História Do Cristianismo -
Teologia 32.186
COMEÇO DO JULGAMENTO DE HUSS
No começo de junho (1415) e
antes de estar completamente restabelecido, começou o seu julgamento público,
mas apesar de estar tão fraco, foi-lhe proibido ter um advogado, porque,
diziam seus inimigos, um herege não podia ter defensor. Houve duas acusações
contra ele; a primeira de crer nas doutrinas de Wycliff, a segunda, de estar
"infectado com a lepra dos valdenses". Quando foi chamado para
responder pela primeira acusação apelou para a autoridade das Sagradas
Escrituras, mas a sua voz foi imediatamente abafada por um tumulto de escárnio
e zombaria. Era pois impossível tentar qualquer defesa em tais circunstâncias,
e quando lhe apresentaram o segundo ponto, ficou silencioso. Isto mesmo
condenou-o, visto que seu silêncio foi tomado como uma tácita confissão da sua
culpa. Por fim a excitação tornou-se tão grande que foi impossível continuar o
julgamento, e a assembléia retirou-se.
No segundo dia apareceu o
imperador em pessoa para manter a ordem, e desta vez parece que tudo correu com
muito mais sossego, apesar de os prelados não o poderem conservar até o fim.
Quando, no decurso do julgamento, Huss concordou que tinha dito que Wycliff era
um verdadeiro crente, e que a sua alma estava agora no Céu, e que não podia
desejar maior salvação para a sua própria alma do que a que estava gozando a
alma de Wycliff, os "santos" padres não puderam conter uma
gargalhada. No terceiro dia concluiu-se o julgamento, e Huss foi de novo
mandado para a prisão enquanto se lavrava a sentença. Durante todo o julgamento
parece que houve um amigo que se pôs ao seu lado de uma maneira própria duma
grande afeição; este amigo foi um cavaleiro boêmio chamado Chulm. Em todos os
dias do julgamento esteve sempre com ele, e acompanhou-o durante todo o seu
penoso e aborrecido cativeiro; e tudo isto com grande risco para si próprio.
"Meu querido mestre", disse ele depois de passar o terceiro dia de
julgamento: "eu sou um ignorante, e portanto incompetente para dar
conselhos a um homem de tanto saber como o senhor. Contudo, se está intimamente
convencido de alguns desses erros que lhe atribuíram publicamente, peço-lhe
muito encarecidamente que não se envergonhe de se retratar; mas se, pelo
contrário, está convencido da sua inocência, não quero de modo algum aconselhá-lo
a dizer seja o que for contra a sua consciência, antes quero exortá-lo a
suportar qualquer espécie de tortura a renunciar a qualquer coisa que considere
como verdade'". Huss ficou profundamente comovido pelo sincero e bondoso
conselho do seu amigo, e disse-lhe com as lágrimas nos olhos que Deus bem sabia
como ele de boa vontade se retrataria, debaixo do juramento, de qualquer
exposição que tivesse feito contrária às Escrituras Sagradas. Decorreu um mês,
e parece que durante esse tempo o cavaleiro esteve sempre com ele, provando,
assim, que era um fiel discípulo e um verdadeiro amigo.
Que o Santo Espirito do Senhor, ilumine
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