História De Israel – Teologia 31.134
CAPÍTULO 4
JOSÉ, SOBRINHO DO SUMO SACERDOTE ONIAS, OBTÉM DE PTOLOMEU,
REI
DO EGITO, O PERDÃO PARA O TIO, CONQUISTA AS BOAS GRAÇAS DO
PRÍNCIPE
E FAZ GRANDE FORTUNA. HIRCANO, FILHO DE JOSÉ, COLOCA-SE
TAMBÉM
OTIMAMENTE NO ESPÍRITO DE PTOLOMEU. MORTE DE JOSÉ.
459. José, filho de
Tobias e de uma irmã de Onias, o qual, embora muito jovem, era tão sensato e
virtuoso que todos o honravam em Jerusalém, tendo sabido de sua mãe, no seu
país natal, de nome Ficola, que chegara um homem da parte do rei para o fim de
que falamos, foi imediatamente ter com Onias, seu tio, e disse-lhe que era
estranho que, tendo sido escolhido pelo povo para a honra do sumo sacerdócio,
tivesse tão pouco interesse pelo bem público, a ponto de não temer colocar
todos os seus concidadãos em perigo por não pagar o que devia. Se a sua paixão
pelo dinheiro era tão grande que o fazia desprezar os interesses do país, ele
devia pelo menos ir ter com o rei e pedir-lhe que perdoasse toda ou parte da
soma a pagar.
Onias respondeu-lhe que pouco se importava com o sumo
sacerdócio e preferia renunciá-lo a procurar o rei. José, então, rogou que lhe
permitisse falar ao rei em nome dos habitantes de Jerusalém. Tendo obtido com
facilidade a permissão, mandou reunir todo o povo no Templo e disse-lhes que a
negligência de seu tio não os devia atemorizar e que se oferecia para ir falar
com o rei, da parte deles, a fim de provar-lhe que nada haviam feito que
pudesse desagradá-lo. O povo agradeceu-lhe muito, e José foi imediatamente
procurar o deputado do rei, levou-o à sua casa, tratou-o bem durante alguns
dias, deu-lhe muitos presentes e disse que o seguiria até o Egito. Tanta
delicadeza, unida à franqueza e às excelentes qualidades de José, ganharam de
tal modo o coração de Ateniom que ele mesmo o exortou a fazer aquela viagem e
prometeu-lhe uma boa ajuda, a fim de que ele sem dificuldade conseguisse do rei
tudo o que desejava.
Quando o deputado regressou para junto do rei, censurou
muito a ingratidão de Onias, mas não poupou elogios a José e garantiu-lhe as
razões do povo, cuja defesa fora obrigado a empreender por causa da negligência
do tio. O mesmo deputado continuou a prestar tão bons serviços a José que o rei
e a rainha Cleópatra, sua mulher, conceberam grande afeto por ele, mesmo antes
de tê-lo visto. José arranjou dinheiro com amigos que tinha em Samaria. Empregou
vinte mil dracmas nos pre-parativos e partiu para Alexandria. Encontrou no
caminho os mais ilustres das cidades da Síria e da Fenícia, que iam tratar com
o rei sobre o tributo que deviam pagar, o qual o príncipe impunha todos os anos
aos mais ricos. Eles zombaram da pobreza de José, e aconteceu que, quando
chegaram, o rei voltava de Mênfis.
José foi à sua presença e encontrou-o ainda no carro com a
rainha sua esposa. Ateniom lá estava também e, logo que viu José, disse ao rei
que era aquele o judeu de quem havia falado. O rei saudou-o, pediu que subisse
ao carro e fez-lhe amargas queixas de Onias. José respondeu que o rei devia
perdoar a velhice do tio, pois os velhos em nada diferem das crianças, e que
ele e todos os outros, que eram jovens, nada fariam que pudesse desagradá-lo.
Essa resposta tão sensata aumentou ainda a afeição que o rei já concebera por
ele. Ordenou que o alojassem no palácio e convidou-o à sua mesa. Isso causou
não pouco desprazer aos sírios que José havia encontrado no caminho.
No dia da adjudicação dos tributos, os da Síria, da Fenícia,
da judéia e de Samaria, todos juntos, chegaram à soma de oito mil talentos.
José, então, censurou-os por se reunirem para contribuir com tão pouco e
ofereceu-se para dar duas vezes aquela importância e deixar ainda, em favor do
rei, o confisco dos condenados, do qual pretendiam aproveitar-se. O rei viu com
prazer que José aumentava as suas rendas, mas perguntou que cauções oferecia.
José respondeu, com gentileza, que eram muito boas, as quais o rei não poderia
recusar. O rei pediu-lhe que as apresentasse, e ele disse: "Minhas
cauções, majestade, serão vossa majestade e a rainha, pois ambos respondereis
por mim". O príncipe sorriu e adjudicou-lhe os tributos sem exigir caução.
Assim, os homens ilustres das outras cidades, que também estavam ali, voltaram
confusos para os seus países.
José tomou depois dois mil homens das tropas do rei, a fim
de forçar os recusantes a pagar os tributos, e, depois de entregar a Alexandre
quinhentos talentos da parte dos que estavam em melhor condição na corte, foi
para a Síria. Os habitantes de Asquelom foram os primeiros a desprezar as suas
ordens. E, não se contentando em não querer pagar, ultrajaram-no com palavras.
Mas ele soube castigá-los. Ordenou imediatamente a prisão de vinte dos
principais do povo e os mandou matar. Depois escreveu ao rei, para prestar
contas do que havia feito, e enviou-lhe mil talentos, provenientes do confisco.
O príncipe ficou tão satisfeito com o seu proceder que o elogiou magnificamente
e permitiu que, dali por diante, fizesse do confisco o uso que desejasse.
O castigo dos ascalonitas encheu de temor as outras cidades
da Síria, que lhe abriram as portas e pagaram o tributo sem dificuldade alguma.
Os habitantes de Citópolis, contudo, também recusaram pagar e igualmente
ultrajaram José. Ele os tratou como aos ascalonitas e enviou também ao rei o
que obteve do confisco. Aumentando as rendas do rei, fez a si mesmo um grande
benefício. E, como era muito sensato, julgou dever servir-se disso para aumentar
o próprio prestígio. Por isso, não se contentou em dar inteira satisfação ao
príncipe, mas fez grandes pre-sentes aos que desfrutavam o favor do soberano e
aos mais ilustres da corte.
460. José passou vinte e dois anos desse modo, sempre em
franca prosperidade. Teve sete filhos de uma esposa e um oitavo, de nome
Hircano, de outra, que era filha de Solim, seu irmão, e que desposara como vou
narrar. Partiu ele para Alexandria com Solim, que para lá levara a filha a fim
de casá-la com alguma personalidade importante de sua nação. José ceava com o
rei, e uma jovem muito bela dançou com tanta graça diante do príncipe que
conquistou o coração de José. Ele falou com o irmão e rogou-lhe que, como a sua
lei não lhe permitia desposá-la, providenciasse um meio para que pudesse tê-la
como senhora. Solim o prometeu, mas à noite, em vez disso, mandou colocar na
cama de José a própria filha, muito bem trajada. José, que naquele dia estava
muito contente, não percebeu a fraude.
O amor de José aumentou ainda mais, e ele disse ao irmão
que, não podendo vencer aquela paixão, temia que o rei não lhe quisesse mais
dar aquela jovem. Solim disse-lhe para não ficar apreensivo, pois poderia, sem
temor, satisfazer o seu desejo e desposá-la. Disse-lhe depois quem ela era e de
como preferira permitir que a própria filha sofresse aquela vergonha a deixar
que ele se submetesse a outra ainda maior. José agradeceu-lhe o afeto
demonstrado e desposou a filha dele, da qual teve Hircano, de quem acabamos de
falar. Este demonstrou, desde a idade de treze anos, tanta inteligência e
sabedoria que sobrepujava todos os outros irmãos. Mas as suas excelentes
qualidades, em vez de fazê-lo amado, despertaram neles ódio e inveja.
José, querendo saber qual dos filhos do primeiro matrimônio
era o melhor, mandou educá-los e instruí-los com grande cuidado por excelentes
mestres. Eram, porém, tão preguiçosos que voltaram dos estudos tão ignorantes
como quando partiram. Mandou depois Hircano, que era o mais jovem de todos, com
trezentos pares de bois para o deserto, a sete dias dali, a fim de fazê-lo
trabalhar a terra e semeá-la, mas deu ordem para que, secretamente, se tirassem
os arreios necessários para os atrelar. Assim, quando Hircano chegou ao lugar
determinado, aconselharam-no a voltar ao seu pai para obter os arreios. Como,
no entanto, ele não queria perder tempo, serviu-se de um expediente que
superava a sua idade. Mandou matar uns vinte daqueles bois, deu a car-ne para
os servos comerem e usou o couro para fazer os arreios. Assim, arou e semeou a
terra. O pai, ao regresso dele, abraçou-o e o louvou muito por aquela atitude.
Essa demonstração de juízo e inteligência aumentou ainda mais o afeto que o pai
sentia por ele, e José sempre o amou como se fosse o único filho. Entretanto
crescia cada vez mais entre os irmãos de Hircano o despeito e a inveja.
A notícia de que o rei Ptolomeu tivera mais um filho causou
muita alegria e regozijo em toda a Síria. Os mais ilustres do país foram, por
esse motivo, com grande aparato a Alexandria. José foi obrigado a ficar, por
causa da idade avançada, mas pediu aos filhos do primeiro matrimônio que
fizessem aquela viagem. Eles não quiseram ir porque, diziam, não conheciam os
costumes da corte nem sabiam tratar com os reis, mas que ele poderia enviar
Hircano, o irmão mais moço. José ficou muito satisfeito com essa proposta e
perguntou a Hircano se estava disposto a ir. Ele respondeu que sim e que dez
mil dracmas lhe seriam suficientes, porque não queria fazer muitas despesas.
Quanto aos presentes que devia oferecer ao rei, julgava que não seria preciso
enviá-los por ele, mas poderia mandar que lhe fosse entregue em Alexandria o
dinheiro necessário para comprar algo raro e de grande valor e oferecê-lo, de
sua parte, ao príncipe.
O pai, que era bom administrador, ficou tão satisfeito com a
moderação e sabedoria do filho que julgou que dez talentos bastariam para os
presentes e escreveu a Ariom que os entregasse. Ariom era o encarregado de
manusear todo o dinheiro que se mandava da Síria para Alexandria para pagar ao
rei os tributos quando o prazo expirasse. Passavam-lhe todos os anos pelas mãos
mais ou menos três mil talentos. Hircano partiu com as cartas e, chegando a
Alexandria, entregou-as a Ariom. Este perguntou a Hircano quanto iria querer,
julgando que ele pediria dez talentos ou um pouco mais. Mas ele exigiu mil
talentos.
O homem ficou tão encolerizado que o repreendeu, dizendo-lhe
que, em vez de seguir o exemplo do pai, que economizara e ajuntara riquezas com
trabalho e moderação, ele queria gastá-las em superfluidades e em coisas
desnecessárias e que só lhe daria dez talentos, conforme a ordem recebida e
ainda com a condição de serem empregados unicamente na compra de presentes para
o rei. Hircano, irritado com essa resposta, mandou prender Ariom, mas como esse
homem tinha grande prestígio perante a rainha Cleópatra, mandou a esposa
procurá-la para informar o que se passava e suplicar que mandasse castigar tão
grande insolência.
A princesa falou com o rei, que logo mandou perguntar a
Hircano por que, tendo sido enviado a ele por seu pai, não viera ainda
cumprimentá-lo e por que mandara colocar Ariom na prisão. Ele respondeu que a
lei de seu país proibia aos filhos de família provar carnes imoladas antes que
entrassem no Templo para oferecer sacrifícios a Deus, e ele julgara que não
devia comparecer diante de sua majestade até poder oferecer os presentes de que
seu pai o havia encarregado, nara demonstrar o seu reconhecimento pelos favores
que devia ao soberano.
Quanto a Ariom, ele o havia castigado com justiça por não
ter querido obedecer-lhe, pois os senhores, quer grandes, quer pequenos, têm
igual poder sobre os seus servidores, e, se os particulares não fossem
obedecidos pelos seus senhores, os próprios reis poderiam ser desprezados pelos
seus súditos. O rei sorriu e admirou a resolução do moço. Assim, Ariom não fez
mais oposição a ele e, para sair da prisão, entregou os mil talentos que ele
pedia.
Três dias depois, Hircano foi prestar a sua homenagem ao rei
e à rainha, que o receberam muito favoravelmente, concedendo-lhe a grande honra
de comer à sua mesa, pelo afeto que nutriam por seu pai. Ele comprou depois
secretamente cem moços belos e apresentáveis e instruídos nas letras, que lhe
custaram um talento cada um, e também cem moças, pelo mesmo preço. O rei, em
seguida, deu um banquete aos mais ilustres de suas províncias e mandou
convidá-lo, porém o colocaram no lugar mais afastado. Os outros convidados
desprezavam-no por sua pouca idade e por isso puseram diante dele os ossos das
iguarias que haviam comido, sem que Hircano se mostrasse ofendido.
Então, um certo Trifom, que fazia alarde ao zombar de todos
e divertia o rei com os seus chistes, disse, para fazer rir os convidados:
"Majestade! Veja a quantidade de ossos que está diante de Hircano e poderá
assim imaginar de que maneira o seu pai rói toda a Síria". Essas palavras
provocaram gargalhadas, e o rei perguntou a Hircano como é que ele tinha diante
de si tantos ossos. Respondeu ele: "Vossa majestade não se deve admirar,
pois os cães comem os ossos com a carne, como vossa majestade pode ver que
fizeram os que estão à mesa" — e indicou os convidados —, "pois nada
mais resta diante deles. Mas os homens se contentam em comer a carne e deixar
os ossos, como eu fiz, pois sou homem". O rei ficou tão satisfeito com
essa resposta que proibiu aos convidados se ofenderem.
No dia seguinte, Hircano foi à casa dos mais estimados pelo
rei e perguntou aos servidores que presentes os seus amos haviam preparado para
dar ao rei pelo nascimento do príncipe seu filho. Disseram-lhe que uns dariam
doze talentos, outros, um pouco mais ou um pouco menos, cada qual segundo as
suas posses. Ele fingiu-se aborrecido porque, dizia, não tinha meios para dar o
mesmo e apenas poderia oferecer-lhe cinco. Os servidores contaram tudo aos seus
senhores, que se alegraram, convencidos de que o rei ficaria insatisfeito ao
receber de Hircano um presente tão mesquinho.
Chegou o dia, e os que maior presente deram ao rei
ofereceram-lhe vinte talentos. Hircano ofereceu ao príncipe os cem moços que
havia comprado, cada qual apresentando-lhe um talento, e à rainha, as cem moças
de que falamos, cada uma delas entregando também o mesmo presente à soberana. O
rei, a rainha e toda a corte ficaram extraordinariamente admirados com tão
grande e surpreendente magnificência. Mas Hircano não se limitou a isso. Deu
também presentes de grande valor aos que desfrutavam maior prestígio perante o
rei e aos seus oficiais, a fim de que lhe fossem favoráveis e o salvassem do
perigo em que o colocaram algumas cartas de seus irmãos, que pediam para a
qualquer custo a sua morte.
O rei ficou tão comovido com a sua generosidade que lhe
disse para pedir o que quisesse. Ele respondeu que desejava apenas que sua
majestade escrevesse em seu favor ao seu pai e a seus irmãos. O príncipe o fez
e escreveu também aos governadores de suas províncias, recomendando-o. E,
depois de lhe dar provas de muito particular afeição, despediu-o com grandes
presentes.
Os irmãos de Hircano souberam, com grande desprazer, da
grande honra que o rei lhe prestara, e partiram ao seu encontro com a
deliberação de matá-lo, sem que o pai se atrevesse a impedi-los, embora o
soubesse, mas estava encole-rizado por haver ele gastado nos presentes tão
grande soma de dinheiro. Só não ousava manifestar-se por temer o rei. Assim, os
irmãos atacaram Hircano no caminho. Ele, porém, defendeu-se tão valentemente
que matou dois deles e vários dos que os acompanhavam. O resto fugiu para
Jerusalém, e Hircano ficou muito surpreso, quando lá chegou, por ver que
ninguém o vinha receber. Então retirou-se para além do Jordão e ocupou-se em
receber os tributos que os bárbaros deviam pagar.
Seleuco, cognominado Sóter, filho de Antíoco, o Grande,
reinava então na Ásia. José, pai de Hircano, morreu nessa época, depois de
recolher os tributos da Síria, da Fenícia e da Samaria durante vinte e dois
anos. Era um homem de bem, de grande inteligência e tão hábil nos negócios que
tirou os judeus da pobreza em que jaziam e os pôs em condições de viver
comodamente. Onias, seu tio, morreu também pouco depois e deixou Simão, seu
filho, como sucessor no sumo sacerdócio, o qual teve também um filho, de nome
Onias, que o substituiu no cargo. Ario, rei da Lacedemônia,* escreveu-lhe a
seguinte carta.
____________________
* Ou Esparta.
Que o Santo Espirito do Senhor, ilumine
o nosso entendimento
Não perca tempo, Indique esta maravilhosa
Leitura
Custo:O Leitor não paga Nada,
Você APENAS DIVULGA
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