História De Israel – Teologia 31.278
Vida de Flávio Josefo
Escrita por Ele mesmo Parte 2
aumentaram ainda mais a inveja de João. Ele escreveu-me
pedindo permissão para ir a Tiberíades tomar banhos quentes, de que estava
necessitando para sua saúde. Como não imaginava que ele tinha má intenção, não
somente lho permiti, mas ordenei aos magistrados que lhe preparassem um
aposento, a ele e aos seus companheiros, e lhes fornecessem em abundância tudo
o que lhes fosse necessário. Eu estava então em Canaã, cidadezinha da Galileia;
apenas João chegou a Tiberíades, procurou logo induzir os habitantes a
faltar-me à fidelidade e a se separarem de mim, para passar ao seu partido.
Vários dentre eles, propensos à revolução, escutaram com prazer essa proposta,
principalmente Justo e Pisto, seu pai; mas eu tornei inútil o seu mau intento. Silas,
que eu havia dado por governador aos de Tiberíades, man-dou com grande rapidez
avisar-me do que se passava e insistiu que eu me apressasse, se não quisesse,
pela minha demora, deixar cair aquela cidade em poder de outro. Tomei
imediatamente duzentos homens, caminhei durante toda a noite e mandei avisar os
de Tibenades acerca de minha chegada.
No dia seguinte, ao raiar da aurora, eu estava perto da
cidade; os habitantes vieram ter comigo, e João com eles; cumprimentou-me com o
rosto espantado e temendo que o mandasse matar, se viesse a saber da sua
perfídia, retirou-se para o seu aposento. Chegando à praça dos exercícios,
conservei comigo apenas um homem e dez soldados. Subi a um lugar elevado e
disse ao povo quanto lhe era necessário manter a fidelidade, pois do contrário
eu não poderia mais confiar nele, e que se arrependeriam um dia de ter faltado
ao seu dever. Enquanto falava, um dos meus amigos avisou-me que me retirasse,
pois não era aquele o tempo mais apropriado para granjear a benevolência do povo,
mas para me salvar de suas mãos, pois João tendo sabido que eu estava quase
sozinho, tinha escolhido, entre os mil homens que comandava, aqueles em quem
mais confiava e os mandara com ordem de me matar.
Com efeito, aqueles assassinos já estavam perto e teriam
executado seu perverso intento, se eu não me tivesse afastado prontamente, com
o auxílio de um dos meus guardas, de nome Jacó, e de um homem de Tiberíades,
chamado Herodes, que me fizeram descer e me acompanharam até o lago. Ali, por
felicidade, encontrei uma barca que me levou a Tariquéia; assim, pude frustrar
as esperanças dos meus inimigos. Os habitantes da cidade sentiram tanto horror
pela traição dos de Tiberíades que tomaram logo as armas e insistiram comigo
que os levasse contra eles, para se vingar de tal perfídia, e mandaram contar a
toda a Galiléia tudo o que se tinha passado, convidando todos a se juntarem a
eles e a marcharem sob meu comando. Esses povos reuniram-se em grande número
junto de mim e todos me rogaram que fosse atacar Tiberíades, que a destruísse
inteiramente, vendesse em leilão todos os homens, as mulheres e as crianças;
meus amigos, que haviam escapado do mesmo perigo, aconselhavam-me a mesma
coisa. Mas o medo de atear uma guerra civil impediu-me que tomasse tal decisão.
Julguei que era melhor acomodar a situação e lhes mostrei o mal que fariam a si
mesmos, se quando os romanos viessem, os encontrassem divididos, a matarem-se
uns aos outros.
Assim acalmei-lhes a cólera, e João, vendo que sua traição
lhe havia saído tão mal, fugiu assustado de Tiberíades com seus homens para se
refugiar em Ciscala. Ele me escreveu que não tivera participação no que havia
acontecido, e fazia juramentos e estranhas execrações para me levar a acreditar
em suas palavras. No entanto, um grande número de galileus veio ter comigo
armados, e como sabiam que João era mau e perjuro, rogavam-me insistentemente
que os levasse contra ele, para derrotá-lo e castigá-lo, e exterminar os de
Giscala. Eu lhes agradeci muito aquela demonstração de boa vontade e garanti
que conservaria sempre grande gratidão, mas rogava que aprovassem o meu desejo
de pacificar aquela perturbação, sem derramamento de sangue. Consegui
persuadi-los e em seguida fomos a Séforis. Seus habitantes, que temiam minha
vinda, porque estavam resolvidos a permanecer fiéis e obedientes aos romanos,
procuraram levar-me a outra parte e para isso pediram a Jesus, com oitocentos
ladrões, comandados por ele, que estavam então na fronteira de Ptolemaida, para
fazer-me guerra, a troco de grande soma de dinheiro.
Tal recompensa fê-lo aceitar a proposta, mas antes de
chegarmos às armas abertamente, ele procurou surpreender-me. Mandou dizer-me
que lhe permitisse vir cumprimentar-me. Permiti-lho, porque não desconfiava de
nada; ele se pôs em seguida a caminho, com todos os seus homens. Sua maldade,
no entanto, não teve o êxito que ele esperava. Quando já estava muito perto de
nós, um do seu bando veio avisar-me do seu intento. Então, sem dar demonstração
alguma, fui à praça pública, acompanhado de grande número de galileus armados,
entre os quais havia alguns de Tiberíades; ordenei que vigiassem todas as ruas
e encarreguei aos que estavam nas portas, que não deixassem Jesus entrar, senão
com um pequeno número e afastassem os outros; até mesmo os repelissem, à força,
se eles teimassem em querer entrar. Jesus veio, então, com apenas alguns homens
e eu lhe ordenei que deixasse as armas, se não quisesse perder a vida; quando
se viu rodeado de soldados, foi obrigado a obedecer. Os seus, que tinham ficado
do lado de fora, quando souberam que ele estava preso, fugiram. Levei-o à parte
e disse-lhe que não ignorava qual era seu intento, nem sabia quem eram seus
cúmplices, mas que lhe perdoaria, se ele me prometesse ser fiel para o futuro.
Ele me prometeu e o deixei sair, permitido-lhe reorganizar suas tropas. Quanto
aos seforitanos, declarei-lhes que, se não continuassem a obedecer, saberia
muito bem como castigá-los.
Nesse mesmo tempo, dois senhores traconitidas, súditos do
rei, vieram me procurar, armados, com cavalos e dinheiro. Os judeus não lhes
queriam permitir permanecer com eles, se não se fizessem circuncidar; mas eu
lhes disse que se devia deixar a cada qual a liberdade de servir a Deus segundo
os movimentos da própria consciência, sem usar de coação, nem dar motivo, aos
que vinham pro-curar sua segurança entre nós, de se arrepender. Assim fiz o
povo mudar de sentimentos e levei-o a dar a esses estrangeiros as coisas de que
eles tinham necessidade.
O rei Agripa mandou, nesse mesmo tempo, Equo Módio, com
grande número de soldados, para tomar o castelo de Magdala; mas ele não ousou
sitiá-lo e se contentou em perturbar Gamala, pondo soldados nas ruas. No
entanto, Ebúcio, outrora governador do Campo Grande, soube que eu estava em
Simoniada, na fronteira da Galiléia, a sessenta estádios dele. Marchou a noite
toda, para vir atacar-me com cem cavaleiros, duzentos homens de infantaria e o
socorro que lhe mandaram os de Gaba. Enviei contra ele uma parte de meus
soldados e, como ele confiava na sua cavalaria, fiz o possível para atraí-los à
luta. Mas como eu tinha somente infantaria, não lhe quis dar essa vantagem.
Assim, depois de ter valentemente resistido, quando ele viu que a posição do
lugar não lhe era favorável, regressou a Gaba, tendo perdido somente três
soldados. Eu o persegui com três mil homens até uma aldeia da fronteira de
Ptolemaida, de nome Bezara, distante vinte estádios de Gaba. Fiz colocar
guardas nas avenidas para impedir o ataque dos inimigos e mandei carregar sobre
muitos camelos, que mandara vir para esse fim, o trigo que a rainha Berenice
tinha feito reunir naquele lugar, das aldeias dos arredores e o levei à
Galiléia. Depois mandei desafiar Ebúcio para um combate; ele não ousou
aceitá-lo, tanto nossa coragem o havia deixado atônito. Dali, sem perder tempo,
marchei contra Neapolitano, que, com a cavalaria que conservava na guarnição de
Citópolis, saqueava os arredores de Tiberíades. Consegui impedir que ele
continuasse suas correrias e entreguei-me todo ao governo da Galiléia.
João, filho de Levi, que estava, como dissemos, em Giscala,
vendo que todas as coisas sucediam-se felizmente, que eu era amado pelo povo e
temido pelos inimigos, considerou a minha boa sorte como um obstáculo à sua e,
ardendo de inveja, alimentava a esperança de me poder sobrepujar instigando
contra mim o ódio do povo. Para isso procurou agradar aos de Tiberíades e de
Séforis, a fim de atrair para seu partido as três principais cidades da
Galiléia; procurou também os de Gabara, fazendo crer que eles seriam muito mais
felizes sob seu governo do que sob o meu. Mas Séforis nada quis, nem com ele
nem comigo, porque pendia toda para os romanos; Tiberíades, que achava perigoso
revoltar-se, contentou-se em prometer-lhe viver em amizade com ele. Assim, os
de Gabara foram os únicos que abraçaram seu partido, ante a insistência de
Simão, que era seu amigo e um dos principais da cidade. Eles não ousaram, no
entanto, declarar-se abertamente, porque temiam os galileus, dos quais haviam
várias vezes constatado o afeto por mim, mas esperavam a ocasião de me
surpreender com uma traição; pouco faltou, então, para que deveras isso
acontecesse, pelo fato que passo a narrar:
Alguns jovens de Dabar, muito corajosos e ousados, tendo
sabido que a mulher de Ptolomeu, intendente dos negócios do rei, atravessava o Campo
Grande com magnífica equipagem e acompanhada de alguns cavaleiros para passar
das terras do rei à província dos romanos, atacaram sua escolta; tudo o que a
senhora pôde fazer foi salvar-se enquanto eles estavam ocupados com o saque.
Depois disso, vieram procurar-me, em Tariquéia, com quatro mulas carregadas de
muitas coisas de valor, baixelas de prata, e quinhentas peças de ouro. Como
Ptolomeu era judeu e nossas leis proíbem tomar as coisas dos da nossa própria
nação, mesmo quando fossem nossos inimigos, eu quis conservar essa presa para
resti-tuí-la; com esse fim, disse àqueles moços que devíamos guardá-lo, para
vendê-lo e mandar o produto a Jerusalém, a fim de empregá-lo na reparação dos
muros da cidade. Isso irritou-os de tal modo, porque esperavam aproveitar-se de
tudo, que fizeram correr o boato, nos arredores de Tiberíades, que eu queria
colocar a província sob o domínio dos romanos; que o que eu havia dito sobre
Jerusalém era falso, e minha verdadeira intenção era restituir tudo a Ptolomeu,
e nisso eles não restavam errados. Mal haviam eles me deixado, entreguei tudo o
que haviam apanhado a Dassiom e Jane, filhos de Levi, dois dos principais
habitantes de Tariquéia, muito queridos do rei. Dei-lhes ordem de que lho
entregassem e proibi-lhes, sob pena de morte, falar a quem quer que fosse.
No entanto, espalhou-se por toda a Galiléia o boato de que
eu a queria entregar aos romanos. Decidiram matar-me; os de Tariquéia, tendo
prestado fé a essa mentira, persuadiram os meus guardas e os soldados que me acompanhavam,
a aproveitar, quando eu estivesse dormindo, para encontrar com os outros no
Hi-pódromo,* a fim de deliberarem os meios de executar o seu intento. Foram
todos e lá encontraram um grande número de pessoas já reunidas. De comum acordo
deliberaram tratar-me como traidor da República e Jesus, filho de Safias, que
então era o principal juiz de Tiberíades e um dos piores homens do mundo, dos
mais sediciosos, para incitá-los ainda mais, mostrou-lhes as Leis de Moisés,
que tinha na mão e disse-lhes: "Se não estais comovidos ante a
consideração da vossa própria salvação, pelo menos não desprezeis estas santas
Leis, que o pérfido Josefo, vosso governador, não tem receio de violar, o qual
deveria ser castigado mui severamente por ter cometido tão grande crime".
Tendo assim falado e vendo que o povo aprovava com seus
gritos o que ele dizia, tomou consigo alguns soldados e veio ao meu aposento,
com o intuito de me matar. Como nada desconfiava e estava dormindo, cansado e
fatigado, Si-mão, um dos meus guardas, que tinha ficado comigo, vendo aquele
grupo furioso, despertou-me, avisou-me do perigo em que me encontrava e
exortou-me a morrer honrosamente, matando-me antes que ser morto pelos
inimigos. Eu me recomendei a Deus, tomei uma veste negra, para me disfarçar, e
levando somente minha espada,:passei pelo meio desse grupo e fui diretamente ao
hipódromo, por um outro jcamiinbo. Lá, prostrei-me diante de todos, banhei a
terra com minhas lágrimas, para comovê-los à piedade; quando vi que começavam a
se enternecer, procurei dividi-los em seus sentimentos, antes que aqueles que
me tinham ido matar estivessem de volta. Disse-lhes que não negava ter
conservado aqueles despojos, como me acusavam; mas rogava-lhes que me ouvissem,
para saber com que fim o fizera, e se achassem que eu havia errado, poderiam
depois mandar matar-me.
Então toda a multidão ordenou-me que falasse; os que tinham
ido procurar-me chegaram naquele mesmo instante e queriam lançar-se sobre mim
mas foram contidos pela voz unânime do povo. Julgaram que, depois de ter
confessado querer entregar aqueles despojos ao rei, eu passaria por traidor e
eles poderiam executar o seu intento, sem oposição alguma. Assim, toda a
assembléia calou-se para me escutar e eu falei: "Se julgais que eu mereço
a morte, não me recuso a sofrê-la; mas permiti-me antes declarar-vos toda a
verdade. Como eu havia reconhecido que a beleza e a comodidade de vossa cidade
atraem para ela os estrangeiros de todos os lugares e muitos dentre eles
abandonam seu país para vir habitar aqui; para dividir convosco os vossos dias
de felicidade e de adversidade, eu tinha intenção de empregar esse dinheiro lá
fazendo construir muralhas". A estas palavras, os habitantes e os
estrangeiros puseram-se a gritar que todos me eram muito agradecidos e que nada
mais eu tinha a temer.
Os galileus, ao contrário, e os de Tiberíades, continuavam
com sua animosidade. Estando assim divididos, uns me ameaçavam, outros me
tranqüilizavam. Depois que prometi aos de Tiberíades e aos das outras cidades,
cuja posição o permitisse, construir-lhes também muralhas, eles prestaram fé às
minhas palavras, a assembléia se dissolveu e me retirei com meus amigos e vinte
dos meus soldados, depois de, contra toda sorte de esperança, ter escapado de
tão grande perigo. Mas os autores da sedição, que julgavam que eu me vingaria,
reuniram-se armados em número de seiscentos e marcharam para minha casa, com a
intenção de incendiá-la. Avisaram-me disso em tempo, mas, julgando que me seria
vergonhoso fugir, recorri à audácia, à coragem, para me defender. Assim, depois
de ter mandado fechar as portas, subi ao andar mais alto do edifício, de onde
lhes gritei que mandassem alguns deles receber aquele dinheiro que era a causa
do seu descontentamento e de suas queixas. Mandaram logo o mais revoltoso de
todos; eu o fiz açoitar com varas, mandei cortar-lhe uma das mãos, que lhe
penduraram ao pescoço, e o despedi nesse estado. Este ato tão ousado fê-los
acreditar que eu tinha comigo um grande número de soldados e os assustou de tal
modo, que todos fugiram. Assim, pela minha firmeza e sagacidade evitei este
segundo perigo.
Alguns outros dos mais revoltosos continuavam ainda a
incitar o povo, dizendo que era preciso matar aqueles dois senhores que se
tinham refugiado junto de mim, pois recusavam-se submeter às leis de um país
onde tinham vindo procurar sua segurança e eram envenenadores, que favoreciam o
partido dos romanos. Quando vi que o povo se deixava enganar por essas
palavras, disse-lhe que era injusto perseguir pessoas que tinham vindo procurar
asilo entre nós; que aquele envenenamento de que lhes falavam era pura
imaginação e quimera, pois os romanos não tinham necessidade de manter um
número tão grande de legiões, se podiam, com esse meio, desfazer-se de seus
inimigos. Estas palavras acalmaram-no, mas os artifícios desses perturbadores,
irritaram-no de novo, e ele foi, armado, sitiar as casas dos dois senhores, com
o fim de matá-los. Eu fui avisado disso; temendo que, se cometessem tão grande
crime, ninguém mais desejasse vir para junto de nós, resolvi ir naquele mesmo
instante, acompanhado por alguns dos meus, à casa dos estrangeiros. Mandei
também fechar as portas da casa, saindo por um canal, até o lago que estava
perto, entrei com eles numa barca e os levei até a fronteira dos ipenianos. Ali
paguei-lhes o valor dos cavalos que eles não tinham podido trazer e,
dizendo-lhes adeus, exortei-os a suportar corajosamente a infelicidade que lhes
havia sucedido.
Na verdade, tinha o coração muito pesaroso, por ser obrigado
a expor ainda uma vez, num país inimigo, pessoas que tinham vindo buscar
segurança entre nós. Julguei, no entanto, que era preferível pô-los em perigo
de morrer nas mãos dos romanos do que vê-los assassinados diante de meus olhos,
numa província que eu governava. Eles, porém, evitaram a desgraça que eu lhes
imaginava, porque o rei Agripa acalmou-se e perdoou-os.
_________________________
* Lugar onde se realizavam as corridas de cavalos.
Nesse mesmo tempo, os habitantes de Tiberíades escreveram ao
soberano e prometeram-lhe entregar-se a ele, se lhes prometesse mandar tropas
para a defesa de seu país. Logo que soube disso, fui procurá-los; como eles
sabiam que Tariquéia já tinha sido rodeada de muralhas, rogaram-me que
cumprisse a palavra que lhes havia dado, de lhes fazer o mesmo favor. Eu o fiz
e mandei buscar o material e os operários. Parti três dias depois de Tiberíades
para Tariquéia, que dista dali trinta estádios. Logo que saí, alguns cavaleiros
apareceram perto da cidade e os habitantes julgaram que eram tropas do rei;
começaram a me injuriar com toda espécie de impropérios. Um homem veio com toda
a pressa avisar-me do que se passava e acrescentou que tudo fazia prever uma
revolução. Essa notícia encheu-me de espanto, tanto mais que havia dispensado
de Tariquéia todos os meus soldados, porque o dia de sábado estava perto e
desejava que os habitantes pudessem celebrá-lo sem serem perturbados pelos
soldados; eu fazia sempre assim, naquela cidade, pela confiança que tinha no
afeto dos habitantes o qual havia tantas vezesexperimentado. Assim, tendo
comigo apenas sete soldados e alguns amigos, não sábia o que fazer. De um lado,
não via probabilidade de reunir minhas tropas na véspera de um dia errxque
nossas leis não nos permitem combater, mesmo nas ocasiões mais prementes; por
outro lado, não me achavam bastante forte, quando mesmo tivesse podido, nessa
ocorrência, servir-me dos habitantes de Tariquéia e dos estrangeiros que lá
habitavam, rogando-Ihes que me ajudassem na esperança de ricos despojos.
No entanto, esse assunto não padecia demora, pois, por pouco
que o adiasse, aqueles que, se dizia, o rei havia enviado, tornar-se-iam
senhores da cidade e me impediriam de lá entrar. Na ansiedade em que me
encontrava, dei ordem a alguns amigos meus, nos quais confiava, que montassem
guarda às portas da cidade e não deixassem ninguém sair. Mandei depois aos
principais habitantes que subissem cada qual a um barco com um barqueiro
somente para seguir-me até Tiberíades; eu também subi a um deles, com sete
soldados e alguns amigos. Os de Tiberíades, que não sabiam que eu tinha sido
avisado do que se passava, vendo que não haviam chegado tropas do rei e que
todo o lago estava coberto de barcos, que eles julgavam cheio de soldados,
ficaram tomados de tão grande temor que imediatamente mudaram de opinião; deixaram
as armas e vieram à minha presença, com suas mulheres e filhos, e desejando-me
toda sorte de prosperidade, rogavam-me que continuasse a lhes demonstrar o meu
afeto. Ordenei aos que dirigiam os barcos que me seguiam, que se detivessem
longe da terra, para que eles não pudessem perceber as poucas pessoas que
estavam dentro deles; aproximei-me da margem e dirigi severas recriminações aos
da cidade, por terem violado tão levianamente a palavra que me haviam dado.
Prometi-lhes, no entanto, perdoá-los, contanto que me enviassem dez dos
principais dentre eles, o que fizeram imediatamente. Pedi ainda mais outros
dez; e continuei a usar do mesmo ardil, até que consegui enviar a Tariquéia
todo o Senado de Tiberíades e um grande número de seus principais habitantes.
Então o povo, vendo o perigo em que se achava, rogou-me que
castigasse o autor da sedição. Era um jovem de nome Clito, muito corajoso e
muito atrevido. Fiquei muito embaraçado; pois, de um lado, não podia tomar a
decisão de mandar matar um homem da minha nação e, por outro lado, era assaz
importante dar um castigo exemplar. Nessa dificuldade, tomei logo uma das
resoluções, isto é, ordenei a Levi, um dos meus guardas, que o prendesse e lhe
cortasse uma das mãos. Como visse que ele não ousava prendê-lo, no meio de tão
grande multidão, não querendo que os de Tiberíades percebessem sua timidez,
chamei Clito e disse-lhe: "Ingrato! Pérfido! Merecestes que lhe
cortássemos ambas as mãos; sereis vós mesmo vosso algoz, se não quereis ser
castigado ainda com maior severidade". Ele então rogou-me que lhe
conservasse pelo menos uma das mãos. Eu concedi-lho, mas fingindo resolver-me a
isso, contra a vontade; no mesmo instante ele cortou a mão esquerda com a
própria espada. Assim
Que o Santo Espirito do Senhor, ilumine
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