História De Israel – Teologia 31.55
CAPÍTULO 8
GIDEÃO LIBERTA O POVO DE ISRAEL DA ESCRAVIDÃO DOS
MIDIANITAS.
204. juizes 6, 7 e 8. Um dia, quando Gideão, filho de joás,
que era um dos principais da tribo de Manasses, batia feixes de trigo no lagar,
porque não se atrevia a batê-los publicamente na eira do seu celeiro, por temor
aos inimigos, um anjo apareceu-lhe sob a forma de um rapaz, dizendo que Gideão
era feliz porque era querido de Deus. "É este", retrucou Gideão,
"um belo sinal: ver-me obrigado a me servir de um lagar em vez de um
celeiro". O anjo exortou-o então a não perder a coragem, mas a aumentá-la,
para empreender a libertação do povo.
Gideão disse-lhe que iria então propor uma coisa quase
impossível, tanto porque a sua tribo era a menor de todas em número de homens
quanto porque ele ainda era jovem e incapaz de executar tal empresa. "Deus
suprirá tudo", replicou o anjo, "e dará a vitória aos israelitas,
quando vos tiverem por general". Gideão narrou a visão a algumas pessoas
de sua idade, que não duvidaram de que ele lhe devia prestar fé. Reuniram logo
dez mil homens resolvidos a tudo empreender para libertar-se da escravidão.
Deus apareceu em sonhos a Gideão e disse-lhe que, por serem
os homens tão fátuos, querendo atribuir a si mesmos e às próprias forças as
suas vitórias, em vez de considerá-las resultado do auxílio que Ele lhes
prestava, queria fazê-los reconhecer que deviam tudo a Ele. E assim,
ordenou-lhe que levasse o exército à margem do Jordão no momento do calor mais
forte do dia e só considerasse valorosos os que se abaixassem para beber
comodamente e que considerasse covardes os que bebessem a água apressadamente,
pois seria um sinal do medo que sentiam do inimigo. Gideão obedeceu e encontrou
apenas trezentos que tomaram a água levando-a à boca com a mão, sem pressa
alguma.
Deus ordenou-lhe, em seguida, que atacasse os inimigos à
noite com esse pequeno número. E, notando agitação no seu espírito,
acrescentou, para tranqüilizá-lo, que tomasse um dos seus e com ele se
aproximasse mansamente do acampamento dos midianitas, para observar o que se
passava. Ele executou a ordem e quando estava próximo das tendas ouviu um
soldado narrar ao companheiro um sonho que tivera. Dizia ele: "Vi um
pedaço de massa de farinha de cevada que não merecia ser recolhida, e a pasta,
rolando por todo o acampamento, derrubou a tenda do rei e depois todas as
outras". "Esse sonho", respondeu-lhe o companheiro,
"pressagia a ruína completa do nosso exército, por esta razão: a cevada é
o menor de todos os grãos, e, como não há agora em toda a Ásia nação mais
desprezível que a dos israelitas, ela pode ser comparada à cevada. Vós sabeis
que eles reuniram as suas tropas e têm algum empreendimento em vista,
comandados por Gideão. Por isso temo muito que esse pedaço de massa que vistes
derrubar todas as tendas seja um sinal de que Deus quer que Gideão triunfe
sobre nós".
Essas palavras encheram Gideão de esperanças. Ele
transmitiu-as aos seus e ordenou-lhes que se armassem todos. Fizeram-no com
alegria, pois tão feliz pres-ságio os levava a tudo empreender. Mais ou menos
na quarta vigília da noite, Gideão separou os homens em três grupos de cem cada
um. E, para surpreender os inimigos, ordenou-lhes que cada qual levasse na mão
esquerda um vaso com uma tocha acesa dentro, e na direita, em vez da trompa,
uma buzina de chifre.
O acampamento dos inimigos era muito extenso, por causa dos
camelos, e, embora as tropas fossem separadas por nação, achavam-se encerradas
num mesmo recinto. Quando os israelitas se aproximaram, segundo a ordem de
Gideão, fizeram soar todos ao mesmo tempo as buzinas de chifre de carneiro,
quebraram os vasos e entraram no acampamento com grandes gritos, de archote na
mão, firmemente convictos de que Deus lhes daria a vitória. Estando ainda os
inimigos meio adormecidos, a escuridão da noite e principalmente o auxílio de
Deus causaram-lhes tal terror e confusão no espírito que mais foram mortos por
eles mesmos do que pelos israelitas, pois, sendo o exército tão numeroso e
composto por povos diversos a falar línguas diferentes e estando todos tão
aterrorizados, tomaram-se eles mesmos por inimigos, atacando-se mutuamente.
Logo que outros israelitas souberam dessa vitória tão
marcante, tomaram armas para perseguir os inimigos e alcançaram-nos em lugares
onde as águas que lhes cercavam a passagem os obrigaram a parar. Houve então
uma carnificina inaudita. Os reis Orebe e Zeebe estavam entre os mortos. Os
reis Zeba e Zalmuna salvaram-se com dezoito mil homens somente e foram acampar
o mais longe possível dos israelitas. Gideão, que não se cansava de cuidar da
glória de Deus e da de seu país, marchou imediatamente contra eles,
dizimou-lhes todas as tropas e fez muitos prisioneiros. Os midianitas e os
árabes, que auxiliavam os midianitas, perderam perto de cento e vinte mil
homens nesses dois combates.
Os israelitas fizeram grande presa, tanto em ouro quanto em
prata, e também em objetos preciosos, camelos e cavalos. Gideão, depois de
regressar a Efraim, lugar de seu nascimento e moradia, mandou matar os dois
reis midianitas, os quais havia aprisionado. Então a sua própria tribo,
invejosa da glória que ele havia conquistado e não podendo tolerá-la, resolveu
fazer-lhe guerra, sob o pretexto de que ele empreendera a outra sem
comunicá-los. Como não era menos sensato que valoroso, ele respondeu-lhes, com
grande modéstia, que não teria procedido daquele modo se Deus assim não
houvesse ordenado e que isso não os impedia de ter tanta participação quanto
ele na vitória. Assim acalmou-os, prestando, por sua prudência, um serviço à
República não menor que o já prestado pelas suas vitórias, pois evitou uma
guerra civil. Essa tribo não deixou de ser castigada pelo seu orgulho, como
diremos a seu tempo.
A modéstia desse grande personagem era tão extraordinária
que ele desejou até despojar-se da suprema autoridade. Mas o povo obrigou-o a
conservá-la, e ele a desempenhou durante quarenta anos. Gideão administrava a
justiça e apaziguava as divergências com tanto desinteresse, capacidade e
sabedoria que o povo jamais deixou de confirmar-lhe os julgamentos, pois não
podiam ser mais eqüitativos. Ele morreu muito idoso, e foi sepultado em seu
país.
Que o Santo Espirito do Senhor, ilumine
o nosso entendimento
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