História De Israel – Teologia 31.280
Vida de Flávio Josefo
Escrita por Ele mesmo Parte 4
no exercício do meu cargo, não me contento de apresentar
três testemunhas; eu apresento todos os que vedes diante de vós. Interrogai-os
sobre minhas ações e eles vos dirão se encontraram algo de repreensível em mim.
E vós todos, acrescentei, dirigindo-me aos galileus, o maior prazer que me
poderíeis dar, é não dissimular a verdade, mas declarar corajosamente diante
desses senhores, como se eles fossem nossos juizes, se eu cometi alguma ação
digna de reprovação, no exercício do meu cargo."
Depois de ter assim falado, todos, a uma voz, disseram que
eu era seu benfei-tor e defensor, afirmaram que aprovavam todos os meus atos e
rogaram-me que continuasse a governá-los como tinha feito até então, afirmando
todos com juramento, que eu jamais tinha permitido que se atentasse à honra de
suas esposas, nem lhes havia causado desprazer algum. Li depois, em voz bem
alta, que todos os galileus puderam ouvir, as duas cartas de Jônatas, que
tinham sido interceptadas e em que me acusavam, por pura calúnia, de ter agido
mais como tirano do que como governador. E como não queria que eles soubessem
como elas tinham vindo parar em minhas mãos, para que continuassem a escrever,
disse que os mesmos mensageiros mas haviam entregue. Estas cartas irritaram de
tal modo toda aquela multidão, contra Jônatas e seus colegas, que se lançaram
sobre eles e os teriam sem dúvida matado, se eu a não tivesse impedido. Eu
disse a Jônatas que perdoava tudo o que tinha feito contra mim, contanto que
mudassem de proceder e voltassem a Jerusalém, para dizer aos que o haviam
mandado, de que maneira eu havia procedido no meu cargo. Eles prometeram-no e
os despedi, embora não duvidasse de que me faltariam à palavra dada. O furor do
povo porém, continuava, e todos me pediam que permitisse castigá-los; embora
procurasse, com todas as minhas forças, moderar-lhes a cólera e persuadi-los a
perdoá-los, fazendo-lhes ver que não há sedição que não seja prejudicial ao
povo, eles queriam a todo custo atacar a residência de Jônatas.
Vendo, então, que já não estava mais em mim contê-los,
montei a cavalo e ordenei-lhes que me seguissem a Sogam, aldeia da Arábia,
longe do lugar onde eu estava uns vinte estádios e assim consegui impedir que
me acusassem de ter começado uma guerra civil. Chegando a Sogam, mandei minhas
tropas fazer alto, e depois de os ter avisado de que não se deixassem levar
facilmente pela cólera, eu disse a uns cem dos mais ilustres dos galileus, pela
condição como pela idade, que se preparassem para ir a Jerusalém, a fim de
denunciar os que perturbavam a província; disse-lhes ainda que fizessem o povo
compreender a razão, sendo preciso levá-los a escrever-me cartas pelas quais me
confirmariam no governo da Galileia e ordenariam a João que se afastasse. Eles
partiram três dias depois com estas ordens e dei-lhes quinhentos soldados para
acompanhá-los. Escrevi também a alguns dos meus amigos da Samaria para que
cuidassem da sua segurança durante a viagem, pois aquela cidade já estava
sujeita aos romanos e como aquele caminho era o mais curto, eles não teriam
podido, se não o tivessem tomado, chegar a Jerusalém dentro de três dias. Eu os
conduzi até a fronteira, coloquei guardas nas estradas para impedir que se
pudesse temer algo com sua partida e fiquei alguns dias em Jafa.
Jônatas e seus colegas, vendo que todos os seus desígnios
lhes haviam saído tão mal, mandaram João a Giscala e foram a Tiberíades, na
esperança de se assenhorear dela, porque Jesus, que então lá exercia a soberana
magistratura, lhes havia prometido persuadir o povo a recebê-los e submeter-se
a eles. Sila, que lá eu havia deixado como meu lugar-tenente, avisou-me logo do
que se passava e insistiu que eu voltasse imediatamente; fazendo-o, expus-me a
um grande perigo, pelo fato que passo a narrar: Jônatas e seus colegas, que já
haviam chegado a Tiberíades, onde haviam levado vários dos habitantes que não
me apreciavam, a se revoltar contra mim, ficaram muito admirados pela minha
chegada; vieram ter comigo e depois de ter-me saudado, disseram-me que se
regozijavam com a honra que eu havia conquistado pela maneira como havia
procedido no meu cargo, que nela tinham parte, como meus concidadãos.
Protestaram em seguida que minha amizade lhes era muito mais importante do que
a de João e rogaram-me que voltasse com garantia que me davam de entregá-lo mui
breve em minhas mãos. Confirmaram-no com juramentos tão terríveis e tão
sagrados entre nós, que eu julguei, em consciência, dever prestar-lhes fé; e,
para que eu não julgasse estranho, eles insistiram tanto no meu afastamento,
disse-ram-me que o dia de sábado se aproximava e eles desejavam impedir que
acontecesse alguma perturbação no meio do povo.
Como de nada desconfiava, retirei-me para Tariquéia, mas
deixei na cidade algumas pessoas com o encargo de observar tudo o que se diria
de mim e o comunicassem aos que eu havia deixado em vários lugares, pelo
caminho que vai de Tiberíades a Tariqueia, a fim de me darem a notícia com a
máxima rapidez. No dia seguinte, todo o povo se reuniu num lugar bastante amplo
que era destinado à oração. Jônatas também lá estava e, não ousando falar
abertamente de revolta, contentou-se em dizer que a cidade precisava mudar de
governador. Mas Jesus, que era o principal magistrado, acrescentou, sem nada
dissimular, que lhes era muito mais vantajoso obedecer a quatro pessoas do que
a uma só, tanto mais que as quatro eram de origem ilustre e de singular
prudência; e, assim falando, mostrava Jônatas e os colegas; Justo louvou esse
conselho e atraiu alguns dos habitantes à sua opinião.
No entanto, o povo não participou desses sentimentos e teria
sucedido certamente uma revolta, se a sexta hora do dia, que no sábado nos
obriga a ir cear, não tivesse soado. A assembléia foi transferida para o dia
seguinte e os deputados regressaram sem nada ter obtido. Logo que eu soube do
ocorrido, resolvi ir bem cedo a Tiberíades; partindo de Tariqueia ao despontar
do dia, achei o povo já reunido no oratório, sem saber porque lá se encontrava.
Jônatas e seus colegas, muito surpreen-didos por me verem, fizeram correr o
boato de que a cavalaria romana tinha aparecido perto de Homonea, distante
apenas trinta estádios da cidade. Clamaram, então, que não se devia tolerar que
os inimigos viessem, à vista de todos, saquear os campos. Isso diziam com o fim
de me obrigar a sair para socorrer os habitantes da planície e ficar senhores
da cidade, conquistando, com meu prejuízo, o afeto dos habitantes. Facilmente
compreendi o ardil, e fiz o que eles desejavam, para não dar motivo aos de
Tiberíades de dizer que eu me descuidava da sua segurança.
Saí, pois, rapidamente e vi que não havia o menor indício do
boato que eles haviam feito correr. Voltei logo e achei o Senado e o povo já
reunidos, e jônatas fazia um discurso inflamado contra mim, dizendo que eu
desprezava o cuidado da guerra e só pensava em me divertir. Para isso,
apresentava quatro cartas que ele afirmava ter recebido dos galileus das
fronteiras, pelas quais lhe pediam um auxílio urgente contra os romanos, que
ameaçavam entrar, dentro de três dias, em seu país com um grande número de soldados
de infantaria e de cavalaria. Os de Tiberíades facilmente acreditaram nessa
acusação e se puseram a gritar que não havia tempo a perder, para que eu fosse
remediar imediatamente a um perigo tão grave.
Embora eu bem compreendesse o desígnio de Jônatas, não
deixei de dizer que estava pronto para marchar, mas, que as quatro cartas que
ele havia apresentado, tendo sido escritas de quatro lugares igualmente
ameaçados, seria necessário distribuirmos todas as nossas tropas em cinco
corpos, que seriam comandados pelos deputados de Jerusalém respectivamente,
pois, tão valentes como eles eram, deviam ajudar a república também com suas
pessoas, bem como com seus conselhos. Esta proposta agradou a todo o povo que
insistia que a executássemos. Os deputados, ao contrário, ficaram muito
perturbados, por verem que eu havia novamente posto por terra seus projetos. A
esse respeito, Ananias, um deles, homem muito mau e muito astucioso, propôs
publicar-se um jejum para o dia seguinte e que cada qual se dirigisse sem armas
ao mesmo lugar, à mesma hora, para mostrar que nada eles poderiam fazer sem o
auxílio e a assistência de Deus. Isso não dizia por zelo pela religião, mas
para me desarmar e a todos os meus. Eu fui, no entanto, obrigado a consentir,
para que não parecesse que desprezava o que parecia ser grande demonstração de
piedade.
Logo que se dissolveu a assembléia, Jônatas e seus colegas
escreveram a João, para que viesse ter com eles no dia seguinte, com o maior
número possível de soldados para me prender e assim conseguir o que ele
desejava, naquela fácil contingência. Estas cartas muito o alegraram e ele
procurou pôr-se em condições de executar tal projeto. No dia seguinte, eu disse
a dois dos meus guardas, mui valentes e mui fiéis, que escondessem espadas
curtas sob as vestes e me acompanhassem, a fim de que, se fosse necessário,
pudéssemos nos defender dos inimigos. Tomei também uma couraça e uma espada que
não se viam e fui ao lugar onde se haviam reunido. Chegando com meus amigos,
Jesus, que estava à porta, não permitiu a nenhum dos meus entrar e, quando se
ia começar a oração, ele me perguntou o que eu havia feito dos móveis e do
dinheiro, não em moedas, que haviam tomado no palácio do rei, quando o haviam
incendiado; isso ele fazia apenas para ganhar tempo, até que João chegasse. Eu
respondi que havia entregue tudo a Capella e a dez dos principais habitantes de
Tiberíades e que podia perguntar-lhes se eu não estava dizendo a verdade.
Capella e os outros afirmaram que era mesmo assim. Jesus perguntou-me em
seguida o que eu havia feito de vinte peças de ouro que havia tirado de alguns
móveis que tinha posto à venda. Respondi que as havia fornecido àqueles que
mandara a Jerusalém, para as despesas de sua viagem. Jônatas e seus colegas
disseram, então, que eu havia feito mal, pagando-as, às expensas do público.
Tão grande malícia irritou o povo; quando vi que ele estava prestes a se
rebelar, disse para incitá-lo ainda mais que se eu tinha feito mal em dar
aquelas vinte peças de ouro do dinheiro público, me prontificaria a pagar do
meu, para que eles terminassem as suas queixas. Estas palavras fizeram ver até
que ponto chegava a sua injustiça contra mim e o povo fremiu ainda mais; quando
Jesus viu que esse assunto tomava um rumo totalmente contrário ao que eles
haviam esperado, ordenou ao povo que se retirasse e disse que somente o Senado
deveria ficar, porque essa espécie de assunto não devia ser tratada de forma
tumultuada.
O povo, porém, disse que não me queria deixar sozinho com
eles, e nesse momento um homem veio dizer baixinho a Jesus que João já estava
perto com suas tropas. Jônatas não pôde mais se conter, e Deus assim o fez,
talvez, para me salvar, pois de outro modo não poderia ter evitado minha morte,
nas mãos de João. "Deixai", disse ele, "habitantes de Tiberíades,
de vos incomodar por causa dessas vinte peças de ouro, porque não é por esse
motivo que Josefo merece ser morto; é porque ele vos engana e tornou-se vosso
tirano." Dizendo estas palavras, ele e os de seu partido fizeram menção de
me matar. Mas os que tinham vindo comigo, sacaram das espadas, e o povo pegou
em pedras para atacar Jônatas e tiraram-me das mãos dos meus inimigos. Quando
me retirava, vi chegar João com os seus; alcancei o lago por um caminho
escondido, subi a uma barca e salvei-me, dirigindo-me para Tariquéia, escapando
assim de um grave perigo.
Reuni imediatamente os principais da Galiléia e disse-lhes
de como, contra toda espécie de justiça, pouco faltara que Jônatas e os de seu
partido não me tivessem assassinado. Eles ficaram tão irritados, que me rogaram
não demorasse mais em levá-los contra eles e permitisse que exterminassem a
João, a Jônatas e a todos os colegas. Eu os retive, dizendo que antes de pegar
em armas, era preciso esperar a volta daqueles que havia mandado a Jerusalém, a
fim de nada se fazer sem o seu consentimento. No entanto, João, vendo que seu
plano havia falhado, voltara a Giscala.
Pouco tempo depois, os que havia mandado a Jerusalém
voltaram e me disseram que o povo tinha achado muito mal que o sumo sacerdote
Anano e Simão, filho de Gamaliel, tivessem, sem sua participação, mandado
deputados à Galiléia para me destituir do cargo e que pouco faltara para que
eles incendiassem as casas. Entregaram-me também as cartas pelas quais os
principais da cidade, com a autoridade e o consentimento do povo,
confirmavam-me no governo e ordenavam a Jônatas e aos seus colegas que
voltassem. Depois que recebi estas cartas, fui a Arbella, onde havia mandado
que se reunissem, e lá meus enviados me contaram de que modo o povo de
Jerusalém, irritado com a maldade de Jônatas, me havia mantido no cargo e lhe
havia ordenado que se retirasse com seus colegas. Mandei em seguida a estes
quatro deputados as cartas que lhes seriam dirigidas, e ordenei ao que disso
fora encarregado, que observasse a atitude deles. Eles ficaram terrivelmente
perturbados e mandaram logo chamar a João. Reuniram-se, em seguida, com o
Senado de Tiberíades e os principais de Gabara, a fim de deliberar sobre o que
haveriam de fazer. Os de Tiberíades foram de opinião que Jônatas e seus colegas
deviam continuar a se ocupar do governo, para não abandonar uma cidade que se
havia entregado às suas mãos, e isso tanto mais porque eu tinha me resolvido a
atacá-los, o que eles afirmavam falsamente. João aprovou esse parecer e
acrescentou que era necessário mandar dois dos deputados a Jerusalém para me
acusarem diante do povo de ter governado mal a Galiléia. Que seria muito fácil
persuadi-lo disso, quer pela consideração de sua qualidade, quer pela
leviandade que lhe é tão natural.
Todos aprovaram esta proposta. Jônatas e Ananias partiram
imediatamente; seus dois colegas ficaram em Tiberíades, onde lhes deram cem
homens para sua guarda. Os habitantes puseram-se em seguida a trabalhar na
reparação das muralhas, tomaram as armas e mandaram pedir tropas a João, em
Giscala, para se servirem delas, em caso de necessidade, contra mim.
Jônatas e os que o acompanhavam chegaram a Darabite, pequena
aldeia situada no Campo Grande, nas fronteiras da Galiléia; os meus homens,
postados nas estradas, prenderam-nos, obrigaram-nos a deixar as armas e os
conservaram prisioneiros, naquele mesmo lugar. Levi, que comandava esses
homens, escreveu-me logo, narrando tudo. Eu dissimulei-o durante dois dias, e
mandei dizer aos de Tiberíades que deixassem as armas e que fizessem voltar
para sua cidade os que eles haviam mandado vir em seu socorro. Na persuasão e
na esperança de que Jônatas já tinha chegado a Jerusalém, eles só me
responderam com injúrias. Julguei, no entanto, dever continuar a agir, mais
pela astúcia do que pela força, a fim de não me tornar culpado de ter ateado
uma guerra civil.
Assim, para atraí-los para fora dos muros, tomei dez mil
homens escolhidos e os dividi em três corpos. Ordenei a uma parte que ficasse
na aldeia de Domez; coloquei mil numa vilazinha que está na montanha, longe
quatro estádios de Tiberíades, com ordem de só partir depois que eu lhes
houvesse dado o sinal, e avancei, com um outro corpo, à vista de Tiberíades. Os
habitantes saíram, fizeram várias incursões contra meus soldados e empregaram
palavras ofensivas contra mim. Sua imprudência foi mesmo tão longe que eles
mandaram buscar um esquife e fingiam, por zombaria, chorar a minha morte. Eu,
porém, em meu coração, zombava de sua loucura. Como eu tinha ainda a intenção
de me apoderar de João e de Joasar, os outros dois colegas de Jônatas, que
tinham ficado em Tiberíades, eu lhes disse que avançassem para fora da cidade,
com seus amigos e guardas que quisessem escolher para sua segurança, porque eu
desejava conversar com eles sobre os meios de entrar em algum acordo para
dividir o governo da Galiléia. Simão, animado por uma proposta tão vantajosa,
foi tão incauto que aceitou; Joasar, ao contrário, desconfiando de que haveria
aí alguma intenção falsa não caiu na cilada. Eu fiz grandes reverências a Simão
e aos amigos, por terem vindo; e tendo-o afastado pouco a pouco de seus homens,
com o pretexto de lhe dizer alguma coisa em segredo, agarrei-o, e o entreguei
aos meus, que o levassem àquela aldeia onde eu tinha soldados escondidos. Dei-lhes
depois o sinal e marchei para Tiberíades. Começou então o combate. Foi muito
renhido. Os meus estiveram a ponto de fugir, se eu não lhes houvesse dado mais
coragem. Finalmente, depois de termos corrido o risco de uma derrota, obriguei
os inimigos a voltar para a cidade.
No entanto, alguns daqueles que eu havia enviado pelo lago,
com ordem de incendiar a primeira casa que tomassem, executaram essa ordem, e
os habitantes imaginaram que a cidade havia sido tomada de assalto, depuseram
as armas e rogaram-me, com suas mulheres e filhos, que os perdoasse. Eu o fiz,
e detive o furor dos soldados. A noite chegava rapidamente; mandei então tocar
a retirada e fiz trazer Simão para jantar comigo, consolei-o e prometi dar-lhe
liberdade e levá-lo em segurança até Jerusalém, com tudo o de que ele teria
necessidade para a viagem.
Entrei no dia seguinte com dez mil homens armados em
Tiberíades e mandei vir à praça os principais da cidade, aos quais ordenei que
declarassem quais haviam sido os autores da revolta. Eles o fizeram e eu os
mandei manietados a Jotapate. Quanto a Jônatas e aos seus colegas, mandei
levá-los com uma escolta a Jerusalém, provendo tudo o que era necessário para
sua viagem. Os habitantes de Tiberíades vieram uma segunda vez rogar-me que
esquecesse os motivos que tinha de me queixar deles, garantindo-me que
reparariam, pela fidelidade, às faltas cometidas no passado, rogando-me que
mandasse restituir o que havia sido roubado. Ordenei logo que trouxessem à
grande praça tudo o que tinha sido tomado. Como os soldados sentiam dificuldade
em se decidir a isso, eu lancei os olhos sobre um deles, que estava muito mais
bem vestido do que de costume e perguntei-lhe onde havia adquirido aquela
veste; ele confessou que a havia roubado. Ordenei que o espancassem e ameacei
tratar os outros ainda mais severamente se não restituíssem tudo o que haviam
pilhado. Obedeceram, então, e eu mandei restituir a cada um dos habitantes o
que lhe pertencia.
Creio dever informar neste ponto a má fé de justo e dos
outros que, tendo falado deste mesmo assunto nas suas histórias, não tiveram
receio, para satisfazer à própria paixão e ódio, de expor aos olhos da
posteridade os fatos de uma maneira bem diferente da que na verdade eles se
passaram. Em nada eles diferem dos que falsificam os atos públicos, senão
nisto, que tendo resolvido tornar-se ilustre, escrevendo esta guerra, disse de
mim muitas coisas falsas e não foi mais verdadeiro no que se refere ao seu
próprio país. E o que me obriga agora, para desmenti-lo, a relatar o que havia calado
até aqui, e não nos devemos admirar por ter diferido tanto, pois, ainda que um
historiador seja obrigado a dizer a verdade, ele pode não se deixar levar
contra os maus; não que eles mereçam ser favorecidos, mas para permanecermos
nos termos de uma sábia moderação. Assim, Justo, que pretendeis ser o
historiador a quem mais se deve prestar fé, dizei-me, rogo-vos, como é possível
que os galileus e eu tenhamos sido causa da revolta do vosso país contra os
romanos e contra o rei, pois que antes que a cidade de Jerusalém me tivesse
mandado como governador à Galiléia, vós e os de Tiberíades tínheis já tomado as
armas e feito guerra aos da província de Decápolis, na Síria? Podeis negar que
não incendiastes suas aldeias e que um dos vossos lá não foi morto, do que eu
não sou o único a testemunhar, porque tudo isso se encontra mesmo nos
comentários do imperador Vespasiano, onde se vê que quando ele estava em
Ptolemaida, os habitantes de Decápolis rogaram-no que vos castigasse como autor
de todos os seus males e ele o teria feito, sem dúvida, se o rei Agripa, a quem
fostes entregue para que se fizesse justiça, não vos tivesse perdoado a rogo da
sua irmã Berenice, o que não impediu que ficásseis por muito tempo na prisão?
Mas as vossas outras ações fizeram também claramente
conhecer qual tínheis sido durante toda a vossa vida e que fostes vós que
levastes vosso país a se revoltar contra os romanos, como eu o farei ver com
provas assaz convincentes. Acho-me agora obrigado, por vossa causa, a acusar os
outros habitantes de Tiberíades e a mostrar que vós não fostes fiéis nem ao rei
nem aos romanos. Séforis e Tiberíades, de onde sois originários, são as maiores
cidades da Galiléia. A primeira, que está situada no meio do país e que tem em
redor de si várias aldeias que dela dependem, resolveu permanecer fiel aos
romanos, embora pudesse facilmente ter se revoltado contra eles, jamais me quis
receber, nem tomar as armas pelos judeus. Mas no temor que seus habitantes
tinham de mim, eles me surpreenderam com seus artifícios e me levaram mesmo a
construir-lhes muralhas. Receberam depois, de boa mente, a guamição de Céstio
Galo, governador da Síria, pelos romanos e me recusaram a entrada em sua
cidade, porque nem mesmo nos ajudar durante o cerco de Jerusalém, embora o
Templo que lhes era comum conosco estivesse em perigo de cair nas mãos dos
inimigos, tanto eles temiam parecer tomar as armas contra os romanos.
Que o Santo Espirito do Senhor, ilumine
o nosso entendimento
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