Exegese Bíblica 22.16
6. PRINCIPAIS GENEROS LITERÁRIOS DA
BÍBLIA
Dividem-se
assim os diversos gêneros literários encontrados na Bíblia:
a) Narrativo:
histórico e didático
b) Legislativo
c) Sapiencial
d) Profético
e) Cânticos
a) narrativo-didático:
mito, saga, legenda, conto, fábula, alegoria, parábola
1. mito -
conto que se passa com deuses, ou cujos personagens são os deuses. Têm
tonalidade solene e são originários de círculos politeístas. A mitologia
babilônica, por exemplo, muito influenciou no povo de Israel, que sempre foi
monoteista. Isto se vê nos Salmos 103.6-9; 17.8-16; 88.11 e nos proféticos: Job
26.l2. Nos livros históricos, a influência é mais velada. Mas a árvore da vida
do Gênesis já existe num poema de Gilgames (de origem Babilônica): um herói
perguntou a um seu antepassado que era deus, onde ficava a árvore da vida. Ele
a encontrou no fundo do mar, e levou um ramo para plantar. Tendo sede, foi
beber num poço e uma serpente levou o seu ramo. A história do dilúvio tem uma
similar na cultura babilônica. É o caso de uma deusa que era amada ao mesmo
tempo por um deus e por um homem. Então para matar o homem, o deus mandou o
dilúvio.
O importante a se notar nisso tudo é que, ao ser transcrita para o livro
sagrado, o autor purifica a lenda, tirando as características politeístas e
servindo-se da cultura popular para levar uma mensagem. A árvore da vida, na
bíblia, significa que o homem foi criado para não morrer. Na sabedoria
babilônica, explicam que o mundo nasceu de uma briga dos deuses. O deus vencido
foi partido ao meio. De uma metade fez o deus vencedor o céu; de outra fez a
terra. Depois pediu a um deus artista que fizesse o homem com o sangue
apodrecido do deus vencido. Por isso, o homem e o mundo são maus do principio.
O autor sagrado aproveita-se destes elementos, mas purificando-os e
adaptando-os. A tradicional briga dos anjos com Lúcifer existe num mito fenício
sob a forma de uma briga de deuses. A linguagem mítica da bíblia, o
antropomorfismo de Deus... tudo isto tem origem desta inspiração na literatura
exterior a Israel.
2. saga -
contos que se ligam a lugares, pessoas, costumes, modos de vida dos quais se
quer explicar a origem, o valor, o caráter sagrado de qualquer fenômeno que
chama a atenção. A saga se chama etiológica quando procura a causa de um
fenômeno. Por exemplo, para explicar a existência de uma vegetação pobre e
espinhosa na região sul ocidental do Mar Morto, surgiu a lenda de Sodoma e
Gomorra, a chuva de enxofre... A origem de várias estátuas de pedra, formadas
pela erosão é explicada pela história da mulher de Ló, que foi transformada em estátua. A narrativa de
Caim e Abel é outra, para explicar a origem de uma tribo cujos integrantes
tinham um sinal na testa. Explicavam que Deus colocara um sinal em Caim para
que ninguém o matasse, e daí este sinal ficou para a descendência. O próprio
nome de Caim é inventado, porque a tribo tinha o nome de cainitas e eles
deduziram que seu fundador devia chamar-se Caim.
A saga se chama etimológica quando é para explicar um nome. Existe na Palestina
uma Ramat Leqi (montanha da queixada). Para explicar a origem deste nome eles
inventaram a estória de Sansão, um homem muito forte, que lutara contra muitos
inimigos usando uma queixada, e os vencera. Depois ele jogou a queixada naquele
monte, que ficou c conhecido como monte da queixada. 0 caso das filhas de Ló
(Gen.19) é uma história difamatória contra os amonitas e moabitas, tradicionais
inimigos de Israel. (Amon e Moab significam 'do pai'). Outras sagas da Bíblia:
a de Noé embriagado; a briga de Labão com Jacó (Gen.31). A saga se chama
heróica quando tem por finalidade engrandecer a vida dos heróis do passado. O
valor da saga está na riqueza popular (folclórica) que ela traz. Nem sempre há
lição em cada uma. Mas a fartura de detalhes que ela traz mostra a mentalidade
do povo. Seu valor é maior para a critica literária.
3. legenda
- distingue-se da saga porque se refere a pessoas ou objetos sagrados e querem
demonstrar a santidade destes por meio de um fato maravilhoso. Legendas na
Bíblia há em Num.16.1; 17.15: histórias a respeito de Moisés; Daniel l. 2, 3,
4: sonhos de Daniel; Os milagres de Elias contra os sacerdotes de Baal;
Gen.28.10: Jacó sonha com os anjos (pedra de Betel). É comum nas legendas
referir-se à lei ou objeto de culto. A imolação de Isaac, que não deu certo, é
para reprimir um costume dos cananeus de imolar crianças, costume proibido pela
lei de Moisés. A serpente de bronze (Num.21) se refere a uma serpente de bronze
mandada fazer pelo rei Manassés, que foi destruída por Javé. A circuncisão
(Gen.17) é explicada assim: Deus apareceu a Abraão para fazer aliança com ele e
o pacto era a circuncisão de todos os meninos no oitavo dia. Jos.5.9 e Ex.12 e
13 falam da origem da Páscoa.
4. parábolas,
fábulas, alegorias - parábola é uma história comparativa, de sentido global
(ex: IISam.12.1-4); fábula é a narrativa que faz os seres inanimados ou os
animais falarem (ex: Jz.9.7); alegoria é uma história comparativa em que cada
elemento tem um significado particular (ex: Is.5.1-7). Há ainda o apólogo,
quando se trata da animação de objetos.
b) Narrativo-histórico
Difere do didático porque pretende contar um fato acontecido realmente. Há três
tipos:
1. popular,
onde ninguém sabe o fim da lenda e o começo da história. É uma história
primitiva, baseada em histórias que corriam na boca do povo, um misto de
elementos verídicos e legendários acrescentados. Os livros Josué e Juízes (550 a .C.) estão nesta
categoria.
2. epopéia
(nacional-religiosa) são histórias retiradas da catequese do povo. Se bem que
tenham elementos acrescentados, todavia a mensagem pode ser considerada
autêntica. O exemplo mais típico deste gênero é a narração epopéica da passagem
do mar vermelho (Ex.14 ). A fuga de Israel do Egito está ligada a um fato
acontecido no tempo de Ramsés II. Ele foi um faraó que empreendeu grandes
conquistas, principalmente à procura de escravos para trabalhar. Entre os povos
submetidos havia um grupo de judeus. Mais tarde, fraquejou a vigilância, e
muitos fugiram, inclusive muitos judeus. Então eles empreenderam a fuga pelo
deserto e se aproveitaram de uma região onde havia um braço de mar que secava
durante a maré baixa para sair do território egípcio.
Esta narrativa na Bíblia é contada com todos aqueles retoques conhecidos. Mas
se analisarmos bem, veremos que na própria Bíblia, há duas citações do mesmo
fato, e cada uma conta diferente. São as duas tradições: a javista, mais antiga
e mais verdadeira, afirma que o vento soprou durante toda a noite e fez o mar
recuar; a sacerdotal, mais recente, modificou a narração para a divisão das
águas em duas muralhas por onde todos passaram em seco. Há uma certa
contradição nestas duas. Mas o que se deve concluir daí é que os soldados os
perseguiram na fuga e eles passaram na maré baixa. Quando os soldados chegaram,
a maré já subira e não dava passagem. Enquanto isso, eles se adiantaram ainda
mais. Ao transcrever isto na Bíblia, o autor sagrado quer mostrar o fato da
presença de Deus em ajuda de seu povo, através dos elementos da natureza.
3. historiográfico
- é o trabalho dos escribas encarregados de escrever as crônicas dos anais dos
reis. A partir destas crônicas vários livros foram escritos. 0 I Reis 11.41
cita os anais de Salomão; em 14.19 afirma que o restante está nos livros das
crônicas dos Reis de Israel. São documentos de maior credibilidade, porque são
mais históricos. Somente a partir do livro dos Reis, é que são usados
documentos escritos na época. Antes era apenas história popular.
c) Legislativo
É
representado na Bíblia principalmente no Pentateuco. Tem muito em comum com os
outros povos vizinhos e herdou muito deles. Há passagens na Bíblia que são
repetições do código de Hamurábi. Os povos orientais são muito ricos neste tipo
de literatura. Quanto aos tipos de leis, há três: 1. leis causídicas:
pormenorizadas conforme as situações; 2. leis apodíticas: universais; 3. leis
rituais.
d) Sapiencial
Originou-se também dos povos vizinhos, principalmente a partir do Exílio. São
de origem profana e não religiosa, pois as suas fontes também não eram
religiosas. 0 povo oriental é pensador por natureza e a sabedoria é uma virtude
muito difundida e apreciada. A sabedoria bíblica não difere muito da sabedoria
oriental em geral.
e) Profético
Também
tem origem fora de Israel. Os povos da época tinham seus profetas. Eles moravam
nos palácios dos reis e eram os que dialogavam com os deuses. É preciso notar
que naquela época profeta não era sinônimo de adivinho, como às vezes se
identifica. Eles manifestavam ao povo a vontade de Deus com sermões, com
sinais, exortações e oráculos.
f) Salmos
Também
tem influência externa (fora de Israel). Não são todos de Davi. Apareceram conforme
as necessidades. Foram compostos sem seqüência ou cronologia. São cantos de
louvor, de súplica.
Que o Santo Espirito do Senhor, ilumine o nosso entendimento
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