Em João 8:31 Jesus disse a uns que
haviam crido nEle: "Se vós permanecerdes na minha palavra, verdadeiramente
sereis meus discípulos." E se não permanecer? (E como permanecer se não existe,
na língua da gente?) Em 2 Timóteo
3:16-17 lemos assim: "Toda Escritura é inspirada por Deus e útil para o
ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim
de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa
obra." Um homem de Deus perfeito e perfeitamente habilitado só pode ser um
discípulo que está levando a sério mesmo. A expressão "a fim de que"
nos faz entender que é o uso da Escritura Sagrada que leva a essa condição. 1
Pedro 2:2 nos ensina que a Palavra é nosso alimento; precisamos dela assim como
nenê precisa de leite. Salmo 1:2-3 deixa claro que nossa saúde espiritual
depende da "lei do SENHOR"; é nossa água espiritual e necessitamos
dela todos os dias. Aliás, devemos mesmo é meditar nela. Em Josué 1:8 o próprio
Deus recomenda a Josué meditar no livro da lei dia e noite, e promete o
resultado seguinte: "então farás prosperar o teu caminho e serás bem
sucedido". Enfim, é impossível ser discípulo de Cristo sem acesso efetivo
à Palavra de Deus.
Novamente estou sendo radical; por
"ser discípulo" refiro-me ao manter em pé da condição. Mas será mesmo
necessário meditar na Palavra cada dia? Bem, aí estão vários textos relevantes,
entre outros. Se devemos nos exhortar cada dia, "por causa do pecado que
engana" (Heb. 3:13), quanto mais não devemos olhar em nosso
"espelho" (Tiago 1:22-25) e nos expor à "espada do
Espírito" (Heb. 4:12, Ef. 6:17) cada dia?
Mas
como poderia o Apóstolo Paulo discipular, e como ficaria a situação dos justos
do Antigo Testamento? Devemos lembrar
que Salmo 1:2-3 e Josué 1:8 (e Deut. 32:47) são do Antigo Testamento, mas creio
que as "regras do jogo" mudam um pouco com a progressão da Revelação.
Temos mais que os justos do Antigo Testamento, e certamente Deus vai nos cobrar
mais. Para exemplificar, o padrão da graça é mais elevado que o padrão da lei.
A lei exigia o dízimo, a graça exige 100% (Lc. 14:33). A Lei exigia amar ao
próximo como a si mesmo, a graça exige amar ao irmão assim como o Pai ama o
Filho (João 13:34 e 15:9)! E temos o Espírito Santo que habita em nós. Creio também que a
geração dos Apóstolos foi de certa forma uma época de transição. Mesmo assim,
Paulo se empenhou no sentido de escrever o que faltava, complementando o
material neotestamentário que já existia e que vinha aparecendo. Despedindo-se
dos efésios ele não deixou por menos, dizendo: "encomendo-vos a Deus e à
palavra da sua graça que é poderosa para vos edificar e dar herança entre todos
os santificados" (Atos 20:32). Sei que embora os padrões que a Bíblia
coloca sejam absolutos, ou pelo menos apresentados em termos absolutos, o nosso
viver não é absoluto. Sei. Mas o alvo aí está e não me atrevo a diminuí-lo.
Vamos agora à segunda questão.
Fazer
Discípulos de Quem?
Para começar, toda e qualquer pessoa
se enquadra no âmbito das ordens de Cristo, e portanto é alvo legítimo da
tentativa de discipular. Claro. Isto posto, no entanto, gostaria de voltar à
ordem em Mateus 28:19, "fazei discípulos em todas as etnias". Através
dos séculos e milênios Deus tem demonstrado sua preocupação com o bem estar de
todas as etnias do mundo. A primeira
declaração aberta dessa preocupação está na aliança abraâmica: "em Ti
serão benditas todas as famílias da terra" (Gen. 12:3). Podemos vislumbrar a importância que Deus dá
ao assunto pelo fato inédito dEle repetir essa afirmação quatro vezes mais, a
saber em Gênesis 18:18, 22:18, 26:4 e 28:14! Hebreus 6:13-18 explica que ao
jurar por si mesmo (ver Gen. 22:16-18) Deus deu a garantia máxima ao propósito
declarado. Todas as famílias da terra terão que ser abençoadas. Tanto Pedro
(ver Atos 3:25) como Paulo (ver Gal. 3:8) ligam o Evangelho de Cristo à
promessa divina de abençoar todas as famílias da terra. No Novo Testamento
várias passagens reafirmam esse propósito de Deus: Mateus 12:21 e 24:14, Marcos
13:10, Lucas 2:32 e 24:47. Grande parte de Atos e do ministério de Paulo de
forma geral tem a ver com as nações. Apocalipse 5:9 (onde todos os manuscritos
gregos menos um dizem: "com o teu sangue nos compraste para Deus de toda a
tribo, e língua, e povo, e etnia"), 7:9 e 14:6 são enfáticos, e para
terminar, Apocalipse 22:2.
Muito
bem, o Senhor Jesus quer discípulos em cada etnia. Já no primeiro capítulo
explicamos que devem existir pelo menos 6.000 etnias no mundo, das quais umas
200 no Brasil. E boa parte delas, tanto no Brasil como no mundo, não tem
porta-voz de Cristo ainda. Pior ainda, dois terços das etnias do mundo (e do
Brasil) não têm sequer um versículo da Palavra de Deus na sua língua. Como já
demonstramos, sem a Palavra é impossível manter em pé a condição de discípulo;
de modo que, no momento, estamos sem jeito de fazer discípulos junto a 4.000
etnias. Dá para agüentar isso?
Quando falamos em 2.000 etnias sem
obreiro, ou 4.000 etnias sem Escritura, creio que devemos esclarecer um
detalhe. As etnias ainda não alcançadas são povos minoritários. Embora a
maioria dessas etnias sejam compostas por milhares e dezenas de milhares de
pessoas (e até centenas de milhares), existem etnias com menos de mil pessoas.
No Brasil (e na Austrália) têm muitas etnias bem reduzidas, às vezes com menos
de cem pessoas. Imediatamente uma indagação invade a mente. Será que vale a
pena tentar alcançar um povo assim? (Lembrar que trabalho transcultural
pioneiro é pelo menos dez vezes mais difícil que evangelismo na sua própria
língua e cultura—pode levar anos para conseguir discípulo.)
Tamanho importa? Jesus mandou fazer
discípulo só nas etnias com pelo menos mil pessoas, ou dez mil? Jesus não
mandou pregar a cada pessoa? (Uma etnia reduzida a um único sobrevivente ainda
estaria dentro do âmbito da ordem.) Aqui
eu gostaria de fazer umas perguntas aparentemente simplórias. Alguém escolheu
quem viria a ser seu pai ou sua mãe, onde viria nascer, de que cultura viria
fazer parte? Não escolhi nascer de pais seguidores do Senhor Jesus, para uma
língua que tem a Bíblia há séculos, numa cultura que me permite escolher
qualquer carreira que o mundo atual oferece. Não escolhi, nem mereci; Deus me
deu. De igual modo, nenhum índio catauixi escolheu nascer em plena selva
amazônica, para um povo reduzido, desprezado, perseguido, explorado e quase
acabado, com uma língua que sequer tem forma escrita (ainda), numa cultura que
o condena a morrer na selva sem nenhum conhecimento do Evangelho após uma vida
de luta contra os demônios e o "inferno verde" (quem chamou a selva
de "inferno verde" certamente andou por lá uma vez, pois acertou).
Também ele não escolheu.
Agora
eu gostaria que você pensasse em tudo quanto Jesus representa na sua vida, não
só agora mas no porvir. Pronto? Agora vou pedir uma ginástica da imaginação.
Procure imaginar que nada disso você tem, que de repente você trocou lugar com
um catauixi e você está lá sem Cristo, sem esperança e sem saída, e é ele que
está aqui. Nessa hipótese você não gostaria que alguém achasse que valesse a
pena chegar até você com a luz do Evangelho?
Dito
isso, quero deixar bem claro que não estou aqui para fazer um apelo
emocionante. Não quero que todo mundo saia correndo selva adentro para ver se
acha um índio para evangelizar. Antes, eu diria "não vá!", a não ser
que tenha certeza que é a vontade de Deus para sua vida. Trabalho transcultural
é muito difícil e não se faz na base de apelo emocionante, e nem na base de
romantismo, mas sim na certeza inabalável da vontade específica de Deus para
sua vida. Não há emoção nem idéia romântica que agüente a realidade.
Irmãos, temos que levar a sério o
desafio das etnias não alcançadas. No momento que assim fizermos vamos
enfrentar várias implicações, mas antes de comentá-las vejamos a terceira
questão.
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