ANTROPOLOGIA CULTURAL
2.1. Conceituando Cultura
Em antropologia, a
palavra cultura tem muitas definições.
Coube ao antropólogo inglês Edward
Burnett Tylor, nos parágrafos iniciais de Primitive Culture (1871; A cultura
primitiva) oferecer pela primeira vez uma definição formal e explícita do
conceito: "Cultura... é o complexo no qual estão incluídos conhecimentos,
crenças, artes, moral, leis, costumes e quaisquer outras aptidões e hábitos
adquiridos pelo homem como membro da sociedade."
Já o antropólogo
americano Melville Jean Herskovits descreveu a cultura como a parte do ambiente
feita pelo homem; Ralph Linton, como a herança cultural, e Robert Harry Lowie,
como o conjunto da tradição social.
No século XX, o antropólogo e biólogo
social inglês Ashley Montagu a definiu como o modo particular como as pessoas
se adaptam a seu ambiente.
Nesse sentido, cultura é o modo de vida de um povo,
o ambiente que um grupo de seres humanos, ocupando um território comum, criou
na forma de idéias, instituições, linguagem, instrumentos, serviços e
sentimentos.
Só o homem é
portador de cultura; por isso, só ele a cria, a possui e a transmite.
As
sociedades animais e vegetais a desconhecem.
É um complexo, porque forma um
conjunto de elementos, inter-relacionados e interdependentes, que funcionam em
harmonia na sociedade.
Os hábitos, idéias, técnicas, compõem um conjunto, dentro
do qual os diferentes membros de uma sociedade convivem e se relacionam.
A
organização da sociedade, como um elemento desse complexo, está relacionada com
a organização econômica; os dois entre si relacionam-se igualmente com as
idéias religiosas.
O conjunto dessa inter-relação faz com que os membros de uma
sociedade atuem em perfeita harmonia.
A cultura é uma
herança que o homem recebe ao nascer.
Desde o momento em que é posta no mundo,
a criança começa a receber uma série de influências do grupo em que nasceu: as
maneiras de alimentar-se, o vestuário, a cama ou a rede para dormir, a língua
falada, a identificação de um pai e de uma mãe, e assim por diante.
À proporção
que vai crescendo, recebe novas influências desse mesmo grupo, de modo a
integrá-la na sociedade, da qual participa como uma personalidade em função do
papel que nela exerce.
Se individualmente o homem age como reflexo de sua
sociedade, faz aquilo que é normal e constante nessa sociedade.
Quanto mais
nela se integra, mais adquire novos hábitos, capazes de fazer com que se
considere um membro dessa sociedade, agindo de acordo com padrões
estabelecidos.
Esses padrões são justamente a cultura da sociedade em que vive.
A herança cultural
não se confunde, porém, com a herança biológica. O homem ao nascer recebe essas
duas heranças: a herança cultural lhe transmite hábitos e costumes, ao passo
que a herança biológica lhe transmite as características físicas ou genéticas
de seu grupo humano.
Se uma criança, nascida numa sociedade bororo, é levada
para o Rio de Janeiro, passando a ser criada por uma família de Copacabana,
crescerá com todas as características físicas -- cor da pele e do cabelo, forma
do rosto, em especial os olhos amendoados -- de seu grupo bororo.
Todavia,
adquirirá hábitos, costumes, a língua, as idéias, modos de agir da sociedade
carioca, em que se cria e vive.
Além desses
hábitos e costumes que recebe de seu grupo, o homem vai ampliando seus
horizontes, e passa a ter novos contatos: contatos com grupos diferentes em
hábitos, costumes ou língua, os quais farão com que adquira alguns desses
hábitos, ou costumes, ou modos de agir.
Trata-se da aquisição pelo contato.
Foi
o que se verificou no Brasil do século XIX com hábitos introduzidos pelos
imigrantes alemães ou italianos; o mesmo sucedeu em séculos anteriores, com
costumes introduzidos pelos negros escravos trazidos da África.
Tais costumes
vão-se incorporando à sociedade e, com o tempo, são transmitidos como herança
do próprio grupo.
É certo que essa
transmissão pelo contato não abrange toda a cultura do outro grupo.
Somente
alguns traços se transmitem e se incorporam à cultura receptora.
Esta, por sua
vez, se torna também doadora em relação à cultura introduzida, que incorpora a
seus padrões hábitos ou costumes que até então lhe eram estranhos.
É o processo
de transculturação, ou seja, a troca recíproca de valores culturais, pois em
todo contato de cultura as sociedades são ao mesmo tempo doadoras e receptoras.
Dessa forma, o homem adquire novos elementos culturais, e enriquece seu tipo
cultural.
Esses elementos,
que compõem o conceito de cultura, permitem mostrar que ela está ligada à vida
do homem, de um lado, e, de outro, se encontra em estado dinâmico, não sendo
estática sua permanência no grupo.
A cultura se aperfeiçoa, se desenvolve, se
modifica, continuamente, nem sempre de maneira perceptível pelos membros do
próprio grupo.
É justamente isso que contribui para seu enriquecimento
constante, por meio de novas criações da própria sociedade e ainda do que é
adquirido de outros grupos.
Graças às pesquisas em jazidas arqueológicas, tem
sido possível recompor ou reconstruir as culturas, o que permite conhecer o
desenvolvimento cultural do homem, sobretudo no campo material.
É mais difícil,
porém, conhecer o desenvolvimento da cultura espiritual, embora muita coisa já
se tenha podido esclarecer.
De qualquer forma o que se sabe é que, nascida com
o homem, a cultura, sofreu modificações ao longo dos tempos, enriquecendo-se de
novos elementos e adquirindo novos valores.
A cultura acompanha, pois, a marcha
da humanidade; está ligada à vida do homem, desde o ser mais antigo.
Com a
expansão do homem pela Terra, ocupando os grupos humanos novos meios ambientes,
a cultura se ampliou e se diversificou em face das influências impostas pelo
meio, cujas relações com o homem condicionaram o aparecimento de novos valores
culturais ou o desaparecimento de outros.
Que o Santo Espirito do Senhor, ilumine o nosso entendimento
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