados, por sua vez,
ficaram tão exaltados por terem perdido as suas coisas, mulheres e filhos que,
atribuindo a ele a causa de sua infelicidade, estiveram prestes a apedrejá-lo.
Quando voltaram a si, ele elevou o espírito a Deus e rogou a
Abiatar, sumo sacerdote, que se revestisse do éfode e perguntasse a Deus se,
perseguindo os amalequitas, poderia ainda alcançá-los e se o ajudaria a
vingar-se e a recuperar as mulheres e as crianças que eles haviam levado.
Abiatar fez o que ele desejava e ordenou-lhe, da parte de Deus, que os
perseguisse. Davi não perdeu tempo e, quando chegou à torrente de Besor,
encontrou um egípcio, que de tão fraco quase não resistia mais, pois havia três
dias não se alimentava. Davi deu-lhe comida e, quando o homem recobrou as
forças, perguntou-lhe quem era. Ele respondeu-lhe que era egípcio e que o seu
senhor o havia abandonado porque, estando doente, não podia prosseguir na
retirada dos amalequitas, depois de haverem saqueado e incendiado Ziclague.
Davi pediu ao homem que o guiasse e assim conseguiu alcançar
os inimigos. Como os amalequitas não desconfiavam de nada e estavam ainda
possuídos pela alegria da presa conquistada, Davi encontrou-os embriagados e
festivos. Muitos já estavam deitados, dormindo profundamente. Outros haviam
bebido tanto que estavam sonolen-tos. Outros ainda traziam o copo na mão.
Assim, não estavam em condições de se defender, e os que conseguiram pegar em
armas foram logo atacados pelos israelitas, os quais mataram um número tão
grande deles que apenas uns quatrocentos homens se puderam salvar, pois a
matança durou desde a tarde até a noite.
Depois de um êxito tão feliz, que permitiu a Davi e aos seus
recuperar não somente as suas mulheres e filhos, mas todos os despojos que os
amalequitas haviam levado, eles voltaram ao lugar em que haviam deixado
duzentos dos seus a guardar a bagagem. Os quatrocentos que haviam acompanhado
Davi até o fim da expedição recusaram dar-lhes a sua parte nos despojos.
Queriam que eles se contentassem em recuperar as mulheres e os filhos, alegando
que a falta de coragem os fizera ficar para trás. Davi condenou-lhes a
injustiça e declarou que fora Deus quem os fizera obter a vitória e que aqueles
homens deviam ter parte igual à deles, pois não haviam tomado parte no combate
porque receberam ordem para ficar e cuidar da bagagem. Esse juízo, tão
eqüitativo, passou a ser nosso costume por uma lei que sempre foi observada.
Após o regresso a Ziclague, Davi mandou aos parentes e amigos na tribo de judá
uma parte dos despojos dos amalequitas.
255. 1 Samuel 31.
Travou-se, nesse ínterim, a batalha entre os filisteus e os israelitas, e foi
encarniçada de parte a parte. No entanto a vantagem pendeu finalmente para os
filisteus, e Saul e seus filhos, que estavam empenhados no combate, não tendo
mais esperança de obter a vitória, só pensavam em morrer gloriosamente.
Praticaram atos de bravura tão extraordinários que atraíam sobre si todas as
forças dos inimigos. E, depois de matarem um grande número deles, acabaram
perecendo esmagados pela multidão.
Jônatas e seus dois irmãos, Abinadabe e Malquisua, caíram
ali mesmo, e a morte deles fez os israelitas perderem totalmente o ânimo. Fugiram
logo depois, e os filisteus promoveram grande matança. Saul retirou-se, em boa
ordem, com o que pôde salvar. Os inimigos, porém, mandaram um grande número de
ar-queiros e besteiros em sua perseguição, que mataram quase todos a golpes de
dardos e de flechas. O próprio Saul, depois de ter feito o possível, ficou tão
crivado de golpes que, desejando morrer, não lhe restavam mais forças para se
matar. Então ordenou ao seu escudeiro que lhe atravessasse o corpo com a
espada, para impedir que caísse vivo em poder dos inimigos. Vendo que o outro
não se resolvia, colocou a ponta da espada sobre o estômago e lançou-se sobre
ela. Quando o escudeiro viu morto o seu senhor, matou-se também. E todos os
soldados de sua guarda foram mortos perto do monte de Cilboa.
Os israelitas que habitavam o vale além do Jordão, ao saber
da derrota e da morte de Saul e de seus filhos, retiraram-se para lugares
fortificados, abandonando as cidades que possuíam na planície, das quais os
filisteus se apoderaram.
256. No dia seguinte,
depois desse grande combate, os vencedores, despojando os mortos, reconheceram
o corpo de Saul e os de seus filhos. Cortaram a cabeça de Saul, e depois de
terem anunciado a morte dele por todo o país e consagrado as almas no Templo de
Astarote, seu falso deus, penduraram os corpos em forcas, perto da cidade de
Bete-Seã, que hoje se chama Scitópolis.
Os habitantes de jabes-Gileade demonstraram nessa ocasião a
grandeza de sua coragem. Indignados por ver que não somente haviam privado tão
grandes príncipes da honra da sepultura como ainda os tratavam
ignominiosamente, os mais corajosos dentre eles foram de noite apoderar-se dos
corpos, à vista dos inimigos, e os levaram sem que estes se atrevessem a
protestar. Toda a cidade prestou-lhes homenagem, organizando um honroso
sepultamento. Passaram dias de lamentações em luto público, com as suas
mulheres e crianças, num jejum tão rigoroso que durante todo esse tempo não
beberam nem comeram, de tão sentidos e penetrados de dor que estavam pela perda
de seu rei e de seus príncipes.
Eis como o rei Saul, segundo a profecia de Samuel, terminou
a sua vida, tanto por haver desobedecido às ordens de Deus com relação aos
amalequitas quanto por ter feito morrer, com toda a casa sacerdotai, o sumo
sacerdote Aimeleque e reduzido a cinzas a cidade a eles destinada por Deus como
moradia. Reinou dezoito anos durante a vida desse profeta e vinte e dois anos
após a morte dele.
Que o Santo Espirito do Senhor, ilumine
o nosso entendimento
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