História De Israel – Teologia 31.47
CAPÍTULO 8
EXCELENTE DISCURSO DE MOISÉS. LEIS QUE OUTORGA AO POVO.
171. Deuteronômio 4. Quando faltavam apenas trinta dias para
se dizer que eram passados quarenta anos desde a saída do Egito, Moisés mandou
reunir todo o povo no lugar onde está agora a cidade de Abilã, à margem do rio
Jordão, terra muito rica em palmeiras, e falou-lhes deste modo:
"Companheiros de meus longos trabalhos, com quem passei tantos perigos,
tendo chegado à idade de cento e vinte anos, é tempo de deixar o mundo. Deus
não quer que eu vos assista nos combates que tereis ainda de sustentar, depois
de passardes o Jordão. Quero empregar esse pouco de vida que me resta para
fortalecer a vossa felicidade, quanto aos cuidados que dependem de mim, a fim
de obrigar-vos a conservar o afeto pela minha memória. Terminarei os meus dias
com alegria, fazendo-vos conhecer em que devereis firmar a vossa felicidade e
com que meios podereis conseguir uma semelhante para vossos filhos. E, como não
prestaríeis fé às minhas palavras? Pois não há testemunho pelo qual eu não me
tenha esforçado em dar-vos que não fosse pelo interesse em vosso bem, e vós
sabeis que os sentimentos de nossa alma jamais são tão puros como quando ela
está prestes a abandonar o corpo. Filhos de Israel, gravai fortemente em vosso
coração que a única e verdadeira felicidade consiste em se ter a Deus como
favorável. E Ele só pode concedê-la aos que dela se tornam dignos por sua
piedade. É em vão que os maus se vangloriam na esperança de a conquistar. Mas
se vos tornardes como Ele o deseja, o que vos exorto a ser, depois de terdes
recebido as suas ordens, sereis felizes sempre, a vossa prosperidade será
invejada por todas as nações do mundo, possuireis em definitivo o que já
conquistastes e bem depressa entrareis na posse do que vos resta ainda
conquistar. Cuidai somente em prestar a Deus uma fiel obediência: não prefirais
outras leis às que vos dei, por sua ordem. Observai-as com grande cuidado e evitai
principalmente mudar alguma coisa por desprezo criminoso ao que se refere à
religião. Como tudo é possível aos que Deus ajuda, tornar-vos-eis os mais
temíveis de todos os homens. Se seguirdes este conselho, sobrepujareis a todos
os vossos inimigos e recebereis durante toda a vossa vida as maiores
recompensas que a virtude pode conceder. A mesma virtude será a principal,
porque é por meio dela que se obtêm todas as outras e somente ela vos pode
tornar felizes e granjear-vos reputação e glória imortais entre as nações
estrangeiras. Eis o que tendes motivo de esperar se observardes religiosamente
— sem cessar e sem jamais permitir que sejam violadas — as leis que recebestes.
Saio deste mundo com a consolação de vos deixar em grande prosperidade e recomendo-vos
à sábia orientação de vossos chefes e magistrados, que jamais deixarão de ter
por vós o máximo cuidado. Deus, porém, deve ser o vosso principal apoio. É
somente a Ele que sois devedores de todos os benefícios que recebestes até
agora por meu intermédio, e Ele não vos deixará de proteger, contanto que não
deixeis de reverenciá-lo e de pôr toda a vossa confiança em seu auxílio. Tereis
sempre pessoas honestas para vos dar excelentes instruções, como o sumo
sacerdote Eleazar, Josué, os Senadores e os chefes de vossas tribos. Mas é
necessário que lhes obedeçais com prazer, lembrando-vos de que aqueles que bem
souberam obedecer saberão mandar quando forem elevados a cargos e dignidades.
Assim, não imagineis, como fizestes até agora, que a liberdade consiste em
desobedecer aos vossos superiores, o que é uma grande falta, da qual vos deveis
absolutamente corrigir. Evitai também deixar-vos levar pela cólera contra eles,
como fizestes tantas vezes para comigo, pois não vos podereis ter esquecido de
que me pusestes em perigo de vida muito mais que a todos os nossos inimigos.
Falo assim não para vos fazer repreensões ou censuras. Como desejaria eu, no
tempo em que estou para me separar de vós, contristar-vos pela lembrança
daquilo que já passou, se nem mesmo então manifestei o menor ressentimento,
quando as coisas se passavam? Aconselho-vos, no entanto, a vos tornardes mais
sensatos para o futuro, porque não saberia fazer-vos compreender o quanto vos
importa não murmurar contra os vossos superiores quando, depois de terdes
passado o Jordão e vos tornado senhores da província de Canaã, vos sentirdes
repletos de todas as espécies de bens. Pois, se perderdes o respeito que deveis
a Deus e abandonardes a virtude, Ele também vos abandonará e tornar-se-á vosso
inimigo. Perdereis com vergonha, pela vossa desobediência, o país que
conquistastes com o seu auxílio. Sereis levados escravos para todas as partes
do mundo, e não haverá lugar na terra ou no mar onde não se conheçam os sinais
de vossa escravidão. Não será então mais tempo de vos arrependerdes, porque não
observastes as suas santas leis. E, a fim de não cair nessa desgraça, não
deixeis com vida um só de vossos inimigos depois de os terdes vencido. Crede
que é da máxima importância matá-los todos, sem poupar um sequer, porque de
outro modo podereis, pelas relações que tiverdes com eles, ser levados à
idolatria e ao abandono das leis de vossos antepassados. Ordeno-vos também o
emprego do ferro e do fogo para destruir de tal modo todos os Templos, altares
e bosques consagrados aos seus falsos deuses que deles não reste o menor
vestígio. E o único meio de vos conservardes na posse dos bens que
desfrutareis. E, para que nenhum de vós se deixe levar para o mal, por
ignorância, escrevi por ordem de Deus as leis que deveis observar e a maneira
como deveis proceder, tanto nos negócios públicos quanto nos particulares. Se
as observardes inviolavelmente, sereis os mais felizes de todos os
homens".
172. Assim falou Moisés a todos os israelitas e deu-lhes um
livro, no qual estavam escritas as leis e a maneira de viver que deveriam
observar. Todos consideravam-no morto, e a lembrança dos perigos que havia
corrido e das amarguras que sofrerá de tão boa mente por amor a eles fê-los
chorar. E o sofrimento aumentou com a certeza de que lhes seria impossível
tornar a encontrar um chefe igual a ele e que, não o tendo mais como
intercessor, Deus já não lhes seria tão favorável. Esses mesmos pensamentos
produziram neles tal arrependimento por se terem deixado levar em furor contra
ele no deserto que não se podiam consolar. Ele, porém, pediu-lhes que cessassem
de chorar e só pensassem em observar fielmente as leis de Deus. E a reunião
assim se dissolveu.
Julgo dever dizer, antes de passar além, quais foram essas
leis, para que o leitor conheça como são dignas da virtude de tão grande
legislador e saiba quais são os costumes que observamos há tantos séculos.
Narrá-las-ei do mesmo modo como foram dadas por esse homem admirável, sem
acrescentar ornamento algum. Mudarei somente a ordem, porque Moisés as
apresentou em tempos diversos e em várias ocasiões, segundo Deus o ordenava.
Sou obrigado a fazer essa observação a fim de que, se esta história cair nas
mãos de algum dos de nossa nação, não seja eu acusado de faltar à sinceridade.
Falarei aqui das leis relativas à política. Quanto às que se referem aos
contratos que realizamos entre nós, falarei no tratado que espero, com a graça
de Deus, escrever acerca de nossos costumes e das razões dessas leis. Vou então
agora à primeiras:
Depois de terdes conquistado o país de Canaã e construído
cidades, podereis desfrutar tranqüilamente o fruto de vossa vitória, e vossa
felicidade será firme e duradoura, contanto que vos torneis agradáveis a Deus,
observando as coisas que se seguem:
Êxodo 20ss, Deuteronômio 5ss e 16ss.
Na cidade que Deus escolher nesse país, a que chamarão
Cidade Santa, em um planalto cômodo e fértil, construir-se-á um único Templo,
no qual será erguido um único altar, com pedras não talhadas, mas escolhidas
com tanto cuidado que quando estiverem unidas não deixem de ser agradáveis à
vista. Não será preciso subir a esse Templo nem a esse altar por degraus, mas
por um pequeno terraço em declive suave. Não haverá Templo ou altar em nenhuma
outra cidade, pois há um só Deus e uma única nação, a dos hebreus.
Êxodo 20.
Aquele que blasfemar contra Deus será apedrejado e
dependurado durante um dia na forca. Depois será enterrado secretamente, com
ignomínia.
Todos os hebreus, em qualquer país do mundo em que habitem,
dirigir-se-ão três vezes por ano à Cidade Santa, ao Templo, para agradecer a
Deus os seus benefícios e implorar o seu auxílio para o futuro e também para se
fomentar a amizade entre vós, por meio das festas que se hão de fazer e por
conversas que se hão de ter em conjunto. É justo que se conheçam os que
pertencem a um mesmo povo e são governados pelas mesmas leis, e para isso nada
mais apropriado que essas reuniões e assembléias, as quais, pela vista e pelas
relações entre as pessoas, deixam a lembrança gravada na memória, ao passo que
os que jamais se viram passam por estrangeiros no espírito dos outros. Para
esse fim, além das décimas devidas aos sacerdotes e aos levitas, reservareis
outras, que vendereis cada qual em sua tribo e do que obtereis dinheiro para
empregá-lo na Cidade Santa, nas festas sagradas que fareis nesses dias de
regozijo. Porque é muito razoável fazer atos de alegria em honra a Deus com
aquilo que provém das terras que possuímos pela sua liberalidade.
Deuteronômio 23.
Não se oferecerá em sacrifício o que procede do ganho da mulher
de má vida, pois Deus não tem como agradável o que foi adquirido por meios
ilícitos e por vergonhosa prostituição. Por essa mesma razão, não é permitido
oferecer em sacrifício o que se tiver recebido por empréstimo de cães de caça
ou de pastor para deles se tirar raça.
Não se falará mal dos deuses que as outras nações cultuam,
nem se saquearão os seus Templos e nem se levarão as coisas oferecidas a alguma
divindade, seja qual for.
Ninguém se vestirá de pano de linho e de lã misturados,
porque isso é reservado somente aos sacerdotes.
Quando se reunirem na Cidade Santa, ao fim de sete anos,
para solenizar a festa dos Tabernáculos, o sumo sacerdote subirá a um lugar
elevado, de onde lera publicamente toda a Lei, tão alto que cada qual possa
ouvi-la, sem que se impeçam às mulheres, às crianças e aos animais estarem
presentes, pois é bom gravá-la dessa maneira nos corações, para que jamais seja
apagada de sua memória e de modo a tirar-lhes a desculpa de terem pecado por
ignorância. Porque as santas leis farão sem dúvida impressão muito forte em seu
espírito quando eles mesmos ouvirem quais são os castigos que elas impõem e
como serão punidos os que ousarem violá-las.
Deve-se antes de tudo ensinar às crianças essas mesmas leis,
pois nada lhes poderá ser mais útil, e, pela mesma razão, apresentar-lhes duas
vezes por dia, pela manhã e à noite, os benefícios de que são devedoras a Deus
e a maneira como foram libertas da servidão dos egípcios, a fim de que lhe
agradeçam os favores passados e tornem-no favorável para obter outros no
futuro.
Deve-se escrever nas portas, para ter, assim, escritas em
redor da cabeça e dos braços as coisas principais que Deus fez por nós, pois
são grandes testemunhos de sua bondade e de seu poder, a fim de nos renovarem
continuamente a sua lembrança.
Devem ser escolhidos para magistrados, em cada cidade, sete
homens de virtude experimentada e hábeis no que concerne à justiça. A eles
acrescentem-se dois levitas, e todos lhes prestem tanta honra que ninguém se
atreva a dizer uma única palavra inconveniente em sua presença, a fim de que o
hábito de prestar respeito aos homens os leve a reverenciar a Deus. Os
julgamentos que esses magistrados pronunciarem serão executados, a não ser que
tenham sido subornadospor presentes ou pareça visivelmente que julgaram mal,
pois, sendo a justiça preferível a todas as coisas, é preciso ministrá-la sem
interesse e sem favor. Do contrário, Deus seria tratado com desprezo e
pareceria mais fraco que os homens se o temor de desgostar pessoas ricas e
elevadas em autoridade fosse mais poderoso sobre o espírito dos juizes que o
medo de violar a justiça, pois ela é a força de Deus. E, se os juizes encontram
dificuldade em decidir certos assuntos, como muitas vezes pode acontecer,
devem, sem nada pronunciar, levá-los integralmente à Cidade Santa, ao sumo
sacerdote, ao profeta e ao Senado, que os julgarão segundo a sua consciência.
Deuteronômio 19.
Não se prestará fé a uma única testemunha. Elas devem ser
três ou pelo menos duas, e pessoas sem culpa.
As mulheres não serão recebidas como testemunhas, por causa
da fragilidade de seu sexo e porque falam muito atrevidamente.
Os escravos também não poderão ser testemunhas, porque a
baixeza de sua condição lhes abate o ânimo, e o temor ou o interesse pode
levá-los a depor contra a verdade.
Aquele contra o qual se provar que proferiu falso testemunho
sofrerá o mesmo castigo que se imporia ao acusado, caso fosse condenado por seu
testemunho.
Deuteronômio 21.
Quando um assassínio for cometido, sem que se saiba quem é o
criminoso nem se tenha motivo para suspeitar de alguém tê-lo perpetrado por
ódio ou por vingança, é preciso informar-se com exatidão e mesmo propor uma
recompensa a quem o puder descobrir. E, se ninguém for dado como criminoso, os
magistrados das cidades vizinhas do lugar onde o assassínio foi cometido
reunir-se-ão com o Senado para saber qual dessas cidades é a mais próxima do
lugar onde foi encontrado o corpo do morto. Então essa cidade comprará uma
novilha, que será levada a um vale tão estéril que nele não cresçam cereais nem
ervas. Ali os sacerdotes e os levitas, depois de lhe terem cortado os nervos do
pescoço, lavarão as mãos e as colocarão sobre a cabeça da novilha, protestando
em alta voz, juntamente com os magistrados, que não estão manchados com esse
crime, que não o cometeram e que nem estavam presentes quando foi cometido, e
rogando a Deus que aplaque a sua cólera e jamais permita que semelhante
infelicidade volte a suceder naquele lugar.
A aristocracia é sem dúvida uma forma muito boa de governo,
porque põe a autoridade nas mãos de várias pessoas de bem. Abraçai-a, então, a
fim de terdes por senhores apenas as leis que Deus vos dá, pois vos deve ser
suficiente que Ele queira ser o vosso guia.
Deuteronômio 17.
Se desejardes um rei, escolhei um que seja da vossa nação e
ame a justiça e todas as outras virtudes. Por mais capaz que possa ser, é
necessário que se atenha mais a Deus e às leis que à sua própria sabedoria e
governo; que nada faça sem o conselho do sumo sacerdote e do Senado; e que não
tenha várias mulheres e nem sinta prazer em ajuntar dinheiro e criar muitos
cavalos, para que isso não o leve ao desprezo das leis. E, se ele se envolver
em excesso com essas coisas, deveis impedir, para o bem público, que ele se
torne mais poderoso que necessário.
Não se devem mudar os limites, tanto nas próprias terras
quanto nas dos outros, pois servem para manter a paz. Eles devem permanecer
fixos e imutáveis como se o próprio Deus os houvesse marcado, porque a mudança
pode dar motivo a grandes divergências e litígios, e aqueles cuja avareza não
pode tolerar que se ponham limites à sua ganância são facilmente levados a
desprezar e violar as leis.
Levítico 25.
Não poderão servir para uso particular e nem se oferecerão a
Deus as primícias dos frutos que as árvores produzirem antes do quarto ano, a
contar do tempo em que tiverem sido plantadas, porque são como frutos
abortados, e tudo o que é contrário às leis da natureza não é digno de ser
oferecido a Deus nem próprio para alimentar os homens. Quanto aos frutos que as
árvores produzirem no quarto ano, aquele que os colher os levará à Cidade Santa
para, com as outras décimas, oferecer a Deus as primícias e comer o resto com
os amigos, os órfãos e as viúvas. Mas, a começar do ano seguinte, que será o
quinto, poderá fazer de seus frutos o uso que desejar.
Nada se deve semear numa vinha, porque é suficiente que a
terra a alimente sem que se abra com o arado o seu seio.
Deve-se arar a terra com bois, sem juntar outros animais ou
atrelar espécies diferentes à mesma charrua.
Não é conveniente, do mesmo modo, misturar duas ou três
espécies de sementes para lançar à terra. Porque não agrada à natureza essa
mistura. Não se devem também acasalar animais de várias espécies, para que os
homens, por esse motivo, não se acostumem a tal mistura, que é abominável, pois
aquilo que a princípio parece de pouca importância facilmente produz efeitos
perigosos. Deve-se, por essa razão, tomar muito cuidado para não permitir
imitação que possa corromper os bons costumes. Eis por que as leis regulam
mesmo as coisas mínimas quando se trata de manter a todos no próprio dever.
Deuteronômio 24.
Os ceifadores devem não somente evitar recolher com
demasiada avareza as espigas como também deixar algumas para os pobres. Devem,
do mesmo modo, deixar alguns cachos na videira e azeitonas nas oliveiras. Pois
essa feliz negligência, longe de causar prejuízo ao que a pratica, traz-lhe
proveito, pela sua caridade. E Deus tornará mais fecunda a terra daquele que,
não se prendendo muito aos próprios interesses, não deixa de considerar os dos
outros.
Quando os bois pisam o grão, não se deve atar-lhes a boca,
pois é razoável que tirem proveito de seu trabalho.
Não se deve, do mesmo modo, impedir a um transeunte, quer do
país, quer estrangeiro, tomar e comer maçãs quando estiverem maduras. Ao
contrário, é bom dá-las de boa mente, sem que, porém, ele as leve consigo. Não
se deve também impedir àqueles que trabalham no lagar que experimentem as uvas,
pois é justo tornarmos os outros participantes dos bens que apraz a Deus nos
conceder, pois essa estação, que é a mais fértil do ano, dura pouco tempo. Se
alguém tiver vergonha de tocar nas uvas, deve-se mesmo pedir a ele que as
apanhe. (Se forem israelitas, a proximidade que há entre nós deve torná-los não
apenas participantes, mas senhores daquilo que possuímos. Se forem
estrangeiros, devemos desempenhar para com eles a hospitalidade, sem julgar
perder alguma coisa por esse pequeno presente que lhes fazemos dos frutos que
recebemos da liberalidade de Deus, pois Ele não nos enriquece somente para nós,
mas deseja também dar a conhecer aos outros povos, pela participação que lhe
permitimos em nossos bens, a sua munificência para conosco.)
Se alguém desobedecer a esses mandamentos, receberá trinta e
nove golpes de chicote. Será castigado com essa pena servil porque, sendo
livre, tornou-se escravo de seus bens e a si mesmo se desonrou. (Que há de mais
razoável, depois de sofrermos tanto no Egito e no deserto, que termos compaixão
das misérias dos outros e, tendo recebido tantos bens da bondade infinita de
Deus, distribuirmos uma parte aos que deles têm necessidade?)
Além das duas décimas que é obrigatório pagar a cada ano,
uma aos levitas e outra para as festas sagradas, deve-se pagar uma terceira,
para ser distribuída às viúvas, aos pobres e aos órfãos.
Deuteronômio 26.
As primícias de todos os frutos devem ser levadas ao Templo
e oferecidas aos sacerdotes, depois de terdes rendido graças a Deus por vos ter
dado a terra que os produz e feito os sacrifícios que a Lei determina. Aquele
que vier pagar essas duas décimas, das quais uma deve ser dada aos levitas e a
outra empregada nos festins sagrados, apresentar-se-á à porta do Templo antes
de voltar para casa e dará graças a Deus por haver libertado o povo da
escravidão do Egito e dado a ele uma terra tão fértil e abundante. Declarará em
seguida que pagou as décimas segundo a lei de Moisés e rogará a Deus que lhe
seja sempre favorável. (É Ele quem conserva os bens que nos deu, sem nada
acrescentarmos de novo.)
Quando os homens chegarem à idade de se casar, desposarão
jovens de condição livre, cujos pais sejam gente de bem. Aquele que recusar
casar-se dessa maneira, a fim de desposar a mulher de outro, que obteve com
artifícios, não poderá fazê-lo, para não contristar o primeiro marido.
Por mais amor que os homens tenham por mulheres escravas,
não devem desposá-las, mas dominar a sua paixão, pois a honestidade e a boa
educação a isso os obrigam.
A mulher que se prostituiu não poderá casar-se, porque,
tendo sido desonrado o seu corpo, Deus não receberá os sacrifícios que lhe
forem oferecidos por semelhantes casamentos. Além disso, as crianças que nascem
de pais virtuosos possuem índole mais nobre e mais inclinada à virtude que as
originárias de aliança vergonhosa ou contraída por amor impudico.
Deuteronômio 24.
Se alguém, depois de ter desposado uma jovem que passava por
virgem, julga ter motivo para crer que já não o é, a fará citar à justiça e
trará as provas de sua suspeita. O pai ou o irmão ou, em sua falta, o parente
mais próximo da moça a defenderá. Se ela for declarada inocente, o marido será
obrigado a mantê-la sem poder jamais despedi-la, a não ser por grande falta,
que não possa ser contestada. E, como castigo pela calúnia e pelo ultraje que
fez à sua inocência, receberá trinta e nove golpes de chicote e dará cinqüenta
sidos ao pai da moça. Mas se ela for culpada e provir de família leiga, será
apedrejada. Se for da descendência dos sacerdotes, será queimada viva.
Deuteronômio 2 1.
Se um homem desposou duas mulheres e tem mais afeto a uma
delas, quer por causa da beleza, quer por alguma outra razão, e o filho da que
ele mais ama seja mais moço que o da que ele menos ama e aquela o queira na
partilha, como se fosse o mais velho, a fim de que, segundo as leis, tenha
dupla porção, não deve o marido atender-lhe o pedido. Porque não é justo que a
infelicidade de a mãe ser menos amada pelo marido seja causa de injustiça ao
direito de primogenitura que o seu filho adquiriu pelo privilégio do
nascimento.
Deuteronômio 22.
Se alguém corrompeu uma jovem, noiva de outro, tendo ela lhe
dado o consentimento, ambos serão castigados de morte, pois são culpados: o
homem por ter persuadido a moça a preferir um prazer infame à honestidade do
matrimônio legítimo e ela por ter assim consentido ou pelo desejo do dinheiro
ou por vergonhosa volúpia.
Aquele que desonra uma moça que encontra sozinha e a quem
ninguém pode socorrer será castigado de morte.
Aquele que abusa de uma jovem ainda não prometida a ninguém
será obrigado a desposá-la ou a pagar cinqüenta sidos ao pai da moça, se este
não a quiser dar em casamento.
Aquele que por qualquer motivo quiser separar-se da mulher,
como acontece freqüentemente, prometer-lhe-á por escrito que jamais a tornará a
pedir de volta, a fim de que ela tenha liberdade de tornar a casar-se — e não
se permitirá o divórcio senão com essa condição. E se, depois de haver casado
com outro, esse segundo marido a tratar mal ou vier a morrer e o primeiro a
quiser receber de novo, não lhe será permitido voltar para junto dele.
Deuteronômio 25.
Se um homem morre sem filhos, o irmão dele desposará a viúva
e se dela tiver um filho dar-lhe-á o nome do falecido e o considerará herdeiro
deste, pois é vantajoso para a República que o bem se conserve desse modo nas
famílias, e será uma consolação para a viúva viver com uma pessoa tão próxima
de seu marido. Se o irmão do falecido recusar desposá-la, ela declarará diante
do Senado que ele não se incomodou em mantê-la na família do marido nem em lhe
dar filhos e que esse cunhado, a quem ela queria desposar, fez à memória do
irmão a injúria de não querer saber dela. Quando o Senado o fizer vir para
perguntar-lhe qual a razão disso e ele fizer alguma alegação, quer boa, quer
má, ela descalçará um dos sapatos do cunhado que a recusou e cuspir-lhe-á no
rosto, dizendo que ele merece receber essa afronta porque fez grande ultraje â
memória do irmão. Assim, ele sairá do Senado com essa mancha, que lhe marcará
pelo resto da vida, e a mulher poderá casar-se com quem bem entender.
Deuteronômio 21.
Se alguém tomar na guerra uma mulher como prisioneira, seja
virgem, seja casada, e quiser contrair com ela um matrimônio legítimo, é
preciso que antes ela se vista de luto, que lhe cortem os cabelos e que ela
chore os parentes e amigos mortos no combate, para que depois de satisfazer à
dor possa ter o espírito mais livre para as festas de núpcias. Porque é justo
que aquele que toma uma esposa com o propósito de ter filhos dê alguma coisa
aos bons sentimentos dela e não se entregue de tal modo ir ao prazer que venha a
desprezá-los. Após um luto de trinta dias, tempo suficiente para as pessoas
sensatas chorarem os parentes e amigos, poder-se-á celebrar o casamento. Se o
homem depois de ter sa-tisfeito à sua paixão vier a desprezar essa mulher, não
lhe será mais permitido tê-la como escrava: ela tornar-se-á livre e poderá ir
para onde quiser.
Deuteronômio 21.
Se houver filhos que não prestem aos progenitores a honra
que lhes é devida, mas os desprezem e vivam insolentemente com eles, esses
progenitores, que a natureza faz juizes daqueles, deverão fazer-lhes ver que ao
se casar não tinham por objetivo a voluptuosidade nem o desejo de aumentar o
próprio bem, e sim ter filhos que os pudessem auxiliar na velhice e que,
havendo-os recebido de Deus, os receberam com alegria e ação de graças e os
educaram com toda espécie de cuidados, sem nada poupar para bem instruí-los. E
acrescentarão estas palavras: "Mas como é preciso perdoar alguma coisa à
juventude, contentai-vos pelo menos, meu filho, de terdes até aqui cumprido tão
mal o vosso dever. Refleti, procurai ser mais sensato e lembrai-vos de que Deus
tem como feitas contra Ele mesmo as ofensas que se cometem contra aqueles dos
quais se recebeu a vida, pois Ele é o pai comum de todos os homens, e a Lei
determina, por esse motivo, uma pena irremissível, e eu ficaria muito sentido
se fósseis tão infeliz que a devêsseis merecer".
Se depois de todas essas palavras a criança se corrigir,
será bem perdoar-lhe as faltas que houver cometido mais por ignorância que por
malícia, e assim louvar-se-á a sabedoria do legislador e os pais serão felizes
por ver que o filho não sofrerá o castigo que as leis determinam. Mas se essa
sábia repreensão for inútil e a criança persistir na desobediência e permanecer
insolente para com os pais, tornando-se inimiga das leis, ela será levada para
fora da cidade e apedrejada à vista de todo o povo. E, depois que o seu corpo
tiver sido exposto em público durante todo o dia, será enterrada à noite.
Deuteronômio 23.
A mesma coisa se há de observar a respeito daqueles que
forem condenados à morte: enterrar-se-ão até mesmo os inimigos. Nenhum morto
deve ser deixado sem sepultura, pois seria levar muito além a sua punição.
Não será permitido a israelita algum emprestar com usura
dinheiro, alimento algum ou bebida de qualquer espécie, porque não é justo
aproveitar-se da miséria dos outros da mesma nação. Deve-se, ao contrário,
considerar uma honra ajudá-los e esperar recompensa somente de Deus. Aqueles
que tomarem emprestado dinheiro, frutos secos ou líquidos deverão restituí-los
quando Deus lhes permitir colhê-los, e com a mesma alegria com que os pediram
emprestado, porque é o melhor meio de os encontrar se vierem a cair em
semelhante miséria.
Deuteronômio 24.
Se o devedor não tem vergonha de deixar de pagar a dívida, o
credor não deverá, no entanto, ir à sua casa pedir um penhor, como garantia,
mas terá de esperar que a justiça o ordene. Só então o poderá solicitar, sem
todavia entrar na casa do devedor, que será obrigado a entregar-lhe o penhor
imediatamente, pois não é permitido opor-se àquele que vem amparado pelo
auxílio das leis. Se o devedor estiver em boa situação, o credor poderá
conservar esse penhor até ser reembolsado daquilo que emprestou. Mas se é
pobre, deverá restituí-lo antes que o sol se ponha, principalmente se forem
vestes, a fim de que possa cobrir-se à noite, porque Deus tem compaixão dos
pobres. Não se poderá tomar como penhor uma mula nem coisa alguma que sirva
para o moinho, a fim de não se aumentar ainda mais a miséria dos pobres
tirando-lhes os meios de ganhar a vida.
Aquele que retiver em escravidão um homem livre de
nascimento será castigado com a morte. Aquele que roubar ouro ou prata será
obrigado a restituir o dobro.
Aquele que matar um ladrão doméstico ou um homem que tenha
tentado saltar o muro de sua casa para roubar não será castigado.
Aquele que roubar um animal pagará o quádruplo de seu valor.
Se for um boi, pagará cinco vezes o que ele vale. Ou será reduzido à
escravidão, se não tiver meios de pagar a multa.
Se um hebreu for vendido a outro hebreu, ficará seis anos
como seu escravo, mas no sétimo ano será posto em liberdade. Se enquanto
estiver na casa de seu senhor desposar uma mulher escrava como ele, tiver
filhos dela e por causa da afeição que lhes tem preferir permanecer escravo com
eles, será libertado, com a mulher e os filhos, no ano do Jubileu.
Deuteronômio 22.
Se alguém achar ouro ou prata na estrada, será divulgado a
som de trombe-ta o lugar onde foi encontrado esse bem, a fim de que seja
restituído a quem o perdeu, porque não se deve tirar vantagem do prejuízo
alheio. A mesma coisa deve ser feita com os animais que se encontrarem perdidos
ou desgarrados no deserto. E, se não se puder saber a quem eles pertencem,
poderão ser conservados, depois de se tomar a Deus como testemunha de que não
existe absolutamente intenção de se tirar proveito do bem alheio.
Quando for encontrado algum animal de carga atolado num
pântano, deve-se tentar retirá-lo de lá como se fosse próprio.
Em vez de se zombar de quem está perdido ou de se divertir
ao vê-lo em tal aflição, deve-se encaminhá-lo à verdadeira estrada.
Não se deve falar mal nem de um surdo nem de um ausente.
Se numa briga inesperada um homem ferir outro sem ter
empregado ferro, deve ser castigado, recebendo tantos golpes quantos desferiu.
Se o ferido vier a morrer depois de ter vivido muito tempo após o ferimento,
aquele que o feriu não será castigado como assassino. E, se o ferido sarar,
aquele que o feriu será obrigado a pagar todas as despesas, bem como aos
médicos.
Se alguém der um pontapé numa mulher grávida e ela der à luz
antes do tempo, será condenado a uma multa em favor dela e a outra em favor do
marido, porque diminuiu o número do povo, impedindo um homem de vir ao mundo.
Se a mulher morrer por causa do golpe que recebeu, ele será castigado com a
morte, porque exige a Lei que quem tirar a vida de outrem também venha a perder
a própria vida.
Quem for encontrado trazendo veneno consigo será castigado
com a morte, porque é justo que venha a sofrer o mesmo mal que desejou fazer a
outrem.
Se um homem vaza os olhos a outro, ser-lhe-ão também vazados
os seus, porque é razoável que seja tratado tal como tratou ao outro, caso o
que perdeu a vista não preferir ser ressarcido com dinheiro: isso a Lei deixa
escolher.
O dono de um boi que tem probabilidade de ferir com os
chifres é obrigado a matá-lo. E, se o boi ferir alguém e o matar, será morto
imediatamente a pedradas e não se comerá a sua carne. E, se o dono sabia que o
boi era perigoso e não tomou providências a esse respeito, será castigado com a
morte, porque causou a morte de alguém. Se a pessoa morta pelo boi for escrava,
o boi será apedrejado e serão pagos trinta sidos ao dono do escravo. Se um boi
matar outro boi, ambos serão vendidos e o dinheiro será dividido entre os donos.
Quem cavar um poço ou uma cisterna terá grande cuidado em
cobri-lo, não para impedir que se tire água, mas para que ninguém lá venha a
cair. E se, por não haver assim procedido, algum animal lá cair e morrer, será
obrigado a pagar o preço do animal ao seu proprietário. É preciso colocar
cercas em redor dos telhados das casas, para que ninguém de lá venha a cair.
Levítico 6.
Aquele a quem um depósito for confiado, conservá-lo-á como
coisa sagrada e não o dará a quem quer que seja, por coisa alguma que se lhe
possa oferecer. Pois, embora não haja testemunhas para acusá-lo, ele deve ter
em conta o testemunho da consciência e o quanto deve a Deus, que não pode ser
enganado pela malícia ou pelos artifícios dos homens. E, se o depositário
perder o depósito, sem culpa irá procurar os sete juizes de que se falou e
tomará a Deus por testemunha, jurando em sua presença que não teve parte alguma
no furto nem fez uso algum do depósito. Assim, será livre do compromisso. Mas,
por pouco que dele se tenha servido, será obrigado a restituir o depósito
inteiro.
Deuteronômio 24.
Deve-se ser bastante consciencioso em pagar o salário a que
fazem jus os operários com o suor do rosto, pois Deus, em vez de terras e de
bens, deu braços aos pobres, para ganharem a vida. Pela mesma razão, não se
deve adiar para o dia seguinte o pagamento que lhes é devido. Devem ser pagos
no mesmo dia, porque Deus não quer vê-los prejudicados por não receberem o que
granjearam.
As crianças não devem ser castigadas pelos pecados dos pais
porque, sendo elas virtuosas, são dignas de serem lamentadas por terem nascido
de pessoas viciadas e não devem ser odiadas em razão das faltas cometidas por
seus proge-nitores. Não se deve, do mesmo modo, imputar aos pais os defeitos
dos filhos, e sim atribuí-los à má natureza destes, que os fez desprezar as
boas lições que lhes deram aqueles e os impediu de aproveitá-las.
Deve-se fugir e ter horror aos que se tornaram eunucos
voluntariamente e assim perderam o meio que Deus lhes deu de contribuir para a
multiplicação dos homens. Porque além de terem procurado quanto estava neles
diminuir-lhes o número e serem de algum modo homicidas de crianças, das quais
poderiam ter sido os pais, não poderiam cometer tal ação sem ter antes
machucado a pureza da própria alma, pois é fora de dúvida que se ela não se
tivesse efeminado eles não teriam posto o corpo num estado que os assemelha às
mulheres. Assim, é preciso rejeitar tudo o que, sendo contra a natureza, pode
passar a monstruoso. Não se deve privar nem o homem nem animal algum do sinal
de seu sexo.
173. Essas são as leis que sereis obrigados a observar
durante a paz, a fim de tornardes Deus favorável. E, para que nada as possa
perturbar, rogo-vos que nunca permitais que elas sejam abolidas e substituídas
por outras. Mas, sendo impossível que não haja amotinação nos países mais bem
organizados e que os homens não caiam em desgraça, improvisada ou voluntária, é
preciso que eu vos dê, além de tudo, alguns avisos a esse respeito, de modo a
não serdes surpreendidos nessas ocasiões e a estardes preparados para o que
deveis fazer.
É meu desejo que quando tiverdes obtido por vosso trabalho,
com o auxílio de Deus, o país que Ele vos destinou, vós o possais possuir em
paz e com plena tranqüilidade; que não sejais perturbados, nem pelos ataques de
vossos inimigos nem por divisões intestinas; e que, em vez de abandonar as leis
e o proceder de vossos antepassados para abraçar outras que lhes sejam
inteiramente opostas, permaneçais firmes na observância daquelas que o próprio
Deus vos outorgou. Mas se vós ou os vossos descendentes fordes obrigados a
fazer guerra, desejo de todo o meu coração que isso jamais ocorra no vosso
país. Nesse caso, deve-se começar enviando arautos para declarar aos vossos
inimigos que em qualquer condição que estejais, tanto na cavalaria como na
infantaria, e principalmente tendo a Deus por protetor e guia de vossos
exércitos, preferis não serdes obrigados a lançar mão das armas, pois não
tendes nenhum desejo de vos aproveitardes disso.
Se as vossas palavras os persuadirem a continuar em paz
convosco, será muito melhor não rompê-la. Se eles as desprezarem, porém, e não
temerem declarar-vos uma guerra injusta, marchai corajosamente contra eles,
tomando a Deus por comandante e general e para comandar, abaixo dEle, o mais sábio
e experimentado de vossos capitães, pois a pluralidade de chefes com igual
autoridade, em lugar de ser vantajosa, é muitas vezes prejudicial, pela demora
que traz à execução das empresas. Quanto aos soldados, é preciso escolher os
mais valentes e robustos, sem misturar com eles os fracos e covardes, pois
estes, em vez vos serem úteis, sê-lo-ão aos vossos inimigos, fugindo quando
deveriam combater.
Não se obrigará a ir à guerra os que tiverem construído uma
casa até que nela tenham habitado durante um ano, nem os que tiverem plantado
uma vinha até que dela tenham recolhido os frutos e nem os recém-casados, pois
estes, pelo desejo de se conservarem para desfrutar os prazeres que lhes são
caros, podem vir a afrouxar a coragem e poupar a vida demasiadamente.
Observai nos vossos acampamentos uma disciplina rigorosa, e
quando atacardes uma praça e tiverdes necessidade de madeira para fazer
máquinas, evitai cortar as árvores frutíferas, porque Deus as criou para
utilidade dos homens, e, se elas pudessem falar e mudar de lugar,
queixar-se-iam do mal que lhes estaríeis fazendo sem vos terem dado motivo para
isso e ir-se-iam estabelecer em outras terras.
Quando sairdes vitoriosos, matai os que vos resistirem no
combate, mas poupai os outros, para torná-los tributários, exceto os cananeus,
que exterminareis completamente.
Deuteronômio 22.
Ficai atentos a tudo o que se refere à guerra,
principalmente para que nenhuma mulher se disfarce de homem e nenhum homem de
mulher.
Essas foram as leis que Moisés deixou à nossa nação. Ele deu
também as que havia escrito quarenta anos antes, das quais falaremos em outro
lugar.
174. Deuteronômio 30, 31, 32 e 34. Esse homem admirável
continuou nos dias seguintes a reunir o povo, pediu a Deus com fervorosas
orações que os assistisse, se eles observassem as suas santas leis, e fez
imprecações contra aqueles que a elas faltassem. Deu-lhes depois um cântico que
havia composto em versos hexâmetros, no qual predizia as coisas que lhes deviam
acontecer, das quais uma parte já se realizou e o resto realizar-se-á depois,
sem que se tenha podido notar uma mínima coisa que não fosse conforme à
verdade. Entregou esse livro sagrado à guarda dos sacerdotes, juntamente com a
arca, na qual esta-vam as duas Tábuas da Lei, e confiou-lhes o cuidado do Tabernáculo.
175. Ele recomendou ao povo que quando estivessem de posse
da terra de Canaã se recordassem da injúria que haviam recebido dos amalequitas
e lhes declarassem guerra, para castigá-los como mereciam, pela maneira
injuriosa com que os haviam tratado no deserto.
Deuteronômio 27 e 28. Ordenou-lhes também que, depois de
conquistar essa mesma terra de Canaã e de passar todos os seus habitantes a fio
de espada, construíssem perto da cidade de Siquém um altar voltado para o
oriente, que tivesse à direita o monte Gerizim e à esquerda o Ebal, e que em
seguida se dividisse todo o exército em dois, colocando seis tribos sobre um
monte e seis sobre o outro e dividindo igualmente os sacerdotes e os levitas
entre os dois montes.
Então os que estivessem sobre o monte Gerizim pediriam a
Deus que abençoasse os que observassem com piedade as leis dadas por Moisés. Os
que estivessem sobre o monte Ebal confirmariam com aclamações esse pedido e
pronunciariam, por sua vez, as mesmas bênçãos, ao que os outros responderiam com
os mesmos clamores de alegria. Por fim, fariam uns depois dos outros, na mesma
ordem, todas as espécies de imprecações contra os violadores das leis de Deus.
Moisés mandou escrever todas essas bênçãos e maldições e, para melhor
conser-var-lhes a recordação, mandou gravá-las nos dois lados do altar e
permitiu ao povo que dele se aproximasse somente naquele dia de oferecer
holocaustos, o que lhes era proibido pela Lei. Esses foram os mandamentos que
Moisés outorgou aos hebreus e que eles observam ainda hoje.
176. Deuteronômio 29. No dia seguinte, mandou reunir todo o
povo e quis que as mulheres, as crianças e mesmo os escravos estivessem
presentes. Obrigou-os todos a jurar que observariam inviolavelmente e conforme
a vontade de Deus todas as leis que ele lhes havia concedido por ordem dEle,
sem que nem o parentesco, nem o favor, nem o medo, nem qualquer outra
consideração os pudesse levar a transgredi-las. E, se algum dos parentes ou
alguma cidade, sem motivo, quisesse fazer coisas que lhes fossem contrárias,
todos, em geral e em particular, os dominariam à força e, depois de vencer
esses ímpios, destruiriam as suas cidades até os alicerces, sem que restasse,
se possível, o menor vestígio delas. Se não fossem bastante fortes para
vencê-los e castigá-los, que ao menos demonstrassem horror pela sua impiedade.
Todo o povo prometeu com juramento observar essas coisas.
Moisés instruiu-os depois sobre a maneira como deviam fazer
os sacrifícios, a fim de torná-los mais agradáveis a Deus. Recomendou-lhes
ainda que não se metessem em guerra alguma, senão depois de reconhecer, pelo
brilho extraordinário das pedras preciosas que estavam sobre o racional do sumo
sacerdote, que Deus aprovava que eles as empreendessem.
177. Josué então predisse, pelo espírito de profecia, mesmo
ainda vivendo Moisés e em presença deste, tudo o que faria para o bem do povo
ou na guerra, pelas armas, ou na paz, pela publicação de várias leis boas e
santas. Exortou-os a praticar com cuidado a maneira de viver que lhes acabava
de ser determinada e disse-lhes que Deus lhe havia revelado que, se eles se
afastassem da piedade de seus antepassados, seriam oprimidos por toda espécie
de desgraças: o seu país se tornaria presa de nações estrangeiras e os seus
inimigos destruiriam as suas cidades, queimariam o Templo e levá-los-iam
escravos. Eles gemeriam numa escravidão tanto mais dolorosa quanto teriam por
senhores homens sem piedade e então se arrependeriam, porém muito tarde, de sua
desobediência e ingratidão. Todavia a infinita bondade de Deus não deixaria de
restituir as cidades aos seus antigos habitantes e o Templo ao seu povo, o que
aconteceria não somente uma vez, mas diversas.
178. Deuteronômio 31, 33 e 34. Moisés ordenou em seguida a
Josué que levasse o exército contra os cananeus, assegurando-lhe que Deus o
assistiria naquela empresa e desejando toda espécie de felicidade ao povo, e
assim falou-lhes: "Hoje Deus resolveu terminar a minha vida, e devo ir
encontrar-me com os meus pais. É bem justo que antes de morrer eu lhe dê graças
na vossa presença pelo cuidado que teve de vós, não somente vos livrando de
tantos males, mas vos cumulando de tantos bens, e por me assistir nas
dificuldades que tive de enfrentar para vos proporcionar tantos benefícios.
Pois é somente a Ele que deveis o começo e a realização de vossa felicidade. Eu
fui apenas o seu ministro e só ei as suas ordens, que são efeitos de sua
onipotência, de que eu não saberia dar graças o suficiente nem teria como
rogar-lhe a continuidade. Deixo cumprido esse dever e rogo-vos que graveis na memória
um tão profundo respeito por Deus e tanta veneração por suas santas leis que as
considereis sempre como o maior de todos os favores que Ele vos fez e que
jamais poderíeis dEle receber. Se um legislador, embora sendo um homem, não
iria tolerar que se desprezassem as leis criadas por ele e castigaria o
desprezo a elas com todas as suas forças, imaginai qual será a cólera e a
indignação de Deus, se deixardes de observar as suas. Rogo a Ele de todo o meu
coração que não permita sejais tão infelizes para merecê-lo".
179. Depois de assim falar, Moisés predisse a cada uma das
tribos o que lhe deveria acontecer e desejou-lhes mil bênçãos. Toda aquela
enorme multidão não pôde por mais tempo reter as lágrimas. Homens e mulheres,
grandes e pequenos, todos demonstraram igualmente o seu pesar por perder um
chefe tão ilustre. Não houve mesmo criança que não derramasse lágrimas: a sua
eminente virtude não podia ser ignorada nem mesmo pelos dessa idade.
Dentre as pessoas sensatas, umas deploravam a gravidade de
sua perda para o futuro e outras queixavam-se de não terem compreendido o
bastante a felicidade que era para eles ter um tal chefe e guia e de serem
privados dele quando o começavam a conhecer. Nada, porém, demonstrou tão bem
até que ponto chegava a aflição deles como o que aconteceu a esse grande
legislador. Pois ainda que estivesse convencido de que não era necessário
chorar à hora da morte, pois ela vem por vontade de Deus e por uma lei
indispensável da natureza, ele ficou tão comovido pelas lágrimas de todo o povo
que não pôde deixar de chorar.
Caminhou depois para onde deveria terminar a vida, e todos
seguiram-no gemendo. Aos mais afastados, ele sinalizou com a mão que parassem e
rogou aos que estavam mais próximos que não o afligissem mais ainda, seguindo-o
com tantas demonstrações de afeto. Assim, para obedecer, eles pararam, e todos
juntamente lamentavanra infelicidade por tão grande perda. Eleazar, o sumo
sacerdote, Josué, o comandante do exército, e os Senadores foram os únicos que
o acompanharam. Quando ele chegou ao monte Nebo, que está em frente a Jerico e
é tão alto que de lá se pode ver todo o país de Canaã, despediu-se dos
Senadores, abraçou Eleazar e Josué e deu-lhes o último adeus. Ainda ele falava
quando uma nuvem o rodeou e ele foi levado a um vale.
Os Livros Santos, que ele nos deixou, dizem que Moisés
morreu porque se temia que o povo não acreditasse que ele ainda estava vivo,
arrebatado ao céu por causa de sua eminente santidade. Faltava somente um mês
para que, dos cento e vinte anos que viveu, ele completasse quarenta no governo
daquele grande povo, cuja direção Deus lhe havia confiado. Ele morreu no
primeiro dia do último mês do ano, que os macedônios chamam dystros, e os
hebreus, adar.
jamais homem algum igualou em sabedoria esse ilustre legislador,
e ninguém soube, como ele, tomar sempre as melhores resoluções e tão bem pô-las
em prática, jamais algum outro se lhe pôde comparar na maneira de tratar com um
povo, de governá-lo e persuadi-lo pela força de suas palavras. Sempre foi tão
senhor de suas paixões que parecia até delas estar isento e que as conhecia
apenas pelos efeitos que via nos outros. Sua ciência na guerra pôde dar-lhe um
lugar entre os maiores generais, e nenhum outro teve o dom da profecia em tão
alto grau. As suas palavras eram outros tantos oráculos, e parecia que o
próprio Deus falava por sua boca.
O povo chorou-o durante trinta dias, e nenhuma outra perda
lhe foi jamais tão sensível. E ele não foi lamentado apenas por aqueles que
tiveram a felicidade de conhecê-lo, mas também por aqueles que conheceram as
leis admiráveis que ele nos deixou, porque a santidade que nelas se nota não
pode permitir dúvidas sobre a eminente virtude desse legislador.
Que o Santo Espirito do Senhor, ilumine
o nosso entendimento
Não perca tempo, Indique esta maravilhosa
Leitura
Custo:O Leitor não paga Nada,
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