Eclesiologia - Teologia 25.14
INSTITUCIONALISMO
ECLESIÁSTICO:
Tem
sido observado que a igreja de Cristo é mais organismo do que organização. Infelizmente, a
prática eclesiástica muitas
vezes contraria esse
conceito essencial. Várias
passagens bíblicas espelham
o mesmo conflito
entre as modalidades institucionais da fé em
contraste com as realidades da fé vividas no
quotidiano. Um
bom começo para
essa investigação seria
Abraão e os
demais patriarcas.
No
livro de Gênesis, os patriarcas em geral parecem adorar a Deus de uma
forma isenta de
institucionalismo. Onde quer
que estejam, eles
constroem altares rústicos
para oferecerem sacrifícios de
forma aparentemente espontânea.
De modo geral,
não existe qualquer
clero ou sacerdote
oficiante para dirigir
ou pronunciar a
aceitabilidade de suas
ofertas, orações ou
posicionamentos. O único caso que foge desse paradigma é o
dízimo de Abraão a Melquisedeque. Tal
evento é o mais próximo que temos a um padrão de culto institucional
entre os patriarcas. Esse
meio de adoração
tem os seus
momentos altos bem
como os baixos nos exemplos de Isaque, Esaú e Jacó, porém
Abraão é tido como o pai da fé pelos
judeus em geral e por Jesus em específico.
No período
do Êxodo, a
forma não institucional
ou programática sofreu
certas alterações no
contexto de um
culto normativo e
aliança perante um
povo numeroso. Mesmo esta
estrutura, porém, não obedece à rigidez institucional dos povos
vizinhos. O livro
de Levítico é
um exemplo supremo
desse princípio. Ali,
todas as regras
mínimas para a
oficialização das ofertas e
sacrifícios são colocadas
de forma aberta
perante a massa
do povo. Não
há qualquer informação
oculta do povo
e qualquer um
poderia cumprir com
os rituais e
oficiar o seu
próprio culto a
Deus. O povo como um
todo é nação
sacerdotal, mesmo que existam
sacerdotes oficiais para atuação no Tabernáculo e depois no Templo. Na realidade, a prática de altares
pessoais com o exercício pessoal de
oferecer ofertas e
sacrifícios pode-se ver
longe do Tabernáculo
em Juízes e 1a Reis 3. Até a construção do Templo de
Salomão, qualquer lugar servia como lugar
próprio para adorar a Deus e para a construção de altares de
sacrifício.
Em
1a Samuel 3, Eli está julgando Israel, sendo o proeminente sacerdote do
povo, concentrando um
certo poder político
junto com o
cargo clérico. A
institucionalização do culto,
porém, não encontra
aceitação completa perante
Deus. O texto diz que já era rara a voz de Deus naqueles dias. Em lugar
de utilizar a forma
oficializada da religião,
Deus chama ao
jovem Samuel. Eli
estava aparentemente invocando
a presença e
palavra divina. Mesmo
assim, Deus escolhe
ignorar as suas
tentativas de incubação
para atender àquele
que está prestes a ouvir e atender, não ao clero
oficial. A forma religiosa externa não é
eliminada, mas existe por trás da cena um movimento de fé real que
caminha em paralelo ao culto oficial
formalizado.
Esta
mesma temática aparece mais adiante em 1a Samuel 17, onde Deus agora convoca
Samuel a deixar
o rei Saul
em exercício e
seguir adiante para
ungir o novo
libertador que Deus
está pronto a
utilizar. Saul permanece
oficialmente como sendo o rei de
Israel, mas é através de Davi que Deus atua para conseguir a libertação do povo perante a ameaça
filistina. Davi é o veículo de libertação nos
moldes dos juízes, agora em oposição à estrutura política e eclesiástica
oficial da nação.
Começa em
1a Reis 3,
no início do
reinado de Salomão,
uma certa união
da estrutura política com a
religiosa a partir da centralização do culto no templo que Salomão pretendia construir. Neste período,
o Templo toma o lugar dos altares particulares
e centraliza o culto em padrões oficiais
da instituição religiosa. No
decorrer dos reinados,
haverá uma crescente
distância entre a
forma oficial religiosa e o culto real a Deus. Os reis
começam pouco a pouco a se desviarem de
Deus, seguindo e estimulando culto aos ídolos de sua volta. O auge do
desvio se vê na época do profeta Elias
e do rei Acabe.
Nos
dias de Elias, descritos essencialmente em 1a Reis 17-19, a estrutura
religiosa e política
oficial está longe
de prestar atenção
a Deus, enquanto
restam pelo menos 7.000 homens fiéis a Deus. Elias
encontra-se deprimido pela ausência de
pureza
e fidelidade a Deus nas estruturas oficiais, mas é alertado que Deus não se preocupa com as instituições humanas.
Deus ocupa-se dos indivíduos dentre o
povo que se mantém fieis em serviço e adoração real. Deus pode não estar
no lugar esperado,
nem aparecer da
forma esperada. Mesmo
assim, Deus está
presente, não deixa desamparado o remanescente fiel.
Eliseu,
Jeremias e os profetas menores seguem a mesma temática, chamando o povo de volta a uma adoração real e sincera,
muitas vezes despreocupados com as
formas institucionalizadas do culto a
religião oficial do povo. No período de
Eliseu, parece que nem existe uma forma organizada de culto a Deus. O
rei está cercado de sacerdotes e
profetas, mas todos parecem falsos, a não ser Eliseu.
Em
Mateus 5-7, Jesus toca na mesma temática, que também havia sido tratada por
João Batista. As
formas externas da
religião não serviam
para nada. O
interesse real era o compromisso interno do indivíduo perante Deus. As
formas externas do
reinar de Deus
não tinham tanta
importância como a
disposição interna de
confiar em
Deus. No capitulo
28, as palavras
de Jesus revelam
o mesmo tipo de pensar. Em Atos,
Lucas descreve a mesma preocupação de Jesus
em outras palavras. Ele reflete ainda mais a despreocupação com o reinar
visível
de
Deus (no reino político terrestre), enfatizando o testemunhar da identidade
e mensagem redentora de Deus, não a
construção de órgãos oficiais.
Olhando
bem, Jesus tem críticas severas para os líderes religiosos do seu tempo. O problema não era inerente às estruturas em
si, nem o haver ou não liderança
específica ou capacitada. A razão da crítica se radicava no
distanciamento que o institucionalismo
havia posto entre as formas religiosas e
o relacionamento do indivíduo
com Deus. Estruturas
sempre existirão e
sempre serão necessárias,
mas elas nunca deveriam ser um fim em si. Assim não se deveria
deixar que o relacionamento com
Deus se transformasse
num relacionamento com
uma estrutura, uma
organização, uma instituição
ou com um
padrão de conduta
externa (legalismo). Para tanto, as estruturas precisam sempre estar sob
reforma e readequação,
procurando sempre a
forma mais adequada
para encorajar o
indivíduo no seu relacionamento de dependência de Deus e no cumprimento
da missão. Nunca se deve deixar que as
estruturas tomem o lugar do compromisso
interior com Deus.
Nos
primeiros séculos depois de Cristo, o evangelho cresceu espantosamente no mundo greco-romano. Não havia rigidez de
formas e estruturas específicas, mas
havia vários tipos de formas organizacionais. Cada grupo de cristãos
procurava o
método
mais apropriado para suas reuniões e a realização da missão que Deus havia
entregue aos servos
- “Discipulai as
nações”. Quando Constantino
institucionalizou a igreja,
oficializando o cristianismo
como religião do
Império Romano, houve
uma mudança na
preocupação com a
expansão da igreja.
Na verdade, as mudanças haviam
principiado antes da oficialização do cristianismo, num movimento institucionalizante que estava
já começando a reinar no mundo
cristão. Com a
oficialização, houve uma
politização religiosa. Nesse
quadro político, a igreja perdeu
o seu ímpeto e zelo missionário, ocupando-se mais com o poder e o controle de suas conquistas.
Perdeu-se a missão com um enfoque
interno visando à manutenção.
O grande
perigo das instituições,
organizações e estruturas
do evangelho é
de perder de
foco a missão
e prestigiar a
própria estrutura mais
do que a
dependência de Deus. Estruturas e programas não são o evangelho.
Instituições e organizações
não são o
reinar de Deus.
O reinar de
Deus é no
interior do indivíduo. Este procura formas de dar
expressão ao reinar de Deus em sua vida.
O problema é de confundir a expressão externa com a realidade interna.
Quando tal acontece,
a vida sob
o reinar de
Deus é transformada
em ativismo e
manutenção de
estruturas religiosas da
criação do ser
humano. Começamos a
transformar a imagem de Deus, servindo ao trabalho de nossas próprias
mãos.
Que o Santo Espirito do Senhor, ilumine o nosso entendimento
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