Como
vimos, a construção do conhecimento é um processo interpessoal. O ponto
principal desse processo interativo é a relação educando-educador. E esta
relação não é unilateral, pois não é só o aluno que constrói seu conhecimento.
É verdade que o aluno, através desse processo interativo, assimila e constrói
conhecimentos, valores, crenças, adquire hábitos, formas de se expressar,
sentir e ver o mundo, forma idéias, conceitos (e por que não dizer
preconceitos?), desenvolve e assume atitudes, modificando e ampliando suas
estruturas mentais.
Mas
também é verdade que o professor é atingido nessa relação. De certa forma, ele
aprende com seu aluno, na medida em que consegue compreender como este percebe
e sente o mundo, e na medida que começa a sondar quais os conhecimentos,
valores e habilidades que o aluno já traz de seu ambiente familiar e de seu
grupo social para a escola.
Assim,
em decorrência dessa relação, o professor pode passar a conhecer novas formas
de conceber o mundo, que são diferentes da sua. Pode também rever
comportamentos, ratificar ou retificar opiniões, desfazer preconceitos, mudar
atitudes, alterar posturas.
Talvez
seja por isso que Guimarães Rosa tenha escrito, em seu livro Grande Sertão:
veredas, que "mestre não é quem sempre ensina, mas quem de repente
aprende".
Nesse
contato interpessoal instaura-se um processo de intercâmbio, no qual o diálogo
é fundamental. De um lado está o professor com seu saber organizado, seu
conhecimento cientificamente estruturado, sua forma de se expressar na norma
culta da língua, com os ideais e valores formais aceitos e proclamados
oficialmente pela sociedade e com seu grau de expectativa em relação ao
desempenho do aluno. Do outro lado está o aluno com seu saber não
sistematizado, difuso e sincrético, seu conhecimento empírico, com o modo de
falar próprio de seu ambiente cultural, com os ideais e valores de seu grupo
social e com um certo nível de inspiração em relação à escola e à vida.
Esse
encontro do professor com o aluno poderá representar uma situação de
intercâmbio bastante proveitosa para ambos, em que o conhecimento será
construído em conjunto ou, ao contrário, poderá se transformar num verdadeiro
duelo, num defrontar de posições pouco ou nada proveitoso para ambos.
Para
haver um processo de intercâmbio que propicie a construção coletiva do
conhecimento, é preciso que a relação professor aluno tenha como base o
diálogo. É por meio do diálogo que professor e aluno juntos constroem o
conhecimento, chegando a uma síntese do saber de cada um.
O
diálogo é desencadeado por uma situação-problema ligada à prática. O professor
transmite o que sabe, partindo sempre dos conhecimentos manifestados
anteriormente pelo aluno sobre o assunto e das experiências por ele
vivenciadas. Assim, ambos podem chegar a uma síntese esclarecedora da
situação-problema que suscitou a discussão. Nesse momento de síntese, o
conhecimento é organizado e sistematizado, sendo novamente aplicado à prática,
agora já de forma estruturada.
Referindo-se
ao diálogo na prática pedagógica, assim se expressa Maria Teresa Nidelcoff:
"Ao trabalhar corretamente com o problema das subculturas, o professor
procura captar toda a riqueza que as crianças trazem, para de fato aprender com
elas. Portanto, não se relaciona com as crianças como se fosse o único que tem
algo a ensinar, nem vê as crianças como seres nulos que devem aprender tudo; ao
contrário, sabe que ele e as crianças têm que se relacionar dentro de um mútuo
intercâmbio de ensinar-aprender".
O
professor Antonio Faundez, no seu lindo texto intitulado Dialogue pour te
développement et le développement du dialogue, salienta a necessidade do
diálogo no ato de construção do conhecimento ao comentar: "Se analisarmos
etimologicamente o verbo francês que indica a ação de conhecer (connaître),
perceberemos que é formado de duas partes (con-naître), que significam 'nascer
juntos', isto é, nascer com alguma coisa ou com alguém. Portanto, o ato de
conhecer é um nascimento partilhado, no qual dois seres renascem. O que
queremos salientar é que a construção do conhecimento é um processo social e
não apenas individual (...)". Trata-se de uma reformulação compartilhada,
na qual professor e aluno ensinam e aprendem um com o outro, reestruturando-se.
Nesse processo de conhecer e compreender a realidade, o diálogo é fundamental,
pois é através dele que ocorrerá o intercâmbio entre o conhecimento popular de
caráter empírico e o conhecimento cientificamente organizado, "permitindo
a criação de um novo tipo de conhecimento, capaz de compreender a realidade a
fim de transformá-la".
Também
Georges Gusdorf, no seu cativante livro Professores, para quê?, ressalta a
importância do diálogo no processo educativo. Esse educador preconiza uma
pedagogia do encontro e do contato vital (p. 226), na qual a relação
mestre-discípulo é o intercâmbio de duas existências. Trata-se da confrontação
do homem com o homem (p. 235). E o diálogo é a própria essência da relação
mestre-discípulo, que é uma relação de reciprocidade, uma mobilização e um
reagrupamento de energias (p.
102).
Para
Gusdorf, a situação pedagógica é uma situação de encontro existencial e de
coexistência entre duas personalidades. É um diálogo aventuroso, um colóquio
singular entre dois seres que se expõem e se revelam um ao outro (p. 206).
Mestre é aquele que surge num dado momento e numa certa situação como
testemunha de uma verdade, representante de um ideal ou revelador de um saber
(p. 309). Assim, de acordo com a situação vivencial, todos nós podemos ser
mestres e discípulos, pois estamos sempre ensinando o que sabemos e aprendendo
o saber de outros. "Nada permite esclarecer melhor o mistério do ensino. A
verdade só pode surgir como resultado de uma busca e de uma luta que cada um de
nós tem que travar consigo próprio, por sua própria conta e risco".
Fizemos
aqui uma breve síntese do pensamento desses autores, porque eles nos mostram
que a atitude do professor, na sua interação com a classe e nas suas relações
com cada aluno em particular, depende da postura por ele adotada diante da vida
e perante o seu fazer pedagógico. Essa postura, por sua vez, é o reflexo de
suas concepções, sejam elas conscientes ou inconscientes, sobre o homem, o
mundo e a educação. Isto quer dizer que sua maneira de perceber o mundo,
conceber o ser humano e encarar a educação vai refletir no modo como se
relaciona com os seus alunos. De nada adianta conhecer novos métodos de ensino,
usar recursos audiovisuais modernos, se encaramos o aluno com um ser passivo e
receptivo. Portanto, nossa forma de ensinar e de interagir com os alunos vai
depender do modo como os concebemos (seres ativos ou passivos?) e da maneira
como encaramos sua atuação no processo de aprendizagem.
Quando
o professor concebe o aluno como um ser ativo, que formula idéias, desenvolve
conceitos e resolve problemas de vida prática através da sua atividade mental,
construindo, assim, seu próprio conhecimento, sua relação pedagógica muda. Não
é mais uma relação unilateral, onde um professor transmite verbalmente
conteúdos já prontos a um aluno passivo que os memoriza.
Se
o que pretendemos é que o aluno construa seu próprio conhecimento, aplicando
seus esquemas cognitivos e assimiladores à realidade a ser aprendida e
desenvolvendo o seu raciocínio, devemos permitir que ele exerça sua atividade
mental sobre os objetos e até mesmo uma ação efetiva sobre eles. O aluno exerce
sua atividade mental sobre os objetos quando opera mentalmente, isto é, quando
observa, compara, classifica, ordena, seria, localiza no tempo e no espaço,
analisa, sintetiza, propõe e comprova hipóteses, deduz, avalia e julga. É assim
que o aluno constrói o próprio conhecimento. Este tipo de procedimento didático
que parte do que o aluno já sabe, permitindo que ele exponha seus conhecimentos
prévios e suas experiências passadas, para daí formar novos conhecimentos,
cientificamente estruturados e sistematizados, exige uma relação professor-aluno
biunívoca, dialógica. Nessa relação o professor fala, mas também ouve, ou seja,
dialoga com o aluno e permite que ele aja e opere mentalmente sobre os objetos,
aplicando à realidade circundante seus esquemas cognitivos de natureza
operativa.
Que o Santo Espirito do Senhor, ilumine o nosso entendimento
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