Eclesiologia - Teologia 25.16
ROMANOS 6.1-11:
A
passagem central da Bíblia para tratar da essência do batismo é Romanos
6.1- 11. Por norma, lida se com a
definição do termo grego (baptivzw) como sendo
“imergir”, “submergir”, “mergulhar” ou mesmo “colocar de molho”. Vale
lembrar que o
termo pode também
denotar aspectos de
“lavar”, não sendo
completamente necessário designar o termo no sentido estrito de um
mergulho completo num fluido. Ao mesmo
tempo, tal uso do termo seria mais restrito, não podendo ser colocado como intenção normativa
para o emprego do termo.
Na
passagem de Romanos, o texto pode ser melhor traduzido e compreendido no sentido de “participar de” ou “ser unido
a”, assim espelhando algo do caráter
simbólico do ser
envolto num fluido.
Nestes termos, oferece-se
a seguinte tradução do texto:
O que,
portanto, diremos? Permaneceremos no
pecado para que
a graça superabunde?
Jamais aconteça! Quantos
morremos para o
pecado, de alguma
forma ainda viveremos
nele? Ou ignorais
que quantos participamos (ejbaptivsqhmen) em Cristo Jesus , na sua
morte participamos (ejbaptivsqhmen)?
Portanto, sepultados com
ele através da
participação
(baptivsmato") em sua
morte, para que como foi levantado Cristo da morte através da
manifestação do Pai, assim tambem nós
em novidade de vida caminhemos. Pois se unidos fomos feitos na similitude da sua morte, quanto
mais da sua ressurreição seremos. Isto
reconhecendo, que o
nosso antigo homem
foi crucificado junto,
para abolir o
corpo do pecado,
não mais nos
escraviza o pecado,
pois o morto
foi declarado justo
em relação a
seu pecado. Mas se
morremos com Cristo,
cremos que também viveremos com ele. Percebendo que
Cristo foi levantado dos mortos, não
mais morre. A
morte dele não
mais domina. Quem,
pois, morreu, ao
pecado morreu de
uma vez por
todas, mas quem vive, vive
para Deus. Assim
também vós, considerem-se
a si mesmos
mortos deveras ao
pecado, mas vivendo
para Deus em Cristo Jesus.
Porque trabalhar
toda esta passagem
para delimitar o
uso de um
termo que aparece
três vezes só
no começo? Primeiramente, pode-se
ver que há
outros termos utilizados em
paralelo com o termo baptivzw em sentido de “participar em” ou “unir-se a”. A passagem como um todo
reflete o conceito de estar unido
a Cristo, vivendo
em união com
Ele. O emprego
do termo batizar,
portanto, reflete aqui o
contexto desta união. Geralmente se discute a questão da morte de Jesus equiparar a ou valer pela morte do
indivíduo para o pecado, mas o tema
aqui vai além
dessa compreensão limitada.
A ênfase é
de que o
indivíduo participa plenamente
da vida, morte e ressurreição de Cristo, bem como vive em plena união com Cristo.
Paulo emprega
aqui duas formas
do termo batismo
(baptivzw), não acrescentando um significado de união, mas
traçando um elo com um significado
já existente ao
emprego do termo
e da prática.
O tratamento do
significado como “mergulhar para
dentro de” já está ligado com o conceito de união, mas a prática originária do batismo
também.
Já
se tratou a questão do emprego do termo “batizando” na Grande Comissão referenciar a conversão do indivíduo,
espelhado no ato de lavar-se de sua vida e
prática religiosa antiga
para ingressar em
uma nova vida (tanto em
termos de conceito
religioso, como de
prática moral). Em
geral, fala-se somente
sobre o lavar-se do antigo, mas o batismo também é
símbolo de um novo revestimento. O
indivíduo lava-se do antigo, vestindo-se do novo. O prosélito ao judaismo
que se
batizava estava por um lado
rejeitando o seu
passado, mas pelo
outro lado unindo-se à sua nova vida de participação na
aliança com Deus.
Esta participação na
aliança espelha a
questão veterotestamentária da
circuncisão, sendo um
ritual externo vinculado
a conceitos de
limpeza e moralidade.
Há também a
reflexão na celebração
da ceia de
Senhor de participação
na nova aliança
no sangue do
seu sacrifício. Assim,
o batismo era
um vínculo, ou
expressão externa da
aceitação da aliança
proposta por Deus
uma forma externa de visualizar e proclamar em público a conversão de
vida.
João,
o Batista, pregava ao judeu sobre a necessidade de arrepender-se e vir a participar
da aliança como
se fosse um
prosélito. Tal arrependimento incluía
tanto a questão
de lavar-se de
sua dependência na
sua genealogia, nos
seus
costumes e
nas suas tradições,
como também incluía
a questão de
inserir-se dentro da aliança de
forma comprometida.
Nesta
luz, o batismo é mais do que mergulho temporário na água e mais do que o
livrar-se de um
passado de descomprometimento e
falta de confiança
em Deus. É também símbolo
de participação da
nova vida de
união com e
dependência em Cristo. É retrato da vida vivida para Deus direcionada a Deus, e não mais ao pecado. Inclui o lavar-se,
como também o ser revestido de Cristo.
Por outro
ângulo, deve-se fazer
certa distinção entre
o batismo como
um ato religioso e a prática de sua utilização no
contexto institucional de membresia na
pessoa jurídica da igreja local. Parte da problemática enfrentada na
questão do batismo visa a preocupação
com o aspecto da igreja como pessoa jurídica.
É
comum aproveitar o batismo como via de ingresso à membresia de uma igreja local,
mesmo com vínculo
à decisão de
inclusão ou aceitação
feita numa assembléia
da igreja. Em
parte, esta forma
de associar ou
vincular o aspecto
espiritual do batismo
com a questão
legal de membresia
na pessoa jurídica
é prejudicial a uma boa
compreensão do batismo. Isto porque evita-se batizar um indivíduo até que a igreja possa comprovar a
conversão do mesmo, quando na
Bíblia é
o batismo que
serve de profissão
pública de fé.
De fato, o
Novo Testamento utiliza
o batismo da
mesma forma que
a igreja atual
utiliza a chamada “oração do pecador”. O batismo era
ritual de iniciação do crente.
O
crente deveria ser batizado na pessoa de Jesus ou seja, ser imerso em Cristo ou
unido por completo
a Ele. Não
é tão importante
a frase associada,
nem a forma em si, mas a realidade do compromisso
e da união vital com Cristo que o
batismo representa. Aproveitar o evento demonstrativo desta união com
Cristo para designar ao mesmo tempo o
ingresso na membresia da igreja local gera as
suas dificuldades, mesmo que haja boa e sincera motivação nessa
prática.
Ao tratar
a questão, deve-se
salientar que Paulo
usa verbos no
passado e também no tempo futuro ao retratar o
batismo. A questão do espelho e união na
morte de Jesus é tratada no tempo passado, enquanto a questão da
ressurreição de Cristo é ainda futura.
Poderia-se tratar o símbolo do batismo com o sentido de
que ainda estamos
sepultados com Cristo
na expectativa de
nossa ressurreição.
Que o Santo Espirito do Senhor, ilumine o nosso entendimento
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