História De Israel – Teologia 31.266
CAPÍTULO 7
A EXTREMA IMPRUDÊNCIA DE SILAS, GENERAL DAS TROPAS DE
AGRIPA, LEVA ESSE PRÍNCIPE A PÔ-LO NUMA PRISÃO. FORTIFICA JERUSALÉM, MAS O
IMPERADOR CLÁUDIO O PROÍBE DE CONTINUAR. SUAS EXCELENTES
QUALIDADES. SEUS SOBERBOS EDIFÍCIOS. MOTIVO DE SUA AVERSÃO
POR
MARCOS, GOVERNADOR DA SÍRIA. ELE ENTREGA O SUMO SACERDÓCIO A
ELIONEU. MORRE DE MANEIRA HORRÍVEL. DEIXA COMO SUCESSOR O
SEU
FILHO AGRIPA. HORRÍVEL INGRATIDÃO DOS HABITANTES DE CESARÉIA
E DE
SEBASTE PARA COM A SUA MEMÓRIA. O IMPERADOR CLÁUDIO ENVIA
FADO PARA GOVERNAR AJUDÉIA, POR CAUSA DA MENORIDADE DE AGRIPA.
822. Silas, general
das tropas do rei Agripa, como dissemos, lhe fora tão fiel durante as
adversidades, que jamais se recusou a tomar parte com ele nos perigos e nunca
deixou de se expor às situações mais arriscadas para lhe dar provas disso.
Porém o mérito adquirido junto do rei por tantos serviços prestados concebeu
nele tal confiança que ele não admitia ser tratado como subalterno. Esquecendo
o respeito que devia ao soberano, falava-lhe sempre em tom de reprimenda e com
uma liberdade que não se usa ao falar com os reis, e discorria sobre a sua
infelicidade passada, exagerando na rememoração dos favores que lhe prestara e
dos sofrimentos que experimentara por causa dele.
Essa aborrecida e imprudente maneira de agir tornou-se
insuportável ao príncipe, porque nada é mais enfadonho que a renovação das
lembranças desagradáveis nem mais ridículo que a menção insistente dos favores
e serviços que se prestou a alguém. Por fim, o descontentamento que Agripa
sentiu foi tão grande que, cedendo à cólera mais que à razão, não somente
privou Silas de seu cargo como também o encerrou numa prisão, na cidade de seu
nascimento. Algum tempo depois, no entanto, acalmou-se, ao recordar os favores
que dele recebera, e mandou chamá-lo para tomar parte num banquete que oferecia
aos amigos.
Silas, todavia, por ser incapaz de dissimular e porque
estava convencido de que o rei lhe fizera uma grave injustiça, assim falou aos
convidados: "Vós estais vendo a honra que o rei hoje me faz, mas ela não
durará muito. Dela ele me irá privar, do mesmo modo como me destituiu — de
maneira ultrajosa — do cargo que a minha fidelidade havia conquistado. Poderá
ele persuadir-se de que eu deixarei de falar com liberdade? Como a minha
consciência de nada me censura, publicarei sempre em alta voz as dificuldades
de que o livrei e as amarguras que experimentei em prol de sua conservação e
para a sua glória, bem como as cadeias e a escuridão de um cárcere que me foram
dadas como recompensa. Tão grande injúria não é daquelas que se podem esquecer,
e dela não me recordarei somente durante o resto de minha vida, mas também após
a minha morte". Esse homem, tão imprudente quanto fiel, não se contentando
em falar desse modo aos convidados, rogou que o dissessem ao rei. E este,
percebendo então que aquela loucura era incurável, tornou a mandá-lo para a
prisão.
823. Agripa dirigiu depois os seus cuidados a Jerusalém.
Empregou o dinheiro público para aumentar e reedificar os muros da nova cidade,
e a teria tornado tão forte que ela seria inexpugnável. Porém Marcos,
governador da Síria, avisou o imperador, e este ordenou a Agripa que não
continuasse o trabalho, e ele não ousou desobedecer.
824. Esse rei dos
judeus era tão liberal e benéfico e tão afeiçoado aos seus súditos que não lhes
poupava despesa alguma. E, por suas louváveis ações, alcançou celebridade e
crédito junto deles. Era muito diferente de Herodes, seu avô, que era cruel e
preferia os gregos aos judeus, como se pode julgar pelas vultosas somas que ele
investiu para construir e embelezar cidades, Templos, teatros, banhos e outros
suntuosos edifícios fora de seu país, sem jamais se ter dignado empreender algo
semelhante na Judéia. Agripa, no entanto, era manso e afável para com todos.
Tratava bem os seus súditos e os estrangeiros e tinha uma satisfação particular
em aliviar os aflitos. Fazia a sua moradia ordinariamente em Jerusalém, e não
se passava um dia sem que ele oferecesse sacrifícios a Deus, como ordenam as
nossas leis, pois ele era muito religioso e observava os costumes de nossos
antepassados.
825. Durante uma
viagem que ele fez a Cesaréia, um doutor da lei, chamado Simão, teve a ousadia
de acusá-lo publicamente, em Jerusalém, de ser um viciado, ao qual se devia
recusar a entrada no Templo, pois tal só era permitida às pessoas castas. O
governador da cidade avisou Agripa do ocorrido, e ele solicitou-lhe que fosse
buscar aquele homem. Simão foi avisado, e, quando chegou a Cesaréia, o príncipe
já se encontrava no teatro. Agripa convidou-o a sentar-se junto de si e
falou-lhe com voz suave e sem se irritar: "Dizei-me, eu vos peço, quais
são os vícios de que me acusais?" Aquele homem ficou tão confuso que, não
sabendo o que responder, suplicou ao rei que o perdoasse, e este o perdoou no
mesmo instante, dizendo que os reis devem preferir a clemência ao rigor e fazer
com que a cólera seja vencida pela moderação. A sua bondade foi ainda além,
pois ele despediu Simão com presentes.
826. Muitas cidades
sentiram os efeitos da generosidade desse soberano. Ele nada poupou para erigir
em Berito um suntuoso teatro e um anfiteatro, banhos e galerias que não lhe
eram inferiores em beleza. Diversos concertos de música e outros divertimentos
tiveram lugar pela primeira vez nesse teatro. Com o propósito de divertir o
povo e para que se visse no meio da paz uma imagem da guerra, mandaram vir ao
anfiteatro mil e quatrocentos homens condenados à morte, que foram divididos em
dois grupos. O combate foi tão obstinado e sangrento que, de todo esse grande
número, nem um só ficou com vida.
827. Depois disso,
ele foi de Berito a Tiberíades, cidade da Galiléia. E os príncipes seus
vizinhos — Antíoco, rei de Comagena; Sampsigeram, rei de Emesa: Cotis, rei da
Pequena Armênia; Polemom, príncipe do Ponto; Herodes, rei da Cálcida, irmão de
Agripa — vieram procurá-lo, porque muito o estimavam. Ele, por sua vez,
tratou-os com a bondade e a magnificência correspondentes à dignidade de
receber visitas tão honrosas. Quando estavam todos reunidos, Marco, governador da
Síria, veio também visitá-lo. Agripa, querendo prestar-lhe a honra que era
devida ao poder e à grandeza romana, foi encontrá-lo sete estádios antes, o que
foi a primeira causa de desentendimento entre eles, pois aqueles reis que
tinham vindo visitar Agripa estavam com ele no mesmo carro, e Marcos considerou
aquela união prejudicial ao império, declarando que deviam todos regressar aos
seus territórios. Isso deixou Agripa muito ofendido, motivo pelo qual daí em
diante se tornaram inimigos.
828. Nesse mesmo
tempo, ele tirou o sumo sacerdócio de Matias e entregou-a a Elioneu, filho de
Citeu. E, no terceiro ano de seu reinado, celebrou na cidade de Cesaréia, antes
conhecida como a torre de Estratão, jogos solenes em honra ao imperador. Os
principais do reino e toda a nobreza da província reuniram-se nessa festa. No
segundo dia dos espetáculos, Agripa chegou bem cedo pela manhã ao teatro. Usava
uma veste trabalhada com muita arte, cujo forro era de prata, e, quando o sol o
iluminava com os seus raios, emitia tão vivos reflexos de luz que não se podia
olhar para ele sem se sentir tomado por um respeito misto de temor. Então
alguns mesquinhos bajuladores, com palavras melífluas, mas que destilam veneno
mortal sobre o coração dos príncipes, começaram a dizer que até então haviam
considerado o seu rei um simples homem, porém dali em diante o iriam
reverenciar como a um deus, rogando-lhe que se lhes mostrasse favorável, pois
parecia que ele não era como os demais, de condição mortal.
Agripa tolerou essa impiedade, que deveria ter sido
castigada com muito rigor. E logo ele levantou os olhos e viu uma coruja por
sobre a sua cabeça, pousada numa corda estendida no ar, e lembrou-se de que
aquela ave era agora um presságio de sua desgraça, tal como outrora havia sido
o prenuncio de sua prosperidade. Soltou então um profundo suspiro, ao mesmo
tempo que começou a sentir as entranhas roídas por uma dor horrível. E,
voltando-se para os seus amigos, disse-lhes: "Aquele que pretendeis fazer
acreditar que é imortal está prestes a morrer. A providência divina veio
desmascarar a vossa mentira. Mas é preciso aceitar as determinações de Deus,
apesar de eu ter sido muito feliz, a ponto de não haver príncipe de quem eu
invejasse a felicidade".
Dizendo essas palavras, ele sentiu que as dores aumentavam.
Levaram-no ao palácio, e a notícia de que ele estava prestes a exalar o último
suspiro espalhou-se imediatamente. Logo todo o povo, com a cabeça coberta por
um saco, segundo o costume de nossos pais, fez orações a Deus pela sua saúde, e
todo o ar ressoava com gritos e lamentações. O príncipe, que estava no quarto
mais alto do palácio, vendo-os de lá prostrados em terra, não pôde reter as
lágrimas. As dores, porém, continuaram por cinco dias a fio e o levaram desta
vida, aos cinqüenta e quatro anos de idade e sete de reinado. Foram quatro anos
sob o imperador Caio, dos quais nos três primeiros ele governou apenas a
tetrarquia que pertencera a Filipe, sendo-lhe acrescentada no quarto ano a de
Herodes. Nos três anos em que reinou sob Cláudio, esse imperador deu-lhe também
a judéia, Samaria e Cesaréia. E, embora as suas rendas fossem muito altas,* ele
era tão liberal e magnânimo que se via obrigado a pedir emprestado grandes
somas.
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* "Mil e duzentas vezes dez mil", diz o texto
grego, sem nada mais especificar.
829. Antes que a notícia de sua morte se tivesse divulgado,
Cheicias, general das tropas, e Herodes, o príncipe da Cálcida, ambos inimigos
de Silas, mandaram que Aristo o matasse na prisão, fingido ter recebido ordem
do rei para isso.
830. O príncipe, que possuía grandes qualidades, deixou, ao
morrer, um filho de dezessete anos, chamado Agripa, como ele, e três filhas,
das quais a mais velha, de nome Berenice, que então contava dezesseis anos,
havia desposado Herodes, seu tio. Mariana, que era a segunda, de dez anos, era
noiva de Júlio Arqueiau, filho de Cheicias. E a terceira, de nome Drusila, que
tinha apenas seis anos de idade, era noiva de Epifânio, filho de Arqueiau, rei
de Comagena.
831. Quando a notícia
da morte do rei Agripa se tornou pública, os habitantes de Cesaréia e de
Sebaste esqueceram todos os benefícios que dele haviam recebido. A sua horrível
ingratidão levou-os a querer enxovalhar a sua memória com injúrias e ultrajes
que eu não teria coragem de referir aqui. Então os vândalos (e entre eles
alguns soldados), que eram em grande número no meio do povo, tiveram a
insolência de arrancar do palácio as estátuas das princesas filhas do rei e
levá-las a lugares infames, onde uma vergonhosa prostituição reúne as infelizes
vítimas da impudicícia pública. E, depois que foram expostas à vista de todos,
acrescentaram-lhes todas as ofensas e indignidades que imaginaram.
Esses pérfidos indivíduos chegaram a promover banquetes nas
ruas, onde, com coroas de flores sobre a cabeça e cabelos perfumados,
ofereceram sacrifícios a Charom e beberam à saúde uns dos outros, demonstrando
grande alegria pela morte do soberano. Ações tão insolentes e ofensivas foram a
prova que eles deram de sua ingratidão, depois dos muitos benefícios que deviam
a Herodes, o Grande, seu avô, que não somente construíra aquelas cidades como
também as havia embelezado com suntuosos Templos e com aqueles portos
admiráveis que as tornaram tão célebres.
832. Nessa época, o jovem Agripa se encontrava em Roma,
sendo educado junto ao imperador. Cláudio ficou muito sentido com a morte de
Agripa e enfurecido contra os habitantes de Sebaste e Cesaréia. A fim de
cumprir o seu juramento, pensou em mandar imediatamente o jovem príncipe para
tomar posse do reino. Porém os amigos e libertos, que tinham grande autoridade
perante ele, o fizeram mudar de idéia, alertando-o de que era perigoso conceder
o governo de um reino tão extenso a um jovem que não tinha experiência
suficiente para administrá-lo, quando a tarefa já era árdua até mesmo para um
homem maduro.
Assim, ele decidiu enviar outro governador para a Judéia, o
qual teria autoridade em todo o reino. Sabedor de que Marcos e o falecido rei
Agripa se haviam desentendido, julgou que prestaria melhor essa honra à memória
do príncipe entregando o cargo a um amigo, em vez de a um inimigo. Assim,
enviou Cúspio Fado, recomendando-lhe, antes de tudo, que castigasse severamente
os habitantes de Cesaréia e Sebaste pelos ultrajes que haviam feito à memória
de Agripa e às princesas filhas dele. Ordenou-lhe também que enviasse ao Ponto
as cinco coortes e o resto dos soldados que estavam naquelas duas cidades e
pusesse em seu lugar um corpo retirado das legiões romanas da Síria. A última
ordem, no entanto, não foi executada, pois aqueles enviaram delegados ao
imperador, os quais lhe acalmaram o espírito e obtiveram dele permissão para
ficar na Judéia. E isso foi o princípio de muitos males que depois vieram a
afligi-la e a semente da guerra que sucedeu sob o governo de Floro. Vespasiano
estava tão convencido de ser esse o motivo que, após subjugar o país,
removeu-os da província, como relataremos em seguida.
Que o Santo Espirito do Senhor, ilumine
o nosso entendimento
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