História De Israel – Teologia 31.126
CAPÍTULO 4.
DARIO, REI DA PÉRSIA, PROPÕE A ZOROBABEL, PRÍNCIPE DOS
JUDEUS, E A
DOIS OUTROS QUESTÕES PARA SEREM RESOLVIDAS. ZOROBABEL
RESOLVE-AS E
RECEBE COMO RECOMPENSA A RESTAURAÇÃO DE JERUSALÉM E DO
TEMPLO.
UM GRANDE NÚMERO DE JUDEUS VOLTA EM SEGUIDA PARA JERUSALÉM
SOB O COMANDO DE ZOROBABEL E TRABALHA NESSA OBRA.
OS SAMARITANOS E OUTROS POVOS PEDEM A DARIO QUE A IMPEÇA.
MAS ESSE PRÍNCIPE FAZ JUSTAMENTE O CONTRÁRIO.
439. Esdras 5 e 6. Dario era ainda um simples cidadão, mas
fizera a Deus um voto: se um dia subisse ao trono, restituiria ao Templo em
Jerusalém tudo o que estava ainda na Babilônia dos vasos sagrados. Quando ele
foi proclamado rei, aconteceu que Zorobabel, príncipe dos judeus, que era seu
velho amigo, estava próximo dele. E assim, confiou a ele e a dois outros dos
principais a direção de sua casa e de tudo o que mais de perto se referia à sua
pessoa.
O grande rei, no primeiro ano de seu reinado, ofereceu um
suntuoso banquete aos seus principais auxiliares, aos maiorais dos medos e dos
persas e aos governadores das cento e vinte e sete províncias sobre as quais
estendia o seu domínio, que ia desde as índias até a Etiópia. Terminado o
banquete, todos se retiraram, e Dario dormiu um pouco, mas logo acordou. Não
podendo conciliar o sono novamente, pôs-se a conversar com aqueles três
oficiais.
Ele prometeu conceder a quem melhor resolvesse o problema
que iria propor que se vestisse de púrpura, usasse um colar de ouro, bebesse em
taça de ouro, dormisse em um leito de ouro, passeasse num carro em que os arreios
dos cavalos eram de ouro, usasse uma tiara de fino linho, se sentasse perto
dele e fosse considerado seu parente. Perguntou então ao primeiro se a mais
forte de todas as coisas do mundo não era o vinho. Ao segundo, se não eram os
reis. Ao terceiro, se não eram as mulheres ou a verdade. Disse-lhes que
pensassem. No dia seguinte, pela manhã, mandou chamar os príncipes, os grandes
senhores da Pérsia e da Média, sentou-se no trono de onde costumava distribuir
a justiça e ordenou aos três oficiais que respondessem na presença de toda a
assembléia às perguntas que havia feito.
O primeiro, para mostrar a força do vinho, falou assim:
"Parece-me não haver melhor prova para mostrar que tudo cede à força do
vinho que vermos como ele perturba a razão e põe os próprios reis em tal estado
que eles se tornam como crianças, as quais têm necessidade de serem guiadas;
como dá aos escravos a liberdade de falar, deles tirada pela escravidão, e
torna os pobres tão contentes quanto os ricos; como muda de tal sorte o Espírito
dos homens que, mesmo nas maiores misérias, afoga os sentimentos de sua
desgraça; como os faz esquecer a própria desdita e os persuade de que estão em
tal abundância que só falam de milhões; como lhes põe na boca as palavras que
usam os que se encontram no cume da glória e lhes tira o medo das pessoas mais
temíveis e dos maiorais monarcas; como os faz não conhecer e até odiar os seus
melhores amigos. Depois eles adormecem e, despertando, encontram-se com o
Espírito tranqüilo e nem se lembram mais do que disseram ou fizeram durante a
embriaguez. Assim, creio que o vinho deve passar pela coisa mais forte do
mundo".
Depois que o primeiro assim falou em favor do vinho, o
outro, encarregado de mostrar que nada iguala ao poder dos reis, procurou
prová-lo com estas palavras: "Ninguém pode duvidar de que os homens são os
senhores do universo, pois dominam toda a terra e o mar e fazem uso dos
elementos para o que bem lhes parece. Mas os reis governam os homens e reinam
sobre aqueles que dominam todos os animais. Que há, pois, que se possa comparar
ao seu poder? Eles governam os seus súditos, e estes estão sempre prontos a
obedecê-lo. Ele os põe, quando lhe apraz, em todos os perigos da guerra, e,
embora seja necessário forçar muralhas ou combater em campo aberto ou atacar em
montes inacessíveis, eles não impõem dificuldade para se expor à morte e
obedecê-lo. Depois de vencerem as batalhas, obtendo vitórias à custa do próprio
sangue, toda a vantagem e toda a glória reverte em favor do rei, bem como o
fruto dos trabalhos e dos suores daqueles dentre o povo que, enquanto os demais
pegam em armas, cultivam a terra. Assim, os príncipes recolhem o que não
tiveram o trabalho de semear, desfrutam todas as espécies de prazer e dormem à
vontade, enquanto os seus guardas velam à porta sem dela se afastar, por
maiores que sejam as necessidades que os chamem a outros lugares. Pode-se,
pois, duvidar de que o poder dos reis não supere a todos os outros?"
Zorobabel, que devia falar por último, para mostrar que o
poder das mulheres e da verdade é o mais forte, assim se expressou: "Estou
de acordo com a força do vinho e o poder dos reis, mas ouso afirmar que o poder
das mulheres é ainda maior. Os homens e os reis têm nelas a sua origem, e, se
elas não tivessem posto no mundo os que cultivam as terras, a vinha não
produziria o fruto cujo suco é tão agradável. De tudo teríamos falta sem as
mulheres. Devemos ao seu trabalho as principais comodidades da vida: elas fiam
a lã e o tecido com que nos vestimos. Têm cuidado de nossas famílias, e não
poderíamos passar sem elas. A sua beleza tem tanto encanto que nos fazem
desprezar o ouro, a prata e tudo o que há de mais rico no mundo para ganharmos
o seu afeto. Para segui-las, abandonamos sem pesar mãe, pai, parentes, amigos e
a nossa própria pátria. Fazemo-las senhoras não somente de tudo o que
conquistamos com mil trabalhos na terra e no mar, mas de nós mesmos.
Acrescentarei que vi o rei, senhor de tantas nações, permitir que Apaméia, sua
senhora, filha de Rapsacés Temasim, lhe batesse no rosto e lhe arrancasse a
coroa para pô-la na própria cabeça e vi o grande príncipe rir-se quando ela
estava de bom humor, afligir-se quando ela estava triste, adulá-la, unificar-se
aos sentimentos dela e rebaixar-se até pedir-lhe desculpas quando julgava tê-la
desgostado em alguma coisa".
Todos os assistentes ficaram tão impressionados com essas
palavras que começaram a se entreolhar. Zorobabel então passou do louvor às
mulheres ao da verdade: "Mostrei qual o poder das mulheres, mas nem as
mulheres nem os reis são comparáveis à verdade. Por maior que seja a terra, por
mais alto que seja o céu, por mais rápido que seja o curso do Sol, é Deus que
os move e governa. Deus é justo e verdadeiro, e assim é evidente que nada se
iguala ao poder da verdade. A injustiça nada pode contra ela. Enquanto todas as
demais coisas são perecíveis e passam como um relâmpago, ela é imortal e
subsiste eternamente. Além disso, as vantagens com que nos enriquece não duram
menos que ela mesma: a fortuna não poderia tirá-la de nós nem o tempo alterá-la,
porque está acima do alcance deles. E ela é tão pura que nada a pode
corromper".
Zorobabel assim falou, e muitos louvaram-no e confessaram
que ele havia provado muito bem que nada é mais poderoso que a verdade, a qual
jamais envelhece e não está sujeita a mudanças. O rei disse-lhe que declarasse
o que desejava daquilo que prometera ao que melhor respondesse às questões
propostas, e o concederia de boa vontade, reconhecendo-o como o mais sábio e
mais inteligente de todos. Disse ainda que desejava, no futuro, receber os seus
conselhos e ter tanta consideração por ele como a um parente.
Zorobabel respondeu-lhe que não lhe pedia outra graça senão
que cumprisse o voto que havia feito antes de ser elevado à dignidade da coroa:
mandar reconstruir Jerusalém, restaurar o Templo de Deus e restituir todos os
vasos sagrados que o rei Nabucodonosor mandara tirar e levar para a Babilônia.
O rei então levantou-se do trono com o rosto alegre, beijou Zorobabel e ordenou
que se escrevesse aos governadores de suas províncias, para que o ajudassem a
reconstruir o Templo, bem como aos que o acompanhassem na viagem a Jerusalém.
Deu também aos magistrados da Síria e da Fenícia ordem para que mandassem
cortar cedros sobre o monte Líbano e os fizessem levar a Jerusalém e para que
ajudassem os que iam reconstruir a cidade.
Essas mesmas cartas diziam que o rei desejava que todos os
judeus que fossem a Jerusalém de volta do cativeiro fossem libertados, proibiam
a todos os seus oficiais fazer-lhes imposições ou obrigá-los a pagar tributo e
ordenavam que lhes fosse permitido cultivar todas as terras aproveitáveis. O
rei ordenava aos idumeus, aos samaritanos e aos da Baixa Síria que lhes
entregassem tudo o que os seus pais haviam possuído e contribuíssem com
cinqüenta talentos para a construção do Templo. Permitia também aos judeus
oferecer a Deus os mesmos sacrifícios e observar as mesmas cerimônias que seus
antepassados. Podiam ainda tomar do fundo dos bens reais o que fosse necessário
para as vestes dos sumos sacerdotees e dos outros sacerdotes e para os
instrumentos de música com os quais os levitas cantavam louvores a Deus, e a
cada ano se daria aos guardas do Templo e da cidade terras e o dinheiro
necessário à sua manutenção. Por fim, Dario confirmou tudo o que Ciro havia determinado,
tanto para a restauração da nação judaica quanto para a restituição dos vasos
sagrados.
440. Depois que Zorobabel obteve do soberano tudo o que
podia desejar, a primeira coisa que fez ao sair do palácio foi elevar os olhos
ao céu e agradecer a Deus o favor que Ele lhe fizera, ou seja, torná-lo perante
o príncipe o mais hábil e inteligente de todos. Confessou que devia toda a sua
felicidade ao auxílio dEle e pediu que Ele continuasse a ajudá-lo. Quando
chegou à Babilônia e deu essa grata notícia aos de sua nação, eles também deram
graças a Deus por Ele haver permitido que se restabelecessem em sua pátria e
passaram sete dias inteiros em festas de regozijo. As famílias escolheram em
seguida pessoas de sua tribo para que fossem levadas a Jerusalém e procuraram
cavalos e outros animais para carregar as suas mulheres e filhos. Assim uma
grande multidão de todas as idades e ambos os sexos, guiadas por aqueles que
Dario havia posto à frente, fez toda a caminhada com incrível alegria, ao som
de flautas e de timbales.
O temor de aborrecer o leitor e de interromper o fio de
minha narração não me deixará mencionar nomes em particular. Contentar-me-ei em
dizer o seu número. Havia nas tribos de Judá e de Benjamim, da idade de doze
anos para cima, quatro milhões seiscentas e vinte e oito mil pessoas. A
multidão era seguida por quatro mil e setenta levitas e quarenta mil setecentos
e quarenta e duas mulheres e crianças. Da estirpe dos levitas, havia cento e
vinte e oito cantores, cento e dez porteiros e trezentos e vinte e dois que
serviam no Santuário. Seis-centos e cinqüenta e dois se diziam israelitas,
rrias, sem poder prová-lo, não foram reconhecidos como tais. Quinhentos e vinte
e cinco haviam desposado mulheres que eles diziam ser da descendência dos
sacerdotes e dos levitas, mas os seus nomes não constavam das genealogias. Sete
mil trezentos e trinta e sete escravos caminhavam atrás deles, bem como
duzentos e quarenta cantores e cantoras. Havia ainda quatrocentos e trinta e
cinco camelos e quinhentos e vinte e cinco cavalos ou outros animais de carga
no transporte das bagagens.
Zorobabel, de que falamos há pouco, era filho de Sealtiel,
da tribo de Judá e da estirpe de Davi. Ele chefiava essa grande multidão,
auxiliado por Jesua, filho de Jozadaque, sumo sacerdote, Mardoqueu e Cerebeu,
escolhidos pelas outras duas tribos. Os dois últimos contribuíram, das próprias
economias, com cem peças de ouro e cinco mil de prata para as despesas dessa
viagem. Os sacerdotes, os levitas e uma parte do povo judeu que estava na Babilônia
voltaram para morar novamente em Jerusalém, e os que lá ficaram os acompanharam
durante uma parte do caminho e depois retornaram.
441. Sete meses depois, Jesua, sumo sacerdote, e o príncipe
Zorobabel enviaram a toda parte convites aos de sua nação, para que se
dirigissem a Jerusalém. Eles foram com grande alegria e, depois de construírem
um altar no mesmo local onde estivera o primeiro, ofereceram sacrifícios a Deus
segundo o que Moisés havia determinado. As nações vizinhas viram isso com
grande desprazer, por causa do ódio que lhe votavam. Os judeus celebraram
também nesse mesmo tempo a festa dos Tabernáculos, segundo fora instituída
anteriormente: fizeram as oblações e os sacrifícios que se deviam fazer todos
os dias, como também os dos sábados, das festas sagradas e das solenidades
ordinárias. Os que haviam feito votos cumpriram-nos, oferecendo sacrifícios
depois da lua nova do sétimo mês.
Começaram depois a trabalhar na construção do Templo, sem
lastimar a despesa necessária para o pagamento e a alimentação dos operários.
Os sidônios enviaram, com bastante agrado, grandes vigas de cedro, que haviam
cortado nas florestas do monte Líbano e ligado umas às outras, fazendo-as
flutuar nas águas do mar até o porto de Jope, como Ciro e Dario haviam determinado.
Depois de no segundo mês do segundo ano lançarem os
alicerces do Templo, começaram, no dia primeiro de dezembro, a construir a
parte superior. Todos os levitas com vinte anos ou mais, e Jesua, com os seus
três filhos e seus irmãos, e Cadmiel, irmão de Judá, filho de Aminadabe, com os
seus filhos, que haviam sido encarregados da direção dessa obra, nela
trabalharam com tanto empenho e solicitude que a concluíram muito antes do
esperado. Então os sacerdotes, revestidos de seus vestes sacerdotais, marcharam
ao som de trom-betas, enquanto os levitas e os descendentes de Asafe cantavam
em louvor a Deus hinos e salmos compostos pelo rei Davi. Os mais antigos do
povo, que haviam contemplado a magnificência e a riqueza do primeiro templo,
conside-rando o quanto esse estava longe de igualá-lo e julgando assim a grande
diferença entre a sua prosperidade no passado e a presente, sentiram tão
profunda dor que não puderam reter as lágrimas e soluços. O povo em geral,
porém, ao qual somente o presente podia impressionar, não fazia tal comparação.
Estava tão contente que as queixas de uns e os gritos de júbilo de outros
impediam que se ouvisse o som das trombetas.
442. Essa notícia chegou até Samaria, e os habitantes dessa
cidade vieram indagar o que se passava. Ao saber que os judeus, regressando do
cativeiro da Babilônia, haviam reconstruído o Templo, rogaram a Zorobabel, a
Jesua, sumo sacerdote, e aos principais das tribos que lhes permitissem
contribuir para aquelas despesas, dizendo que adoravam o mesmo Deus e que não
tinham outra religião desde que Salmaneser, rei da Assíria, os trouxera da
Chutéia e da Média para morar em Samaria. Todos de comum acordo responderam que
não podiam fazer o que desejavam, porque Ciro e Dario haviam permitido que só
eles, os judeus, reconstruíssem o Templo, mas que isso não impediria que eles e
todos os de sua nação viessem adorar a Deus, o que podiam fazer com toda a
liberdade.
Os chuteenses (pois é assim que chamamos os samaritanos)
ficaram tão ofendidos com essa resposta que persuadiram os sírios e seus
governados a empregar, para impedir a construção do Templo, os mesmos meios de
que se haviam servido outrora, nos tempos de Ciro e de Cambises, acrescentando
que não havia um momento a perder, por causa da pressa com que os judeus trabalhavam
naquela obra. Naquele mesmo tempo, Sisina, governador da Síria e da Fenícia,
acompanhado por Sarabazam e por alguns outros, veio a Jerusalém e perguntou aos
principais dos judeus quem lhes permitira reconstruir o Templo, fazendo-o tão
robustecido que mais parecia uma fortaleza, e também cercar toda a cidade com
muralhas tão espessas.
Zorobabel e o sumo sacerdote responderam que eram servidores
do Deus Todo-poderoso; que o Templo fora outrora construído em sua honra por um
de seus reis, que era um dos mais bem-aventurados príncipes do mundo, ao qual
nenhum outro jamais se igualara em sabedoria e em inteligência; que aquele
soberbo edifício fora conservado intacto durante vários séculos; que seus
antepassados, tendo desgostado a Deus com os seus pecados, haviam permitido que
Nabucodonosor, rei de Babilônia e da Caldéia, tomasse a cidade e a destruísse e
incendiasse, bem como ao Templo, depois de retirar dele tudo o que existia de
mais precioso, e levasse o povo escravo para a Babilônia; que Ciro, depois rei
da Pérsia e da Babilônia, ordenara expressamente, por cartas escritas a esse
respeito, que se reconstruísse o Templo e que depois de terminado se levassem
para lá os vasos sagrados que haviam sido dele retirados e que os confiara a
Zorobabel e a Mitredate, seu tesoureiro-mor; que antes, para apressar a
construção do Templo, havia mandado Abazar a Jerusa-lém, o qual então já lhe
lançara os alicerces; que desde então somente as nações inimigas haviam feito
esforços para impedir os trabalhos; e que, como prova daquela afirmação, ele
precisava apenas escrever ao rei, para que este lhe mostrasse nos registros dos
reis precedentes se tudo não se havia passado como estavam dizendo.
Sisina e os que o acompanhavam ficaram satisfeitos com essas
razões e não impediram a continuação dos trabalhos, mas indagaram antes da
vontade do rei e para isso lhe escreveram. No entanto os judeus temiam que esse
príncipe se arrependesse da permissão concedida, porém os profetas Ageu e
Zacarias disseram-lhes que nada temessem, nem de Dario nem dos persas, porque
estavam informados da vontade de Deus sobre aquele assunto. Assim,
tranqüilizaram-se e continuaram a trabalhar com o mesmo ardor. Os samaritanos
ou chuteenses não deixa-ram, por sua vez, de escrever ao rei Dario, contando que
os judeus fortificavam a sua cidade e construíam um templo que mais parecia uma
fortaleza que um lugar destinado ao culto a Deus. E, para testemunhar ao rei o
quanto aquilo lhe seria prejudicial, mandaram-lhe as cartas do rei Cambises
pelas quais ele havia proibido a continuação daquelas obras, pois não as
julgava proveitosas para o seu serviço.
Quando Dario recebeu essas cartas e as de Sisina, mandou
procurar os registros dos reis. Encontraram um deles no castelo de Ecbátana, na
Média, onde estava escrito assim: "O rei Ciro ordenou no primeiro ano de
seu reinado que se construísse em Jerusalém um templo de sessenta côvados de
altura e outros tantos de largura, com três ordens de pedras polidas e uma da
madeira que se encontra naquele país; que se edificasse um altar naquele
templo; que tudo seria feito às suas expensas; que os vasos sagrados retirados
por Nabucodonosor seriam levados para lá; e que Abazar, governador da Síria e
da Fenícia, e os oficiais da província tomariam o cuidado de mandar prosseguir
a obra sem no entanto ir a Jerusalém, porque os judeus, que eram servidores de
Deus, e seus príncipes deveriam assumir a direção. Seria suficiente ajudá-los
com o dinheiro que se obteria dos tributos das províncias e dar-lhes para os
seus sacrifícios touros, carneiros, cordeiros, cabritos, farinha, óleo, vinho e
todas as outras coisas que os sacerdotes lhes pedissem, a fim de que rogassem
pela prosperidade dos reis e pelo império dos persas. E, se alguém se atrevesse
a desobedecer a essa ordem, que fosse crucificado e tivesse todos os seus bens
confiscados. A isso acrescentou uma imprecação que atingiu a todos os que
quisessem impedir a construção do Templo. Ele rogava a Deus que fizesse
desencadear sobre eles a sua justa vingança, para castigá-los por tal impiedade".
Dario, tendo visto os registros de Ciro, escreveu a Sisina e
aos seus outros oficiais o que segue: "O rei Dario a Sisina,
lugar-tenente-general de nossa cavalaria, a Sarabazam e aos outros
governadores, saudação. Mandamo-vos a cópia das ordens do rei Ciro que
encontramos nos seus registros e queremos que o que elas contêm seja
rigorosamente executado. Adeus!" Sisina e os outros aos quais era
endereçada essa carta, tendo conhecido a intenção do rei, nada esqueceram, no
que dependia deles, para executá-la e ajudaram os judeus com todas as suas
forças para que pudessem continuar as obras do Templo.
Com esse auxílio, as obras progrediram e, pelo entusiasmo
que as profecias de Ageu e de Zacarias continuavam a dar ao povo, o Templo foi
terminado ao fim de sete anos, no nono ano do reinado de Dario e no vigésimo
terceiro dia do décimo primeiro mês a que chamamos adar, e os macedônios,
distro. Os sacerdotes, os levitas e o resto do povo deram graças a Deus por
lhes permitir recuperar a antiga felicidade depois de tão longo cativeiro e por
lhes dar o novo Templo. Ofereceram-lhe em sacrifício cem touros, duzentos
carneiros, quatrocentos cordeiros e doze bodes pelos pecados das doze tribos.
Os levitas escolheram entre eles alguns porteiros, para distribuí-los por todas
as portas do Templo, segundo ordenava a lei de Moisés.
A festa dos Pães Ázimos aproximava-se e devia ser celebrada
no primeiro mês, a que os macedônios denominam xântico, e nós, nisã. O povo das
aldeias e das cidades veio a Jerusalém com as suas mulheres e filhos e, depois
de se haverem purificado, ofereceram o cordeiro pascal no décimo quarto dia da
lua do mesmo mês, segundo o costume de nossos antepassados. Passaram sete dias
em banquetes de regozijo, sem deixar de oferecer a Deus os holocaustos e de
agradecer-lhe por haver tocado o coração do rei, que lhes permitira regressar
ao seu país.
Estabeleceram em seguida uma nova forma de governo
aristocrático, no qual os sumos sacerdotes tiveram sempre autoridade soberana,
até que os hasmoneus chegaram à realeza e assim os judeus tornaram a entrar no
governo monárquico, sob o qual tinham vivido durante quinhentos e trinta e dois
anos, seis meses e dez dias, desde Saul e Davi até o cativeiro. Antes também
haviam sido governados durante mais de quinhentos anos, desde Moisés e Josué,
por aqueles aos quais davam o nome de juizes.
No entanto os samaritanos, que além do ódio e da inveja que
tinham de nossa nação, não podiam tolerar a obrigação de contribuir com as
coisas necessárias para os nossos sacrifícios e além disso se vangloriavam de
ser do mesmo país que os persas, não deixavam do mesmo modo de nos fazer todo o
mal que podiam. E os governadores da Síria e da Fenícia não perdiam ocasião
alguma de secundá-los em seus desígnios. O senado e o povo de Jerusalém,
vendo-os tão animados con-tra si, resolveram enviar Zorobabel e quatro outros
dos mais ilustres a Dario para se queixar dos samaritanos.
Logo que esse príncipe escutou os deputados, mandou que lhes
dessem cartas endereçadas aos principais oficiais de Samaria, cujas palavras
são estas: "O rei Dario a Tangar e Sembabe, que comandam a cavalaria em
Samaria, e a Sadrague, Bobelom e outros, que estão encarregados dos nossos
negócios nesse país, saudação. Zorobabel, Ananias e Mardoqueu, deputados pelos
judeus junto de nós, queixaram-se das dificuldades que lhes moveis na
construção do Templo e de que recusais contribuir para os sacrifícios com
aquilo que ordenamos. Escrevemo-vos esta carta a fim de que logo que a tenhais
recebido não deixeis de cumprir as vossas obrigações e de tomar para esse fim,
no nosso tesouro proveniente dos tributos da Samaria, tudo o que os sacerdotes
de Jerusalém tiverem necessidade, porque a nossa intenção é que não se deixe de
oferecer sacrifícios a Deus pela nossa prosperidade e pela do império dos
persas".
Que o Santo Espirito do Senhor, ilumine
o nosso entendimento
Não perca tempo, Indique esta maravilhosa
Leitura
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