1. A Primeira Viagem Missionária
Em geral, Os Atos relatam
três viagens missionárias de Paulo. Essa narrativa às vezes é mui detalhada, às
vezes resumida demais. O principal é o seguinte: todas as três viagens começam
e terminam na comunidade gentio-cristã de Antioquia e não na comunidade
judeu-cristã de Jerusalém (as epístolas confirmam isso); geralmente Paulo
dirigia-se primeiro a seus patrícios mas bem depressa era obrigado a procurar
os pagãos.
a) Resumo e itinerário
Primeira viagem missionária: Barnabé e Paulo vão aos gentios,
Atos
13:1-14:29.
Missão a Chipre, 13:4-12.
Missão à Galácia, 13:13-14:28.
Missão de
Pafos a Perge, 13:13.
Missão a Antioquia da Psidia, 13:14-52.
Missão a Icônio e
Listra, 14:1-18.
Missão a Icônio, 14:1-7,
Missão a Listra, 14:8-18.
Retorno a
Antioquia da Síria, 14:19-28.
b)
A Missão da Primeira Viagem
Lucas conservou-nos uma preciosa notícia sobre a
organização da comunidade de Antioquia e a liturgia (Atos 13: 1-3).
A primeira etapa da missão foi a
ilha de Chipre, de onde Barnabé era originário. O que interessa a Lucas é o
primeiro contato do apóstolo Paulo com um magistrado romano, Sérgio Paulo,
senador, antigo pretor, muito conhecido por inscrições. Sua família vinha de
Antioquia da Pisídia.
Na narração de Lucas, o nome Paulo
toma dali em diante o lugar de Saulo: não se pode deduzir daí que Saulo tenha
adotado o nome do seu ilustre convertido. Ter um duplo nome era então corrente
nos meios bilíngües, como o da família de Paulo. Junto ao governador, Paulo
teve de enfrentar um mágico de origem judaica, Elimas (At. 13,8). O sucesso das
ciências ocultas era grande na época; o que pode surpreender é que um
judeu as pratique. Segundo os Atos,
Paulo terá outras ocasiões de se confrontar com mágicos. Na sua carta aos Gálatas,
ele classifica as práticas de feitiçaria (pharmakeia) na categoria das obras da
carne, próximas da idolatria (Gl. 5,20).
Nas suas cartas, Paulo não faz
alusão à missão de Chipre, para onde ele não terá ocasião de voltar. Por que
ele abandona a ilha sem a ter visitado toda? Paulo que toma a frente da
expedição em direção à Anatólia através dos desfiladeiros do Tauro, covil de bandidos.
Mais tarde Paulo fará alusão aos perigos corridos na estrada (2Cor 11,26).
Primo de Barnabé, o jovem João Marco teve medo da aventura e abandonou o grupo.
Paulo não o perdoou, a princípio.
a) O
discurso de antioquia da pisídia
Quando Paulo chegava numa cidade
qualquer, ele começava indo à sinagoga. Lá, ele podia entrar em contato com os
judeus do lugar e os “ tementes a Deus ” , pagãos atraídos para o judaísmo (At
13,26). Como amostra da pregação de Paulo, Lucas nos conservou o discurso de
Antioquia da Pisídia (At 13,14-41). Esta era uma colônia romana, fundada por
Augusto para instalar aí os veteranos da legio V Gallica.
O Sérgio Paulo que se instalou aí devia ser um dos oficiais superiores
desta legião.
O discurso de Paulo não tem
equivalentes nas Cartas, mas é fácil encontrar um certo número de temas
pertencendo à apologética cristã primitiva. Ele se coloca no contexto litúrgico
tradicional: depois da leitura de uma passagem da Lei e de uma outra, tirada da
coletânea dos profetas, os chefes da sinagoga convidam os visitantes a
pronunciar algumas palavras de exortação. Paulo não se fazia de rogado!
O texto de Lucas tem a marca da
retórica da época. Do ponto de vista das idéias, o discurso contém uma
retrospectiva da história de Israel até Davi.
Ainda que dirigido em prioridade aos
judeus, o discurso continha uma ponta universalista: a palavra da salvação vale
para os filhos de Abraão como para todos os que temem a Deus (v.26). Sobretudo,
ele esboçava uma crítica contra a Lei de Moisés, incapaz de trazer a salvação
(v.38). O sucesso junto aos não-judeus apenas aumentou a irritação dos filhos
de Abraão. Para se justificar, Paulo declara: “ É a vós por primeiro que devia
ser dirigida a palavra de Deus ”(v.46). Paulo será fiel a este por primeiro,
como se vê pela declaração de princípio de Rm 1,16: “ O Evangelho é o poder de Deus para a
salvação de todo aquele que crê, do judeu primeiro, e depois do grego”.
Para legitimar a sua passagem para
as nações, Paulo cita então uma passagem dos cantos do Servo, que tem uma
grande importância na apologética cristã primitiva: “Destinei-te a seres luz
das nações, a fim de que a minha salvação esteja presente até a extremidade da
terra” (Is 49.6). Este texto vale em primeiro lugar para Cristo, mas Paulo o aplicou
a si mesmo, como mostra Gl 1.15. Assim, portanto, Paulo, servo de Cristo,
descobre a sua missão ao reler a Escritura.
b)
Pregação aos pagãos de Listra e retorno
Nas cidades que Paulo e Barnabé vão atravessar, o mesmo
cenário se reproduz. Como Por exemplo em Icônio (At 14,1-7), a pátria de santa
Tecla segundo os Atos de Paulo (acima, p.16s). Em 2Tm 3.13 também se fala dos
sofrimentos suportados por Paulo em Antioquia, Icônio e Listra. Nesta última
cidade, um incidente tragicômico manifesta bem a credulidade do povo e a
dificuldade para os Apóstolos de fazerem-se compreender por uma população pouco
helenizada. Uma cura provoca o entusiasmo e o povo logo quer oferecer um sacrifício,
como se Barnabé e Paulo fossem Zeus e Hermes em visita.
No caminho de volta, os apóstolos
confirmam os discípulos lembrando-os do sentido cristão da provação: “É
necessário que passemos por muitas tribulações para entrar no Reino de Deus”
(At 14,22). Para dirigir as comunidades, Paulo e Barnabé designaram-lhe anciãos
(presbyteroi). Este termo era tradicional nas comunidades judaicas para
designar os responsáveis. Não surpreende que tenha sido retomado pelos
judeu-cristãos: em Jerusalém, a primeira menção aparece já em At 11,30. Por
outro lado, não o encontramos nas cartas de Paulo, exceto nas epístolas
pastorais, redigidas provavelmente por um discípulo: os anciãos são instituídos
por imposição das mãos (1Tm 5,22). Enquanto Paulo pudesse seguir por si mesmo a
vida das congregações, a instituição dos ministérios podia permanecer na
sombra. Isto não impede que Paulo tivesse a preocupação de apoiar aqueles que
haviam aceitado tomar a direção das comunidades, como em Tessalônica ou em
Corinto.
Tendo partido de Antioquia com o
apoio dos fiéis, os missionários voltam para contar “tudo o que Deus realizara
com eles, e, sobretudo como tinha aberto aos pagãos a porta da fé” (At 14,27).
Atmosfera de alegria e de ação de graças, bem à maneira de Lucas! Mas os
obstáculos foram todos afastados?
Veja Tambem:
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