História Do Cristianismo -
Teologia 32.197
AS INDULGÊNCIAS
Os flagelantes, uma seita de
fanáticos, foi instituída no século treze, e espalhou-se por uma grande parte
da Europa. Andavam pelas ruas meio-nus, flagelando-se duas vezes por dia com
chicotes. A severidade destes castigos, que imaginavam servir de expiação, não
só dos seus pecados, como também dos pecados dos outros, excitou a princípio a
perseguição, mas por fim despertou a simpatia do povo, que começou a virar as
costas aos padres desregrados e a confessar os seus pecados e tristezas aos
flagelantes. 0 pensamento dominante dos padres foi então ver como poderiam
conservar a influência do domínio usurpado, "e, portanto", disse
d'Aubigné, "inventaram um negócio novo a que chamaram indulgências".
Em troca de uma quantia mais ou menos avultada, conforme a classe a que o comprador
pertencia, ficava este livre de uma peregrinação, de um jejum, ou de outra
qualquer penitência; e assim começou esse detestável negócio.
O papa percebeu logo as
vantagens que podiam resultar de um sistema tão lucrativo e, em tempo
oportuno, Clemente VII instituiu o extraordinário dogma de que a crença nas
indulgências era um artigo de fé.
Estas indulgências de Roma não
diziam respeito só aos vivos; iam além da tumba, e as almas que gemiam no Purgatório
também se dizia que eram salvas por meio delas.
A venda de indulgências era
necessariamente um grande incentivo ao pecado, e, na verdade, os ignorantes
nada podiam ver nesta doutrina senão uma licença absoluta para praticarem o
mal, enquanto que os padres, que aproveitaram cada vez mais tais idéias
erradas, não tinham pressa em esclarecer o povo.
Tal era a condição da igreja no
começo do século dezesseis: tão corrupta nas suas ações, que era impossível
continuassem as coisas assim por muito tempo como estavam.
Não obstante isso, Roma
vangloriava-se e estava confiante, porque tinha poucos inimigos declarados que
a incomodassem. Os hussitas tinham sido, uns espalhados pela perseguição,
outros atraídos de novo para o grêmio da igreja; e o testemunho dos cristãos
valdenses tinha sido quase suprimido. Mais ainda: havia um sentimento de
insatisfação nos corações dos homens de todas as classes que nem o fumo do
fogo dos mártires sacrificados por Roma podia apagar, nem as promessas
enganosas dos padres aliviar.
Reis e fidalgos, cidadãos e
camponeses, teólogos e homens de letras, políticos e soldados tinham todos as
suas razões de queixa, e estavam moralmente preparados para a obra de Reforma.
A Europa tinha despertado do longo pesadelo da Idade Média, e estava agora
olhando, ainda que com olhos de sono, através do nevoeiro de uma longa superstição,
à procura da luz. Era inevitável uma mudança importante, uma reação; mais
ainda, uma revolução; e apenas era necessário achar um chefe. 0 espírito dos
homens estava pronto para a revolução; e só necessitava de um que agüentasse o
peso da luta para os guiar, aconselhar e dirigir.
Deus viu o que era preciso e
enviou Martinho Lutero à Igreja na Europa.
Não faltaram líderes para
seções e grupos particulares, mas Lutero havia de ser o chefe. Os príncipes e
fidalgos, de há muito desgostosos com a usurpação sucessiva dos seus domínios
pelos papas, encontraram no eleitor Frederico de Hanover um representante
dedicado, embora tímido; os políticos e homens de letras, oprimidos pelas leis
canônicas acharam um intérprete dos seus pesares em Ulrico von Hutten, mas
todos, desde o rei até o mais humilde, encontraram o defensor das suas
liberdades no grande monge agostinho, Martinho Lutero.
Que o Santo Espirito do Senhor, ilumine
o nosso entendimento
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