A situação
exposta acima não é questão de um defeito passageiro da pesquisa histórica que
um dia seja superado.
Ela é causada pela própria natureza das fontes.
Os
registros sobre Jesus de Nazaré são os de Jesus como o Cristo, dados por
pessoas que o receberam como o Cristo.
Portanto, se tentamos encontrar o Jesus
real que está por trás da imagem de Jesus como o Cristo, é necessário separar
criticamente os elementos que pertencem ao lado factual do evento, daqueles elementos
que pertencem ao lado receptivo.
Ao fazer isso, esboça-se uma “Vida de
Jesus”; muitos desses esboços foram
elaborados. Em muitos deles atuaram juntos: honestidade científica, devoção
amorosa e interesse teológico.
Em outros são visíveis o distanciamento crítico
e até mesmo a rejeição malévola.
Mas nenhum pode reivindicar ser uma imagem
provável, que seja o resultado de um labor científico tremendo dedicado à essa
tarefa durante duzentos anos.
No máximo, eles são resultados mais ou menos
prováveis, incapazes seja de fornecer uma base para a aceitação da fé cristã,
seja para rejeitá-la.
Tendo em
vista essa situação, houve tentativas de reduzir a imagem do Jesus histórico
aos seus traços “essenciais”; a elaborar uma Gestalt, ao mesmo tempo em que
deixando abertos g dúvida seus traços particulares.
Mas esse não é o processo
correto.
A pesquisa histórica não pode pintar uma imagem essencial depois de
eliminar todos os traços particulares porque eles são questionáveis.
Ela
permanece dependente dos traços particulares.
Conseqüentemente,
as imagens do Jesus histórico nas quais é amplamente evitada uma “Vida de
Jesus” diferem tanto umas das outras, quanto aquelas nas quais não é aplicada
tal auto-restrição.
A
dependência da Gestalt na valoração dos traços particulares é evidente num
exemplo tomado do complexo daquilo que Jesus ensinou sobre si mesmo.
Para
elaborar esse ponto, deve-se saber, além de muitas outras coisas, se ele aplicou o título “Filho
do Homem” a si mesmo, e caso sim, em que sentido.
Toda resposta dada a essa
questão é uma hipótese mais ou menos provável, mas o caráter do quadro
“essencial” do Jesus histórico depende decisivamente dessa hipótese.
Esse
exemplo mostra claramente a impossibilidade de substituir a tentativa de
esboçar uma “Vida de Jesus” tentando pintar a “Gestalt de Jesus”
Esse exemplo
mostra ao mesmo tempo outro ponto importante.
Pessoas que não estão
familiarizadas com o aspecto metodológico da pesquisa histórica temem suas
conseqüências para a doutrina cristã e por isso gostam de atacar a pesquisa
histórica em geral e a pesquisa na literatura bíblica em especial, acusando-as
de preconceitos teológicos. Se elas forem consistentes, negarão que sua própria
interpretação também é preconcebida ou, como elas diriam, dependente da verdade
de sua fé.
Mas elas negam que o método histórico tenha critérios científicos
objetivos.
Contudo, essa afirmação não pode ser sustentada em vista do imenso
material histórico que foi descoberto e freqüentemente verificado de forma
empírica por um método de pesquisa usado universalmente.
E característico desse
método que ele tenta manter uma auto-crítica permanente para libertar-se de
preconceitos conscientes ou inconscientes.
Isso nunca é plenamente bem
sucedido, mas é uma arma poderosa e necessária para se obter conhecimento
histórico.
Um dos
exemplos aludidos freqüentemente neste contexto é o tratamento dos milagres do
Novo Testamento.
O método histórico não aborda as histórias de milagres nem com
o pressuposto de que aconteceram porque foram atribuídos aquele que é chamado o
Cristo, nem com o pressuposto de que eles não aconteceram porque esses eventos
contradiriam as leis da natureza.
O método histórico pergunta, quão fidedignos
são os relatos em cada caso particular, quão dependentes são eles de fontes
mais antigas, como poderiam ter sido influenciados pela credulidade de um
período, como são bem confirmados por outras fontes independentes, em que
estilo são escritos, e para que finalmente são usados no contexto todo.
Todas
essas questões podem ser respondidas de forma “objetiva” sem a interferência
desnecessária de preconceitos positivos ou negativos.
O historiador nunca pode
conseguir uma certeza dessa forma, mas pode chegar a um alto grau de
probabilidade.
Contudo, seria um salto a outro nível se ele transformasse a
probabilidade histórica em uma certeza histórica positiva ou negativa mediante
um juízo de fé (como será mostrado mais adiante). Essa distinção clara
freqüentemente é confundida pelo fato óbvio de que a compreensão do sentido de
um texto é parcialmente dependente das categorias de compreensão usadas no
encontro com textos e registros.
Mas não é totalmente dependente delas, já que
existem aspectos filológicos e outros que estão abertos à uma abordagem
objetiva.
Compreensão exige participação do sujeito naquilo que compreende, e
só podemos participar em termos daquilo que somos, incluindo nossas próprias
categorias de compreensão.
Mas essa compreensão “existencial” nunca deveria
perverter o juízo do historiador com respeito aos fatos e relações.
A pessoa
cuja preocupação última é o conteúdo da mensagem bíblica está na mesma posição
que aquela cujo conteúdo t indiferente, se discutem questões como as do
desenvolvimento da tradição sinótica, ou os elementos mitológicos e lendários
do Novo Testamento.
Ambas têm os mesmos critérios de probabilidade histórica e
devem usá-los com o mesmo rigor, embora ao fazer isso possam afetar suas
próprias convicções religiosas ou filosóficas. Nesse processo pode acontecer
que preconceitos que fecham os olhos para fatos particulares abrem-nos para
outros.
Mas esse “abrir os olhos” é uma experiência pessoal que não pode ser
convertida num princípio metodológico.
Só existe um procedimento metodológico,
e esse consiste em olhar o objeto a ser investigado e não nossa maneira de
olhar o objeto, já que nossa atitude se acha realmente determinada por muitos
fatores psicológicos, sociológicos e históricos.
Esses aspectos devem ser
desconsiderados intencionalmente por quem quer que aborde um fato
objetivamente.
Não se deve formular um juízo sobre a auto-consciência de Jesus
a partir do fato de que se é um cristão - ou anti-cristão.
O juízo deve ser
inferido de um certo grau de plausibilidade, baseado em registros e em sua
provável validez histórica.
Isso, sem dúvida, pressupõe que o conteúdo da fé
cristã seja dependente desse juízo.
Que o Santo Espirito do Senhor, ilumine o nosso entendimento
Não perca tempo, Indique esta maravilhosa Leitura
Custo:O Leitor não paga Nada,
Você APENAS DIVULGA
E COMPARTILHA
0 Comentários :
Postar um comentário
Deus abençoe seu Comentario